sexta-feira, 27 de junho de 2014

SELEÇÕES SUL-AMERICANAS EM CASA, INCLUSIVE CONTRA 'NOSOTROS'

É de se admirar a maneira como torcem os argentinos – e os argelinos também. Eles, assim como nós, vibram mais com os clubes do que com a Seleção, mas é inegável que são mais participativos que os brasileiros. Motivo simples: apesar de serem, nesses tempos de Mundial, abastados também, têm o costume da arquibancada. A nossa torcida, VIP e padrão-FIFA que é, não é de encostar a bunda em qualquer estádio. Só vai na boa. Não se impressione se num Brasil x Argentina, Brasil x Uruguai ou Brasil x Chile (jogo de amanhã), a torcida rival, embora em menor número, fizer mais barulho que a nossa. Eles farão. (No vídeo a seguir, o torcedor argentino, em peso no Mineirão, provoca o Brasil: https://www.youtube.com/watch?v=blfAmjFC8bI).

O que ocorre na Copa, que muitos chamam de “elitização dos estádios”, é o que vem acontecendo nos nossos campeonatos. Tanto os regionais como o brasileiro cobram valores abusivos por jogos que nunca estarão à altura das cifras: os nossos jogadores são fracos tecnicamente, os jogos repletos de faltas, contato físico. A exceção nos preços exagerados do ingresso ocorre quando os times precisam de casa cheia para sair de uma situação complicada no campeonato. Nesse caso, o valor das entradas cai, e o povão volta a freqüentar as arquibancadas.

Não que eu seja contra ver a elite no estádio. Sou contra ver só a elite no estádio. Justo ele, que, por excelência, sempre foi o local de todos. Na configuração antiga dos nossos três maiores campos (Maracanã, Morumbi e Mineirão), fica evidente que ali tinha lugar pra todo mundo, ainda que de maneira segregada. Os três gigantes possuíam três níveis de arquibancada – o Morumbi ainda é assim: os pobres ficavam embaixo, pois o custo era menor e a visibilidade também; a classe média ficava em cima; e os ricos, no meio (protegidos da chuva e do sol e com visão privilegiada).

Garrincha atua pela Seleção Brasileira no antigo Maracanã. Ao fundo, no primeiro plano, o torcedor na Geral, em pé, tapando o sol com a mão. No segundo plano, o setor das Numeradas: ingressos mais caros, conforto maior.

Toda a cantoria que sempre ouvimos nos estádios vem dos pobres. Eles é que se encarregam de empurrar o time. A classe média e a elite são mais tímidas, menos barulhentas, e negam ao time o incentivo de que precisa para jogar. Se o pobre é excluído dos campos, a vitória passa a ficar mais difícil, menos bonita, porque não há mais a irreverência tão característica desse esporte.

Ficam aqui alguns apelos aos que organizam os torneios de futebol: devolvam os pobres aos estádios. Devolvam aos estádios mais fidelidade à nossa composição social e menos um público branco, de óculos de sol, que não tem no sangue o amor pelo futebol. Boa parte desse pessoal que vai aos jogos do Brasil na Copa não tem apego pelo jogo, pelo esporte. O negócio é ir a um grande evento, como um show, uma balada. O futebol parece estar morrendo...


Em tempo: sobre Luis Suárez

A FIFA fez justiça desmedida. E se é assim, não é justiça. Porque tirar o atacante uruguaio da Copa, dá até pra entender. Uma mordida, aliada ao histórico do Pistoleiro, não é coisa que se faça num jogo de futebol. A Copa perde uma grande atração, mas o fato de ser bom jogador não o exime do erro. Seria bom ter Luisito nos campos brasileiros – ao menos no jogo decisivo de amanhã, contra a Colômbia – mas ele, então, que não fizesse a cagada que fez.



Agora, banir (esse foi o termo usado pela FIFA) o atleta por quatro meses de qualquer atividade relacionada ao futebol e não permitir que ele frequente o ambiente da Copa junto aos companheiros de time foram medidas autoritárias. Além do mais, o uruguaio precisou sair escoltado do hotel onde estava concentrada a seleção celeste. Lembremos: futebol é um jogo, e Luis Suárez cometeu ato falho durante uma partida. Está longe de ser um criminoso.

domingo, 22 de junho de 2014

A JUSTIÇA NO FUTEBOL: Messi, como todo gênio, subverte o senso comum

45 minutos do 2º tempo e... Gol! Messi, em jogada característica, conduz a bola da direita para o meio, fora da área, e joga no canto oposto do arqueiro iraniano. E o jogo termina em 1x0 para os hermanos, numa partida em que o Irã, surpreendentemente, jogou mais e teve as melhores chances.

O engano por parte de muitos é afirmar que o resultado foi injusto. Nada disso! A Argentina botou uma bola na rede. O Irã, não. O jogo terminou 1x0. Quer mais justiça que essa? O único momento em que há injustiça no futebol é quando vemos um gol ser mal anulado ou quando o mesmo deveria ser invalidado, e não é. No mais, podemos falar em falta de merecimento, não em injustiça.


Senso comum à parte, assim como o Brasil, a seleção portenha não fez duas boas partidas. Messi não foi nem perto do que se espera. Mas já anotou dois belos gols, sendo eleito o melhor em campo nas duas partidas que fez. Do mesmo modo que ocorreu na temporada, atuando pelo Barcelona, Lionel tem tido desempenho aquém, mas os números dão um alento. Ainda que abaixo, foi decisivo nas duas rodadas. Sem ele, a Argentina, provavelmente, teria dois pontos, e não seis.


Não há como não louvar Messi. Até Francisco, o Papa, roeu unha, cruzou os dedos e sentiu alívio com o tento marcado no fim. Deus dá pinta de que mudou de lado. Lá no céu, abandonou o verde-amarelo para vestir alviceleste.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

GOL CONTRA: Felipão atribui à imprensa uma função que não é dela

Na última terça, dia 17, a Seleção Brasileira entrou em campo para disputar a sua segunda partida na Copa do Mundo. O resultado de 0x0 diante do México ficou longe de ser bom, não só pelo ponto solitário conquistado, mas também em função do baixo desempenho do time comandado por Luiz Felipe Scolari. E foi justamente após a partida, no trecho final da entrevista coletiva, que Felipão agiu de modo a questionar a imprensa brasileira: “Não tem mais pênalti a favor do Brasil? Vocês só criticaram o do Fred”. O fato é que não ocorreu nada duvidoso no confronto contra os mexicanos que tenha prejudicado o time da casa.

Incomodou Scolari o fato da imprensa brasileira ter dado destaque ao pênalti inexistente apitado pelo árbitro japonês em favor do Brasil, na partida da primeira rodada contra a Croácia. A marcação convertida por Neymar fora decisiva para a vitória da seleção (ali, o Brasil virava um jogo difícil contra o bom selecionado croata). Com a ênfase em um lance polêmico que favoreceu o anfitrião, Felipão se viu contrariado, pois, antes do mundial, pediu para todos – time, imprensa e torcida – unirem-se em torno do objetivo máximo: o hexacampeonato.


O treinador só deixou passar uma prerrogativa bem básica do jornalismo: imprensa que se preze não torce. Ou, se torce, não permite que a empolgação ou a tristeza interfira na informação, na análise, na opinião. De modo geral, os veículos de comunicação mantiveram posicionamento crítico quanto ao êxito da Seleção contra a Croácia, afirmando que o Brasil tirou proveito de um erro do juiz para sair com a vitória na estreia. É importante lembrar: até o torcedor, Felipão, movido permanentemente pela paixão que o futebol faz desabrochar, sabe e concorda que vencemos graças à falha de Yuchi Nishimura, o apitador amigo.

Quanto mais distante das emoções, melhores serão as avaliações produzidas pelos analistas esportivos – e essa máxima não vale só para o esporte. Se ponderação pressupõe racionalidade, o ato de informar requer que o jornalista saia da arquibancada, deixe a buzina de lado e caminhe pelo trajeto da calmaria. Cada um na sua função: torcedor vibra e sofre; imprensa informa e opina; e o técnico treina o time para ser mais competitivo no próximo jogo.


A crônica esportiva chateou Felipão? Ponto para o jornalismo.