quarta-feira, 10 de julho de 2013

NEM FAZ TANTO TEMPO ASSIM, MAS TUDO PARECE TÃO ANTIGO

Quando eu tinha 5 anos, tudo era diferente. O que me permite usar a expressão “no meu tempo...”, qualquer coisa que denote uma certa velhice de quem fala.

No meu tempo, os telefones públicos, os quais denominávamos orelhões, eram de duas cores: um vermelho, para se fazer uma ligação local; outro azul, que usávamos para falar com quem morava fora, só interurbano. Nada de cartões, como hoje. Era tudo na base da ficha. Se não botasse a dita cuja na hora certa, o contato caía e a ligação deveria ser refeita.

No meu tempo, não se jogava vídeo-game pelo computador ou usando disco. Naquela época, nem computador havia – ao menos para a classe média emergente. Os jogos de que desfrutávamos estavam nos cartuchos (ou fitas) do Atari. O meu não era Atari. Era Dactar. Mas as fitas de um cabiam no outro, e era uma festa maluca jogar Enduro ou River Raid. Depois vieram os aparelhos mais modernos: Master Sistem, Mega Drive e Super Nintendo.

No meu tempo, quando tocava a vinheta do “Plantão” da Globo, era aumento do combustível na certa. Sempre “a partir da meia-noite”. Lá íamos meu pai e eu ao posto, já noite, pra pegar a “gasosa” ainda mais barata. No mercado, os rapazes com as “maquininhas de preço” nas mãos, várias vezes no mesmo dia, denunciavam que a inflação era galopante, e o Brasil não se insinuava como hoje.


No meu tempo, a gente não entrava em aeroporto e shopping. No lugar onde só rico pisava, a classe média passava longe. Quando entrava, era só pra conhecer. Congonhas, pra mim, era apenas atração turística. Quem andava ali era magnata, o mesmo que portava os primeiros celulares, os tijorolas. Os que andavam pelas ruas falando aos celulares eram vistos com reverência, porque “só gente rica usa telefone móvel”.

No meu tempo, não tinha injeção eletrônica nos automóveis. Tinha o “afogador”, um comando do carro junto ao painel que eu puxava logo depois de dar a partida. Afinal, antes do meu pai sair, era necessário botar o veículo pra funcionar alguns minutos: era recomendado pôr a bagaça em movimento só depois de ficar um tempo ligado. Ah, é claro: antes de dar a partida, nunca deixava de pisar umas quatro ou cinco vezes no acelerador, justamente para que o combustível fosse injetado do tanque ao motor. Do contrário, não pegava. Quando isso ocorria, no meu tempo, a gente soltava na “banguela” pra pegar no tranco.

No meu tempo, não se ouvia música “baixada”. Era no vinil (LP), depois na fita cassete (K7. Por gentileza, não pense bobagem), até que veio o CD. A primeira fita de que me lembro adquirir foi Thriller, de MJ. Assim como o vinil, tinha o lado A e lado B (o único LP que tive foi da Xuxa. Sim, isso é motivo de muita vergonha, algo que gostaria de extirpar da minha infância). Só com o CD que se parou com aquele negócio de vira aqui, vira ali. O meu primeiro disco compacto? Mamonas Assassinas, a banda que gravou um único disco, mas que foi febre no país inteiro.


No meu tempo, a gente não assistia Avatar, Harry Potter, “Saga” Crepúsculo e Senhor dos Anéis. Naquela época, era Rambo, Comando para matar, Rocky e Top Gun. Blu-Ray, DVD? Nada! Era fita, amigo. Daquelas que quando o filme chegava ao fim, a gente tinha que rebobinar. Era a pré-história, algo de que não nos dávamos conta, e que hoje causa uma deliciosa nostalgia.

No meu tempo, eu ia pra rua jogar bola. Na terra, na grama, no cimento, sempre descalço. Também andava de bicicleta e nadava. A tecnologia não me corrompia, assim como corrompe a moçada de hoje. Talvez porque naquela época esses equipamentos que encantam, facilitam e sedentarizam (seria esse um neologismo?) não podiam ser comprados tão facilmente. Mas creio que eu não trocaria meus carrinhos de fricção por nada.

No meu tempo, homem que era homem fazia a declaração do imposto de renda no papel. Preenchia o formulário todo – primeiro a lápis, depois à caneta – e entregava numa agência bancária. Havia qualquer coisa romântica em todo aquele primitivismo. Hoje é tudo muito sofisticado.

No meu tempo, os desenhos eram outros. Não sei os que passam agora, mas dificilmente Scooby Doo, Popeye, Caverna do Dragão, Thundercats, Cavalheiros dos Zodíacos, Heman, atraem as crianças de hoje. Elas já nascem evoluídas, praticamente falando, esnobando a ideia de papai-noel, sem crer na magia dos desenhos. Mas quem disse que desenho é só pra criança?

  
No meu tempo, diziam que a rapariga saía do ensino médio pra fazer magistério. Ah, como as moças daquela época sonhavam em ser professoras. Era quase que uma vocação inata. Hoje, arrisque perguntar prum jovem do terceiro colegial se ele pretende prestar vestibular pra virar professor. Não haverá uma mão erguida. Haverá, sim, quem ria da pergunta impertinente, posto que ser professor é cultuar o ridículo, é ganhar pouco, é não ser reconhecido, é apanhar da polícia quando reivindica o básico.


No meu tempo se fazia tanta coisa. O meu tempo não foi há tanto tempo assim. Mas parece que sim. Me sinto tão velho...

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