Eis a prerrogativa elementar da imprensa: informar o público
de modo responsável acerca dos assuntos que lhe são relevantes. Se reduzíssemos
a máxima jornalística a uma palavra, encontraríamos o termo informar. Porém, com as novas
tecnologias e a concorrência cada vez mais acirrada, começa a despontar no
jornalismo da grande mídia uma prática que vai de encontro ao seu papel elementar:
tornou-se habitual utilizar o verbo no condicional para se referir a algum fato
que não foi devidamente apurado e que, portanto, não deveria ser publicado.
E por que essa mudança de vocação acontece? Ocorre que a
disputa por quem publica primeiro a notícia, o que o jargão habituou-se a
chamar de furo, apressou a apuração
da informação, isso quando não boicota tal procedimento, fundamental na práxis
jornalística. É sabido que a ordem da livre-iniciativa, sob a permissão do
capitalismo, tomou conta da economia. Como a grande mídia funciona tal qual uma
empresa, informação e lucro passaram a ser indissociáveis. É aí que entram as
conveniências, quando um veículo noticia aquilo que apetece a si e a seus
parceiros, e o jornalismo, é obvio, perde.
Aliado a isso vêm as novas tecnologias, encabeçadas pela
internet e suas ferramentas mais usuais. E é inevitável analisar a imprensa
online sem entender que essa interface influencia todas as demais,
especialmente a TV. Porque é natural um canal televisivo se incomodar com a
rapidez com que a informação escoa na internet, e deixar-se dominar pela
pressa, que o senso comum, inteligentemente, afirmou ser inimiga da perfeição. Não
se pretende aqui demonizar a evolução tecnológica, mas prudência no seu uso pode
regrar o vai-vem informativo.
É nessa necessidade – mais preocupada com o lucro do que com
a informação, diga-se – que se encontra o problema. Não é raro ler ou ouvir
frases hipotéticas, cujo verbo se apresenta no condicional: “fulano teria dito”, “sicrano teria feito”. Preza o bom jornalismo que
se a informação não foi devidamente apurada, a ponto do verbo não conseguir
cravar a ação, ela não vira notícia. É algo tão elementar que se aprende nos
primeiros meses de faculdade ou de redação.
O dilema, que o mercado se incumbiu de excluir, é esse: “espero
para ter certeza e corro o risco de ser superado pela concorrência ou, mesmo na
dúvida, publico, pois se eu não fizer, outro o fará, e depois verifico se o
fato confere ou não?”. A dúvida inexiste, pois a premência de tudo faz
prevalecer, especialmente na grande mídia online – com respingos na TV –, a
segunda opção. E vemos, então, um festival de leads com verbos portando o sufixo “ia”.
Trecho do texto, publicado em 19 de abril de 2012 na seção Poder, extraído do portal www.folha.uol.com.br, cujo título simboliza o assunto abordado neste post. |
Entre isso e a não informação a distância é nula. Em caso de
incertezas, é simples: não há o que publicar. Mas como a disputa empresarial é
intensa e as ferramentas de disponibilização de conteúdo agilizam afirmações e
desmentidos, o mote do jornalismo deixa de ser a publicação da verdade factual e se torna apenas a publicação. A verificação da
fidedignidade era condição precípua para a veiculação da notícia. Sob a nova
tendência, a confirmação fica para depois.
O jornalismo, enquanto campo de atuação junto à sociedade e
mediação entre esta e os acontecimentos, construiu a sua credibilidade não pela
quantidade de fatos noticiados, mas sim pela garantia de portar consigo a
verdade, o elemento confiável que imprime fidelidade entre público e meio de
comunicação. O que seria dos amontoados de manchetes sem uma boa história,
rigorosa como deve ser, capaz de dar sentido aos destaques e fazendo a capa
valer a pena.
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