quinta-feira, 16 de maio de 2013

A DEMOCRACIA, IMPRESCINDÍVEL, TEM DAS DELA TAMBÉM

Me impressiona o quão bela e contraditória é a democracia.

Em sua ideia mais primitiva, despontada em Atenas, os cidadãos iam às Ágoras (uma espécie de praça pública) para discutirem questões pertinentes ao local onde viviam. Diga-se: o poder ali começava a emanar do povo, pero no mucho. Mulheres, escravos e estrangeiros eram impedidos de participar das “assembleias”. Até então, o soberano era o enviado de Deus para governar o povo, e quem se atreveria a questionar um ‘predestinado’?

Em sua ideia mais atual, em que o regime permite tanto a liberdade quanto o descabido. Ainda assim, diga-se de novo, vale a pena poder escolher, discordar, ser livre. Mas chama atenção como a democracia é infimamente participativa e menos representativa do que se supõe, o que prova a falta de comprometimento do brasileiro na hora do voto. Sim, os políticos são cretinos, a maioria deles deveria ir ao inferno, mas você e eu temos culpa de sobra em todo esse processo. Estaríamos nós isentos da danação eterna? Sei não...


E a relação entre representantes e representados é menos tumultuada do que poderia e deveria. Reprovamos o congresso, discutimos raramente com alguém um projeto votado, uma lei pertinente relegada, mas ainda é pouco. Se a democracia é o poder da maioria, por que a mesma parcela se diz insatisfeita com tanta frequência?

O descontentamento é tamanho – embora pouco efetivo – a ponto até de ferir a própria democracia. Imaginemos que alguém levante a hipótese de acabar com o parlamento em Brasília. As justificativas não seriam poucas: “não cumprem seus papeis de políticos”, “ganham muito e desfrutam de mordomias diversas”, “o dinheiro todo gasto com congressistas será revertido na construção e aperfeiçoamento de escolas, em segurança, casas populares, saúde pública e saneamento básico”.

Temos, então, uma causa tremendamente popular, que daria inúmeras manifestações em prol da... derrocada da democracia – ou ao menos de parte dela. Os parlamentares, ruins ou não, falam em nome de quem os botou lá, e pode ser uma voz a ponderar uma medida autoritária, fruto de qualquer um que governasse sozinho. Porque a natureza humana, quando se vê sem a possibilidade do contraponto, tende a se esbaldar no poder. E gosta, como nenhum outro bicho, de se impor solitariamente.