Me impressiona o
quão bela e contraditória é a democracia.
Em sua ideia mais
primitiva, despontada em Atenas, os cidadãos iam às Ágoras (uma espécie de
praça pública) para discutirem questões pertinentes ao local onde viviam. Diga-se:
o poder ali começava a emanar do povo, pero
no mucho. Mulheres, escravos e estrangeiros eram impedidos de participar das
“assembleias”. Até então, o soberano era o enviado de Deus para governar o
povo, e quem se atreveria a questionar um ‘predestinado’?
Em sua ideia mais
atual, em que o regime permite tanto a liberdade quanto o descabido. Ainda assim,
diga-se de novo, vale a pena poder escolher, discordar, ser livre. Mas chama
atenção como a democracia é infimamente participativa e menos representativa do
que se supõe, o que prova a falta de comprometimento do brasileiro na hora do
voto. Sim, os políticos são cretinos, a maioria deles deveria ir ao inferno,
mas você e eu temos culpa de sobra em todo esse processo. Estaríamos nós
isentos da danação eterna? Sei não...
E a relação entre
representantes e representados é menos tumultuada do que poderia e deveria. Reprovamos
o congresso, discutimos raramente com alguém um projeto votado, uma lei
pertinente relegada, mas ainda é pouco. Se a democracia é o poder da maioria,
por que a mesma parcela se diz insatisfeita com tanta frequência?
O descontentamento
é tamanho – embora pouco efetivo – a ponto até de ferir a própria democracia. Imaginemos
que alguém levante a hipótese de acabar com o parlamento em Brasília. As
justificativas não seriam poucas: “não cumprem seus papeis de políticos”, “ganham
muito e desfrutam de mordomias diversas”, “o dinheiro todo gasto com
congressistas será revertido na construção e aperfeiçoamento de escolas, em
segurança, casas populares, saúde pública e saneamento básico”.