sábado, 30 de março de 2013

OS FELICIANOS E AS JOELMAS NÃO SÃO AS ÚNICAS CAUSAS DA NOSSA DESGRAÇA

O post mais curto do sem_censor é sobre o pastor (pastor?) Marco Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, um sujeito que já demonstrou não ter a menor ciência do que são os direitos humanos e, muito menos, do que significa o termo minorias. É também sobre o depoimento da cantora (cantora?) Joelma, da Banda Calypso, que hoje comparou o homossexual a um drogado. Enfim, o breve texto de hoje é sobre essas e outras coisas que, no fundo, se convergem.

Eu sou favorável ao amor e à felicidade, seja à base de uma união homo ou hetero, e que se danem as interpretações levianas que os religiosos extraem da Bíblia. Mas não há cláusula em lei ou regimento algum (ainda bem!) que proíba um ou outro de não ser contrário à homossexualidade e ao relacionamento gay. E exigir que todos aceitem tais condições seria demasiado conservadorismo, o que contraporia a nossa tendência libertária, especialmente dos mais jovens, de aceitar as diferenças.


Em suma, o problema não é um cara aqui, uma mulher ali serem contrários à relação homoafetiva. O problema é tratar o indivíduo ou o casal gay com intolerância, agressão, desconhecimento e, por consequência, com preconceito, julgando o outro como um imoral, um doente, mas sem olhar para as próprias cretinices que comete em casa, nas ruas ou no trabalho. Ou seja, é um hipócrita.

As Joelmas – da música e da vida – só existem por intermédio de nós, assim como os Felicianos – da política e da vida. Embora favorável aos gays e às demais minorias, você é culpado pelas opiniões lamentáveis dos dois. E eu também.

sexta-feira, 29 de março de 2013

ERA A PROFECIA. ERA ROMA, O IMPERIO QUE PUNIA OS TRANSGRESSORES NA CRUZ

Pelo pouco que sei, a crucificação não foi um “luxo” só de Jesus. Roma punia os criminosos que mais a afrontavam dessa forma, expondo o culpado com tamanha brutalidade. E, acredite: o nazareno representava um perigo e tanto para o poder constituído, seja na Galileia, onde viveu seus primeiros 30 anos, seja na Judeia, a entrada cultuada em Jerusalém, ambos territórios subordinados à lei romana.

A via crúcis era o modelo de punição usado pelo Império para implementar nos cidadãos comuns o medo de cometer erros. Do contrário, o destino do infrator seria o mesmo: a morte na cruz, não sem antes ser açoitado e forçado a carregar, ao longo de um percurso longo e montanhoso, o objeto no qual seria cravejado.

Apesar de ser uma história diversas vezes contada e, na cabeça de muitos, totalmente consumada, eu não vejo Pilatos como o pior dos vilões. A responsabilidade do governante romano não chega nem perto da participação de Judas, Herodes e, especialmente, dos Fariseus, que não em poucas vezes foram contrariados, questionados e postos em xeque pelo Messias. Mas, como se diz, “estava escrito”. E parece que o entendimento humano só funciona quando a coisa tem requintes de crueldade.


Essa é a diferença de Jesus para os criminosos que, assim como ele, foram mortos crucificados: além de não ter cometido, de fato, delito algum, aquele a quem os cristãos têm como o Salvador quis o próprio sacrifício, para que o pecado do mundo fosse redimido, ao passo que poderia recusar o fardo. Há indícios muito fortes de que tudo isso proceda: além do corpo nunca ter sido encontrado, muitos que seguiram Jesus não negaram as proezas do nazareno, mesmo após a sua morte, e por isso foram igualmente assassinados.

A partir daí, o problema passava a ser de Roma também. Os adeptos do Cristianismo eram cada vez maiores, e o Império, no fim das contas, aos olhos de muitos, havia protagonizado o sangramento do Cordeiro. Como inimigos, os seguidores da ideologia cristã eram sumariamente perseguidos pelos romanos, que precisavam manter uma certa coerência: se Cristo foi um criminoso, os cristãos também o são. Quando, em 380 d.C., Roma percebe que o legado de Jesus é inalienável, o Cristianismo se torna a religião oficial do Império, relação esta muito próspera para os dois lados. Agora, que se persigam e punam os pagãos.

Aparentemente, Pôncio Pilatos imputou a punição ao Rei dos Judeus a contragosto. Viu-se obrigado a fazê-lo por questões de ordem, pois, por incrível que pareça, haveria menos confusão crucificando o Filho do Homem do que mantê-lo vivo. O sangue de Jesus recaiu em maior escala sobre as mãos dos sacerdotes, aqueles velhinhos que viram seu poder – religioso e financeiro – ser ameaçado pelas boas novas.

quinta-feira, 28 de março de 2013

“SEM SABER QUE ERA SUBTRAÍDA EM TENEBROSAS TRANSAÇÕES”

Não se engane com o fato do Brasil ter feito parte, até bem pouco tempo – com justiça –, do grupo das nações subdesenvolvidas. Talvez ainda seja, mas agora sob a alcunha de emergente. Mas esse país que você e eu tanto amamos é rico, e sempre foi. E, justamente por isso, ficara marcado, desde Cabral e Caminha, por um contra-senso: apesar de pródiga em riquezas de todos os tipos, acabou por ser uma terra boa só para poucos.

É a desigualdade social, a má distribuição de renda, que a gente ouve desde que nasce. Ouve e vê, sem precisar de muito esforço. É bem verdade que o controverso governo petista, no Planalto desde 2003, foi responsável direto por amenizar tais diferenças que sempre foram abismais. Hoje, o pobre tem carro, faz compras em shoppings, viaja de avião, tem casa própria. Enfim, tem direitos que, antes, só se reservavam a uma elite composta por bem poucos. Mas a miséria ainda está aí, porque é como uma entranha que não se desprende.

O Brasil foi constantemente vítima dos homens que o apoderaram, no sentido daqueles que ocuparam os cargos políticos, com soberania para definir os rumos que esse país tomaria. E eles preferiram a conduta de fazer com que esta terra trabalhasse pra poucos, ao invés de todos trabalharem em função do país e, com isso, permitir a prosperidade a muitos.

Só que não dá para incumbir os portugueses de toda a culpa. Porque desde que o meio brasileiro, meio lusitano Dom Pedro I assumiu a frente, procedeu-se de igual modo. E os brasileirinhos a seguir deram andamento à mesma política implementada aqui em 1500: continuaram a subtrair a pátria, sob a tutela de uma população pouco atuante e muito condescendente com as corrupções e desmandos.


O que acontece em tempos de Copa e Olimpíadas a ocorrer no Brasil é exatamente isso, muito bem simbolizado pelo Estádio Engenhão, interditado por falta de segurança, após seis anos de sua inauguração. As ferrugens da estrutura que comporta a cobertura do Estádio Olímpico do Rio não é apenas o ensejo de uma obra mal acabada. É, mais ainda, uma denúncia acachapante de como quadrilhas, cada uma a seu tempo, tomam o Brasil de assalto.

O legado, de que tanto falam os ‘organizadores’ dos eventos, é posto de maneira leviana. Ao povo ficará pouca coisa. A alguns empresários e políticos ficarão os superfaturamentos, as obras mal feitas com dinheiro público, que se tornam obsoletas brevemente. Fora o que não descobrimos, uma vez que tudo é feito sorrateiramente e, lá na frente, prescreve. O que pode caracterizar esse momento – e o que depois vier – é o nosso comportamento diante de tudo: nós podemos olhar a tudo, passivos, como é de hábito, ou a gente pode berrar e dizer “não”.