Dos meus 30 anos, cinco deles vivi em Mato Grosso, divididos
em dois períodos: o primeiro, de 2009 a 2012; o segundo, atual, desde maio. Ou
seja, assim como muitos brasileiros, seja dentro do próprio país, seja em
outras nações, sou um forasteiro.
Em nenhum momento, nessa meia década vivendo próximo ao
Pantanal, alguém esboçou qualquer intenção de dizer “vá embora” ou “você não é
daqui” ou “volte pro lugar de onde veio, seu paulista filho da puta”. Não. Nem
perto disso. O que presenciei foi sempre a palavra carinhosa, a recepção
calorosa, a alegria das pessoas daqui em compartilhar a terra em que nasceram
ou escolheram viver. Tudo isso gerou em mim o respeito por essa gente, uma
gratidão que pretendo levar até o último dia que meu corpo decidir respirar.
É triste saber que pessoas do meu estado fazem exatamente o
oposto, especialmente com o nordestino. Justo com o migrante dos sertões, que
saiu de casa a contragosto, viajou muito, pra tentar prosperar na cidade
grande. Até a década de 90, era difícil viver no Nordeste brasileiro,
especialmente nos rincões de lá. O nordestino pagou um preço alto por isso:
além do preconceito, precisou habitar as favelas paulistanas, pois sempre fora
um excluído.
Qual o problema do nordestino, em boa parte, votar no PT? De repente o partido teve a capacidade de viabilizar benefícios à região. |
E, justamente por isso, deixou de ser vítima para se
transformar em vilão. O nordestino passou a ter culpa pela existência das
favelas. As favelas passaram a ter culpa pelo aumento da criminalidade. As
elites e a velha classe média? Lavaram as mãos. Ou melhor, agiram, exigindo
sempre que a PM fizesse o serviço sujo de “limpar os desgraçados daqui”.
Conheço bem a elite paulista. Ela é herdeira dos
bandeirantes e barões de café. Nas mãos dela há sangue do escravo açoitado, do
índio caçado, do trabalhador mal tratado. Ela – e seus asseclas – se intitula
“uma raça ariana”, acha viver no “maior estado da nação”, mas faz aquilo que
lhe é típico: ofende quem foi peça fundamental no desenvolvimento de São Paulo,
especialmente da capital. Sim, porque o nordestino labutou arduamente para
fazer da metrópole a fortaleza que é hoje.
Atualmente, ocorre o caminho inverso. Muita gente do
sul-sudeste sai de casa para tentar oportunidade nos locais em que a
mão-de-obra qualificada ainda é escassa. Como eu, paulistas buscam no Centro-Oeste,
Norte e Nordeste a chance de emprego que não veio em São Paulo. Não me parece
haver nessas três regiões do Brasil a ojeriza pelo outro que se vê nos centros
de maior poder econômico.
O voto desqualificado não é exclusividade do nordestino.
Você, paulista, também escolhe mal. Do contrário, não teria reeleito Geraldo
Alckmin, ainda em 1º turno, pela terceira vez e nem optado por Russomano,
Tiririca, Marco Feliciano, Maluf, Paulinho da Força, Andrés Sanchez, Orlando
Silva e representantes da bancada da bala para o congresso nacional.
Continuarei em Mato Grosso, no que depender de mim, por um
bom tempo. É pena – e crime – uma parcela do povo paulista não ter a generosidade
do caboclo daqui.
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