“Pois também eu te digo
que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16:18).
Jesus idealizava uma igreja que, hoje, inexiste. Qualquer vertente religiosa,
por maledicência ou força das circunstâncias, foi cooptada pelo capital – que é
o poder atualmente constituído –, e aliou-se a ele. Muito antes disso, a
própria igreja buscou o poder, ao juntar-se ao já decadente império romano, em
fins do século IV (376 d.C.). Exatamente cem anos depois, Roma se foi. A
igreja, não.
É evidente que existem
casos isolados, de fundações que pregam o evangelho assim como Cristo o
concebeu. Ou são porta-vozes do que Deus consentiu. Há pessoas inseridas nessas
organizações, cuja seriedade certifica que o discurso não é vazio (já cansaram
as frases feitas: “Jesus te ama” ou “se você ser ou fizer isso vai pro inferno”).
Gente que, mais do que seguir a Bíblia, estuda-a para tentar jogar luz sobre os
mistérios que a razão é incapaz de comprovar.
Porém, de modo
geral, todos os ismos que servem de
sufixo às nomenclaturas religiosas são apegados à realidade terrena e ficam
aquém no quesito espiritualidade.
Talvez porque o ser humano seja assim também, muito preso a provas cabais,
pouco condizente com o que Jesus legou. Segundo Nietzsche, o anticristo somos
nós.
Ao que pese o
Papa ser representante de uma vertente religiosa, o catolicismo, de alguma
forma ele influência – mesmo que à distância – essa ou aquela opinião, o modo
como as pessoas o veem e recebem seus posicionamentos. Quando alguém do seu cacife
está no Brasil, naturalmente discutimos com mais afinco o que ele fez e disse
ao longo do dia, coisa que não acontece quando ele está no Vaticano ou em
qualquer outro país.
O Papa não é
santo. É um personagem influente. Até por isso, é prudente não julgar a sua
vinda pelo viés do catolicismo/cristianismo. Pouco importa se haverá mais
convertidos após a passagem de Jorge Mario Bergoglio pelo Brasil. Se o
argentino deixar aqui um olhar terno e otimista, uma palavra de esperança, um
posicionamento que vise o caminhar adiante, o avanço, a evolução, essas coisas
que andam tão estagnadas e que parecem fazer a nossa mentalidade – inclusive
entre os jovens – regredir sem controle, terá valido muito a pena. Enfim,
qualquer ensejo simples que nos faça melhores, a revigorar o que em nós
adormece ou se perde.
O discurso improvisado
do pontífice aos argentinos, ontem (quinta, 25), em cerimônia fechada, foi
imensamente proveitoso. Mas é só o princípio. A vinda do Papa não é o fim de
nada, e sim o começo, o ponto de partida pra que busquemos o algo a mais. Contentar-se
apenas com líder da igreja católica é percorrer só metade do trajeto, e olhe
lá. Ver Francisco ou estar próximo a ele é o mote (e não o objetivo supremo)
para impedir a recessão dos nossos julgamentos, crenças e discernimentos. É fundamental
desvincular-se da paralisia de que o ser humano tanto gosta. Não é fácil, nem
cômodo. Mas é recompensador.
A necessidade tida
pelo homem de materializar Deus em cantos, ritos, gritos, enfim, em qualquer
coisa que seja visível, audível e palpável, parece mais limitar do que estender
a nossa relação com Deus. Esqueçamos os dogmas. As leis que os homens da igreja
criaram tornam as nossas tentativas mais materiais e menos metafísicas. E é no
que não se pode ver, tocar e ouvir que está Deus em plenitude. É nos olhos
fechados, no silêncio que medita, na busca por não ouvir o outro e nem ouvir a
si mesmo que se encontra o maior legado cristão. A verdade que nos atormenta,
que nos enfraquece, que nos faz desanimar, aguarda que o mais paciente continue
a buscá-la, pois só ela redime e conforta. Eis o desafio íntimo e quieto
fecundado no espírito, a ser semeado pela lucidez, pelo entendimento e, claro,
pela fé.
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