Quando
eu vim, só havia metade de mim. A outra, assim, respondeu ao chamado de Deus: “sim”.
E tal como a gota da torneira, incessante, que faz barulho no copo cheio d’água,
as duas palavras teimam em atormentar meu pensamento: “nunca mais...”, “nunca
mais...”, “nunca mais!”. “Nunca mais” de tudo aquilo que fizemos aos montes e
do que deixei pra depois, e não faremos.
Faltou o
netinho, faltou assistir a uma aula minha, faltou conhecer o apartamento novo
em que projetei expectativas de quando fosse me ver. Não deu. Faltou um beijo a
mais, um “te amo” a mais, um olhar que deliberei desviar, protelando tudo para “a
próxima vez”, na arrogância de achar que sempre haverá uma próxima vez. “Nunca mais!”.
Mas de
tudo o que faz falta, um dói mais: o abraço que eu quis dar, mas resisti. A mais,
agora, o lugar à mesa, no sofá, na varanda, no carro, o silêncio transbordante,
ferida que machuca, saudade que aperta, vazio no peito incontido. "Nunca mais!".
A mulher que ia ao aeroporto se despedir de mim nunca mais irá encostar na grade e me acenar. A viagem dela, ao contrário das minhas, é sem volta. Quando eu voltar depois, e depois, e depois, ela não estará lá pra me sorrir com um abraço. “Nunca
mais!”.
Quando ela
foi, levou junto de si um preenchimento de mim. E o vazio, que em circunstâncias
normais é nada e, por isso, desprezível, agora vira grandeza palpável e
intimidadora, pois é tudo o que há em mim, algo a ocupar a existência de ponta
a ponta, sem intervalos ou sossego. “Nunca mais!”.
[Foto: www.compranotamil.com.br] |
O sofrimento
é um direito, neste momento, do qual não abro mão. Remoer os arrependimentos,
digerir a ausência, rememorar as vivências são lidas árduas, diárias e
protocolares nesses tempos de introspecção. Com o olhar no lugar vago, porque
só assim o pensamento e o inconsciente visitam a dor sem medo. “Nunca mais!”.
Ela, a
dor, é tamanha, a ponto de se impor, a priori, sobre o tempo. Ele, habituado a
passar depressa, se encolhe, tira o pé do acelerador, como se fosse intenção
sua colocar quem sofre num moedor de carne que funciona em velocidade mínima. É imperativo ter paciência. O
arranhão que fere a alma, definitivamente, não cicatriza de uma hora pra outra.
“Nunca mais!”.
Nesses quase 20
dias, cabisbaixo, fui capaz de desejar o que escapa à razão: imaginei que, ao
buscá-la nos espaços da casa que mais a identificavam, por um motivo
extra-ordem, ela pudesse estar lá. Levantava a cabeça e... nada. “Nunca mais!”.
A mulher
que deitou ao meu lado quando tive medo da escuridão noturna, que me vestiu pra
ir à escola, que brigou comigo quando fiz arte, que vibrou junto de mim as
minhas alegrias e que me ensinou que as tempestades da vida a gente enfrenta
sem reclamar foi lá pra cima e virou estrela. Eu, que não sou bobo nem nada,
nas noites de angústia e aborrecimento, vou olhar pro céu, escolher o brilho
mais bonito e gritar em silêncio: mamãe. E vou pra cama dormir e sonhar, pra
nunca mais, nunca mais, nunca mais te esquecer.
Chorei. E senti sua dor em cada palavra escrita aqui. Esse "Nunca mais", nunca mais passa. Só ameniza com o tempo. Força, Thiaguera.
ResponderExcluirChorei. E senti sua dor em cada palavra escrita aqui. Esse "Nunca mais", nunca mais passa. Só ameniza com o tempo. Força, Thiaguera.
ResponderExcluirLindo seo Thiago.
ResponderExcluirTe amo Thiago. Fé na vida e força. Bj.
ResponderExcluirPartilho dessa dor em dose dupla... é uma dor que nunca acaba, mas tenha fé... um dia ela dá uma pequena amenizada e será possível viver por uma porcentagem de tempo...
ResponderExcluirPartilho dessa dor em dose dupla... é uma dor que nunca acaba, mas tenha fé... um dia ela dá uma pequena amenizada e será possível viver por uma porcentagem de tempo...
ResponderExcluirQue lindo Thiago!!! Chorei muito!!!Tudo vai melhorar e ficarão as lembranças boas, estas serão tuas para sempre.
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