segunda-feira, 13 de outubro de 2014

NÓS, OS PAULISTAS, SOMOS UMA CHOLDRA IGNÓBIL

Dos meus 30 anos, cinco deles vivi em Mato Grosso, divididos em dois períodos: o primeiro, de 2009 a 2012; o segundo, atual, desde maio. Ou seja, assim como muitos brasileiros, seja dentro do próprio país, seja em outras nações, sou um forasteiro.

Em nenhum momento, nessa meia década vivendo próximo ao Pantanal, alguém esboçou qualquer intenção de dizer “vá embora” ou “você não é daqui” ou “volte pro lugar de onde veio, seu paulista filho da puta”. Não. Nem perto disso. O que presenciei foi sempre a palavra carinhosa, a recepção calorosa, a alegria das pessoas daqui em compartilhar a terra em que nasceram ou escolheram viver. Tudo isso gerou em mim o respeito por essa gente, uma gratidão que pretendo levar até o último dia que meu corpo decidir respirar.

É triste saber que pessoas do meu estado fazem exatamente o oposto, especialmente com o nordestino. Justo com o migrante dos sertões, que saiu de casa a contragosto, viajou muito, pra tentar prosperar na cidade grande. Até a década de 90, era difícil viver no Nordeste brasileiro, especialmente nos rincões de lá. O nordestino pagou um preço alto por isso: além do preconceito, precisou habitar as favelas paulistanas, pois sempre fora um excluído.

Qual o problema do nordestino, em boa parte, votar no PT?
De repente o partido teve a capacidade de viabilizar benefícios à região.

E, justamente por isso, deixou de ser vítima para se transformar em vilão. O nordestino passou a ter culpa pela existência das favelas. As favelas passaram a ter culpa pelo aumento da criminalidade. As elites e a velha classe média? Lavaram as mãos. Ou melhor, agiram, exigindo sempre que a PM fizesse o serviço sujo de “limpar os desgraçados daqui”.

Conheço bem a elite paulista. Ela é herdeira dos bandeirantes e barões de café. Nas mãos dela há sangue do escravo açoitado, do índio caçado, do trabalhador mal tratado. Ela – e seus asseclas – se intitula “uma raça ariana”, acha viver no “maior estado da nação”, mas faz aquilo que lhe é típico: ofende quem foi peça fundamental no desenvolvimento de São Paulo, especialmente da capital. Sim, porque o nordestino labutou arduamente para fazer da metrópole a fortaleza que é hoje.

Atualmente, ocorre o caminho inverso. Muita gente do sul-sudeste sai de casa para tentar oportunidade nos locais em que a mão-de-obra qualificada ainda é escassa. Como eu, paulistas buscam no Centro-Oeste, Norte e Nordeste a chance de emprego que não veio em São Paulo. Não me parece haver nessas três regiões do Brasil a ojeriza pelo outro que se vê nos centros de maior poder econômico.

Historicamente, o paulista - e pessoas naturais de outros Estados do Sul-Sudeste - procurou espaço em outras regiões.
A tendência é que esse panorama se acentue ainda mais, desfazendo o mito de que só nordestino sai de casa.

O voto desqualificado não é exclusividade do nordestino. Você, paulista, também escolhe mal. Do contrário, não teria reeleito Geraldo Alckmin, ainda em 1º turno, pela terceira vez e nem optado por Russomano, Tiririca, Marco Feliciano, Maluf, Paulinho da Força, Andrés Sanchez, Orlando Silva e representantes da bancada da bala para o congresso nacional.

Continuarei em Mato Grosso, no que depender de mim, por um bom tempo. É pena – e crime – uma parcela do povo paulista não ter a generosidade do caboclo daqui.

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