É de se admirar a maneira como torcem os argentinos – e os
argelinos também. Eles, assim como nós, vibram mais com os clubes do que com a
Seleção, mas é inegável que são mais participativos que os brasileiros. Motivo simples:
apesar de serem, nesses tempos de Mundial, abastados também, têm o costume da
arquibancada. A nossa torcida, VIP e padrão-FIFA que é, não é de encostar a
bunda em qualquer estádio. Só vai na boa. Não se impressione se num Brasil x Argentina,
Brasil x Uruguai ou Brasil x Chile (jogo de amanhã), a torcida rival, embora em
menor número, fizer mais barulho que a nossa. Eles farão. (No vídeo a seguir, o torcedor argentino, em peso no Mineirão, provoca o Brasil: https://www.youtube.com/watch?v=blfAmjFC8bI).
O que ocorre na Copa, que muitos chamam de “elitização dos
estádios”, é o que vem acontecendo nos nossos campeonatos. Tanto os regionais
como o brasileiro cobram valores abusivos por jogos que nunca estarão à altura
das cifras: os nossos jogadores são fracos tecnicamente, os jogos repletos de
faltas, contato físico. A exceção nos preços exagerados do ingresso ocorre
quando os times precisam de casa cheia para sair de uma situação complicada no
campeonato. Nesse caso, o valor das entradas cai, e o povão volta a freqüentar
as arquibancadas.
Não que eu seja contra ver a elite no estádio. Sou contra
ver só a elite no estádio. Justo ele, que, por excelência, sempre foi o local
de todos. Na configuração antiga dos nossos três maiores campos (Maracanã,
Morumbi e Mineirão), fica evidente que ali tinha lugar pra todo mundo, ainda
que de maneira segregada. Os três gigantes possuíam três níveis de arquibancada
– o Morumbi ainda é assim: os pobres ficavam embaixo, pois o custo era menor e
a visibilidade também; a classe média ficava em cima; e os ricos, no meio (protegidos
da chuva e do sol e com visão privilegiada).
Toda a cantoria que sempre ouvimos nos estádios vem dos
pobres. Eles é que se encarregam de empurrar o time. A classe média e a elite
são mais tímidas, menos barulhentas, e negam ao time o incentivo de que precisa
para jogar. Se o pobre é excluído dos campos, a vitória passa a ficar mais
difícil, menos bonita, porque não há mais a irreverência tão característica
desse esporte.
Ficam aqui alguns apelos aos que organizam os torneios de
futebol: devolvam os pobres aos estádios. Devolvam aos estádios mais fidelidade
à nossa composição social e menos um público branco, de óculos de sol, que não
tem no sangue o amor pelo futebol. Boa parte desse pessoal que vai aos jogos do
Brasil na Copa não tem apego pelo jogo, pelo esporte. O negócio é ir a um
grande evento, como um show, uma balada. O futebol parece estar morrendo...
Em tempo: sobre Luis
Suárez
A FIFA fez justiça desmedida. E se é assim, não é justiça.
Porque tirar o atacante uruguaio da Copa, dá até pra entender. Uma mordida,
aliada ao histórico do Pistoleiro, não
é coisa que se faça num jogo de futebol. A Copa perde uma grande atração, mas o
fato de ser bom jogador não o exime do erro. Seria bom ter Luisito nos campos
brasileiros – ao menos no jogo decisivo de amanhã, contra a Colômbia – mas ele,
então, que não fizesse a cagada que fez.
Agora, banir (esse foi o termo usado pela FIFA) o atleta por
quatro meses de qualquer atividade relacionada ao futebol e não permitir que
ele frequente o ambiente da Copa junto aos companheiros de time foram medidas autoritárias. Além do mais, o uruguaio precisou sair escoltado
do hotel onde estava concentrada a seleção celeste. Lembremos: futebol é um
jogo, e Luis Suárez cometeu ato falho durante uma partida. Está longe de ser um
criminoso.
Você precisa conhecer a torcida Boca Suja, do Mixto. Você vai gostar!
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