sexta-feira, 26 de julho de 2013

O PAPA NO BRASIL E A FILOSOFIA QUE FALTA

Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16:18). Jesus idealizava uma igreja que, hoje, inexiste. Qualquer vertente religiosa, por maledicência ou força das circunstâncias, foi cooptada pelo capital – que é o poder atualmente constituído –, e aliou-se a ele. Muito antes disso, a própria igreja buscou o poder, ao juntar-se ao já decadente império romano, em fins do século IV (376 d.C.). Exatamente cem anos depois, Roma se foi. A igreja, não.

É evidente que existem casos isolados, de fundações que pregam o evangelho assim como Cristo o concebeu. Ou são porta-vozes do que Deus consentiu. Há pessoas inseridas nessas organizações, cuja seriedade certifica que o discurso não é vazio (já cansaram as frases feitas: “Jesus te ama” ou “se você ser ou fizer isso vai pro inferno”). Gente que, mais do que seguir a Bíblia, estuda-a para tentar jogar luz sobre os mistérios que a razão é incapaz de comprovar.

Porém, de modo geral, todos os ismos que servem de sufixo às nomenclaturas religiosas são apegados à realidade terrena e ficam aquém no quesito espiritualidade. Talvez porque o ser humano seja assim também, muito preso a provas cabais, pouco condizente com o que Jesus legou. Segundo Nietzsche, o anticristo somos nós.


Ao que pese o Papa ser representante de uma vertente religiosa, o catolicismo, de alguma forma ele influência – mesmo que à distância – essa ou aquela opinião, o modo como as pessoas o veem e recebem seus posicionamentos. Quando alguém do seu cacife está no Brasil, naturalmente discutimos com mais afinco o que ele fez e disse ao longo do dia, coisa que não acontece quando ele está no Vaticano ou em qualquer outro país.

O Papa não é santo. É um personagem influente. Até por isso, é prudente não julgar a sua vinda pelo viés do catolicismo/cristianismo. Pouco importa se haverá mais convertidos após a passagem de Jorge Mario Bergoglio pelo Brasil. Se o argentino deixar aqui um olhar terno e otimista, uma palavra de esperança, um posicionamento que vise o caminhar adiante, o avanço, a evolução, essas coisas que andam tão estagnadas e que parecem fazer a nossa mentalidade – inclusive entre os jovens – regredir sem controle, terá valido muito a pena. Enfim, qualquer ensejo simples que nos faça melhores, a revigorar o que em nós adormece ou se perde.


O discurso improvisado do pontífice aos argentinos, ontem (quinta, 25), em cerimônia fechada, foi imensamente proveitoso. Mas é só o princípio. A vinda do Papa não é o fim de nada, e sim o começo, o ponto de partida pra que busquemos o algo a mais. Contentar-se apenas com líder da igreja católica é percorrer só metade do trajeto, e olhe lá. Ver Francisco ou estar próximo a ele é o mote (e não o objetivo supremo) para impedir a recessão dos nossos julgamentos, crenças e discernimentos. É fundamental desvincular-se da paralisia de que o ser humano tanto gosta. Não é fácil, nem cômodo. Mas é recompensador.

A necessidade tida pelo homem de materializar Deus em cantos, ritos, gritos, enfim, em qualquer coisa que seja visível, audível e palpável, parece mais limitar do que estender a nossa relação com Deus. Esqueçamos os dogmas. As leis que os homens da igreja criaram tornam as nossas tentativas mais materiais e menos metafísicas. E é no que não se pode ver, tocar e ouvir que está Deus em plenitude. É nos olhos fechados, no silêncio que medita, na busca por não ouvir o outro e nem ouvir a si mesmo que se encontra o maior legado cristão. A verdade que nos atormenta, que nos enfraquece, que nos faz desanimar, aguarda que o mais paciente continue a buscá-la, pois só ela redime e conforta. Eis o desafio íntimo e quieto fecundado no espírito, a ser semeado pela lucidez, pelo entendimento e, claro, pela fé. 

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