Como são fantásticos os livros de autoajuda! Com eles, é
possível emagrecer 50 quilos em uma semana, ainda que a gente tenha se
alimentado mal e errado a vida inteira. Com esse gênero de literatura, a gente
consegue chegar à felicidade ou resolver os maiores desafios da vida ao ler as
sete ou dez dicas desse ou daquele livro. É bem verdade que a Filosofia debate
essas dúvidas desde o século VI a.C., e ainda não encontrou uma resposta
definitiva – e possivelmente não achará nunca.
Mas o que é o maior campo do saber, se comparado a um livro
de autoajuda? Se a Filosofia patina há 28 séculos, o livreto com as dez
soluções existenciais para viver melhor é capaz de descobrir isso em pouco
tempo, e mais: resume tudo em algumas páginas. Esse fenômeno diz muito sobre
quem somos, o nosso comodismo de buscar o caminho mais fácil, sem discernir (e
por que nos daríamos a tamanho trabalho?) que essas bulas não passam de ilusão.
Como se cada pessoa não tivesse uma maneira peculiar de ser
feliz ou de buscar qualquer outro anseio. Não há fórmulas e, por isso, criar um
padrão que abranja um número extenso de pessoas é negar o óbvio: cada
microcosmo (indivíduo) é um emaranhado de defeitos e virtudes, uma aquarela
genética, perfis conflitantes que habitam meios completamente distintos. Como
botar toda essa diversidade sob o jugo de um referencial apenas?
O mais grave é o leitor não entender isso. Porque o
receituário promete mil milagres, mas possui um defeito crucial: ele é incapaz
de se adequar plenamente a nós. O ser, mutante que é, daqui a um segundo não
será mais quem foi há pouco. A existência humana é tão complexa, e dialética, e
paradoxal, que não há livro que possa consumar todas as crises. O homem
desenvolveu a inteligência justamente por isso: para buscar, dentro de si, nos
confins da sua própria existência, a resposta para o que o angustia.
Como são tristes os livros de autoajuda...
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