segunda-feira, 20 de outubro de 2014

QUADRILHAS

Sarney apoia Dilma, que combateu a ditadura, que tinha em Sarney uma das figuras de maior destaque.
Maluf apoia Dilma, que foi torturada pelos militares, que estimavam Maluf.
Collor apoia o PT, que abomina a eleição de 89, vencida sujamente pelo alagoano.


Marina apoia Aécio, que flerta com o agronegócio, que Marina tanto odeia.
Malafaia e Feliciano apoiam Aécio, que é dum partido democrata, que despreza o fundamentalismo religioso.
Fidelix e Everaldo apoiam Aécio, que é da social-democracia, que não vê com bons olhos os reaças.

Luciana Genro não apoia ninguém. E como ninguém é politizado, todo mundo despreza Lulu, pra apoiar Dilma e Aécio.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

NÓS, OS PAULISTAS, SOMOS UMA CHOLDRA IGNÓBIL

Dos meus 30 anos, cinco deles vivi em Mato Grosso, divididos em dois períodos: o primeiro, de 2009 a 2012; o segundo, atual, desde maio. Ou seja, assim como muitos brasileiros, seja dentro do próprio país, seja em outras nações, sou um forasteiro.

Em nenhum momento, nessa meia década vivendo próximo ao Pantanal, alguém esboçou qualquer intenção de dizer “vá embora” ou “você não é daqui” ou “volte pro lugar de onde veio, seu paulista filho da puta”. Não. Nem perto disso. O que presenciei foi sempre a palavra carinhosa, a recepção calorosa, a alegria das pessoas daqui em compartilhar a terra em que nasceram ou escolheram viver. Tudo isso gerou em mim o respeito por essa gente, uma gratidão que pretendo levar até o último dia que meu corpo decidir respirar.

É triste saber que pessoas do meu estado fazem exatamente o oposto, especialmente com o nordestino. Justo com o migrante dos sertões, que saiu de casa a contragosto, viajou muito, pra tentar prosperar na cidade grande. Até a década de 90, era difícil viver no Nordeste brasileiro, especialmente nos rincões de lá. O nordestino pagou um preço alto por isso: além do preconceito, precisou habitar as favelas paulistanas, pois sempre fora um excluído.

Qual o problema do nordestino, em boa parte, votar no PT?
De repente o partido teve a capacidade de viabilizar benefícios à região.

E, justamente por isso, deixou de ser vítima para se transformar em vilão. O nordestino passou a ter culpa pela existência das favelas. As favelas passaram a ter culpa pelo aumento da criminalidade. As elites e a velha classe média? Lavaram as mãos. Ou melhor, agiram, exigindo sempre que a PM fizesse o serviço sujo de “limpar os desgraçados daqui”.

Conheço bem a elite paulista. Ela é herdeira dos bandeirantes e barões de café. Nas mãos dela há sangue do escravo açoitado, do índio caçado, do trabalhador mal tratado. Ela – e seus asseclas – se intitula “uma raça ariana”, acha viver no “maior estado da nação”, mas faz aquilo que lhe é típico: ofende quem foi peça fundamental no desenvolvimento de São Paulo, especialmente da capital. Sim, porque o nordestino labutou arduamente para fazer da metrópole a fortaleza que é hoje.

Atualmente, ocorre o caminho inverso. Muita gente do sul-sudeste sai de casa para tentar oportunidade nos locais em que a mão-de-obra qualificada ainda é escassa. Como eu, paulistas buscam no Centro-Oeste, Norte e Nordeste a chance de emprego que não veio em São Paulo. Não me parece haver nessas três regiões do Brasil a ojeriza pelo outro que se vê nos centros de maior poder econômico.

Historicamente, o paulista - e pessoas naturais de outros Estados do Sul-Sudeste - procurou espaço em outras regiões.
A tendência é que esse panorama se acentue ainda mais, desfazendo o mito de que só nordestino sai de casa.

O voto desqualificado não é exclusividade do nordestino. Você, paulista, também escolhe mal. Do contrário, não teria reeleito Geraldo Alckmin, ainda em 1º turno, pela terceira vez e nem optado por Russomano, Tiririca, Marco Feliciano, Maluf, Paulinho da Força, Andrés Sanchez, Orlando Silva e representantes da bancada da bala para o congresso nacional.

Continuarei em Mato Grosso, no que depender de mim, por um bom tempo. É pena – e crime – uma parcela do povo paulista não ter a generosidade do caboclo daqui.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

O GOVERNO DO PT NÃO É DITADOR

A imagem abaixo circulou aos montes nas redes sociais durante o 1º turno das eleições. Ela faz um paralelo entre Tancredo Neves, político de oposição à ditadura, e Aécio Neves, seu neto, que hoje concorre à presidência pelo PSDB.


A montagem seria ótima, não fosse uma mentira evidente: caso Aécio vença, ele não acabará com ditadura alguma, e por um motivo muito simples: não há ditadura no Brasil.

O que os tucanos fazem – até de forma histérica – é atribuir ao PT uma característica que não é dele. Porque as gestões de Lula e Dilma tiveram problemas - que podem até justificar uma derrota da atual presidenta -, mas usar de leviandade nessa altura do campeonato é um desserviço que a democracia dispensa.

Não há qualquer indício de autoritarismo petista: você vota. O simples fato de poder escolher seus representantes faz do regime atual algo oposto à ditadura.


Não há qualquer indício de autoritarismo petista: a imprensa é livre. Empresas jornalísticas usam e abusam da liberdade pra denunciar – muitas vezes sem provas – mal feitos do atual governo. Num regime de ditadura, a imprensa é censurada, algo que está bem longe de acontecer aqui. O governo fala, sim, na necessidade de um marco regulatório, justamente para democratizar a mídia. Os brutamontes da comunicação, claro, não curtem o papo.

Não há qualquer indício de autoritarismo petista: as pessoas se manifestam livremente. Vejo muitos baixarem o nível, xingarem a presidenta, se posicionarem publicamente nas redes sociais ou nas ruas contra o governo. O que acontece? Nada. Num regime ditatorial, não se admitem ofensas à autoridade máxima do país, e a polícia acaba por abafar qualquer manifestação contrária ao chefe do executivo. Algo muito próximo do que acontece, aí sim atualmente, num certo estado do Brasil governado há 20 anos pelo... PSDB. No caso de São Paulo, a PM defende o poder contra as revoltas populares. As manifestações do ano passado ilustraram bem isso.

O eleitorado tucano, particularmente de São Paulo, se julga mais politizado.
Traço marcante do reacionarismo é a intenção de tornar determinados grupos submissos.
Não há qualquer indício de autoritarismo petista: entre 64 e 85, as forças armadas perseguiam, prendiam, torturavam e executavam gente da oposição. Os chamados “subversivos”, como os milicos, cretinamente, se referiam a quem contestava politicamente o cenário da época, ação que é legítima no estado democrático de direito. E por quê? Porque a lei não atende a interesses de quem está no poder. Quem está lá é, como qualquer outro, submetido pelos parâmetros legais. A maior prova disso foi o mensalão. Gente do alto escalão do PT, partido que detém o poder há 12 anos, foi julgada e condenada. Em uma ditadura, os políticos que controlam o país estão isentos de cumprir a lei. Os militares deram aula nesse quesito. FHC, já na democracia, também mostrou como fazer cagada, sem ser importunado.

O mais engraçado disso tudo: boa parte dos que afirmam que o Brasil vive uma “ditadura petista” vê com bons olhos uma intervenção das forças armadas. Segundo eles, “para acabar com essa pouca vergonha que está aí instalada”. Esse pessoal se refere à ditadura militar como “um período que não era tão ruim assim”.

As opiniões contrárias são saudáveis. Os 12 anos de gestão petista têm falhas, especialmente o mandato de Dilma. Há, sim, argumentos para não escolher o PT. Mas uma colher a mais de coerência e uma pitada a menos de canalhice fariam um bem danado.