O
texto pode soar doutrinário, mas a minha intenção não é legar à humanidade um
modo universal de lecionar. Mesmo porque não atingi o que proponho aqui e,
quando o fizer – se é que o farei –, será hora de repensar outros parâmetros,
ampliar as fronteiras, uma vez que o passar do tempo se incumbe de gerar novas
ansiedades em quem chega à escola. Naturalmente, isso impõe a quem nela já está
a necessidade de atualizar-se.
Aqui,
hoje, em comemoração ao Dia do Professor, apenas constarão a maneira como
enxergo a escola e qual entendo ser a atuação do docente e, não menos
importante, do estudante no processo de ensino-aprendizagem. É só uma forma de refletir
sobre a profissão e homenagear todas e todos que se dedicam à sala de aula – e outros
espaços de escolarização – com compromisso celibatário.
[Foto: www.blog.andi.org.br] |
Ser
professor é ter o domínio da epistemologia referente à disciplina da qual está
à frente. Estar alheio ao conhecimento produzido na área seria determinar a
morte prematura do estudante. O ambiente escolar pressupõe, claro, as
sedimentações da história, mas também as novas demandas do mundo. O pensamento
produzido pela ciência, desde que encarado de modo crítico, contribui para a
formação do acadêmico. A teoria pressupõe atualização de conceitos e o percurso
histórico das investigações científicas. Sabê-los é compreender a evolução da
área e o contexto que redundou no momento atual. No caso do Jornalismo, minha
área de atuação, é imprescindível apresentar as primeiras publicações impressas
e as circunstâncias em que se estabeleceram. Porém é preciso discutir,
igualmente, de que forma jornais e revistas podem sobreviver em um cenário
dominado pela tecnologia. Essa é apenas uma dentre tantas discussões que o
curso pode fazer.
Mas
para ser professor não basta isso. Porque sem didática – ou seja, os recursos
de exposição do conteúdo e dinâmicas de atividades para fazer a teoria ser
compreendida pelo estudante –, o docente é como um livro fechado: o conteúdo
está lá, mas se não chega a quem de fato importa, de que adianta? Conhecer as
teorias é o ponto de largada. No entanto, sem a didática o competidor não cruza
a linha de chegada. Se a escola não se presta a realizar o aprendizado do
estudante – e isso só se dá na transformação da teoria em conhecimento,
justamente por meio da didática do professor –, melhor seria o docente ficar em
casa, ruminando o que sabe na solidão de sua própria companhia. Dependendo da
didática, o professor transforma o estudante em aluno, mero espectador de um
monólogo. Dependendo da didática, o estudante atua, produz, provoca o docente,
desafiando-o a sair das caixas do positivismo, do pragmatismo e de tantos outros
“ismos” que ainda atormentam a academia.
Trecho do livro "Extensão ou Comunicação?", de Paulo Freire, publicado em 1968. [Foto: Thiago Cury Luiz] |
Para
fechar o tripé, o lado humano não é carta fora do baralho. Parece óbvio, mas
não custa lembrar: o professor não é alguém que, na intimidade do seu trabalho,
aperta parafusos. A companhia do docente é o estudante, a sua razão de ser, o
pedaço que falta para sentir-se inteiro. O discente é quem dá sentido ao
professor, a fazer deste alguém ainda admirado, com algum reconhecimento. Ao
professor, ter o entendimento de que a escola não pode reproduzir as relações
de opressão de que a sociedade já está repleta é fundamental para que a sala de
aula cumpra o seu papel de fomentar a cidadania, um dentre diversos princípios
democráticos que precisam ser postos em diálogo nos espaços de
ensino-aprendizagem. A escola, definitivamente, não deve se limitar ao mero tecnicismo
da transmissão de conteúdo, tal como transferimos arquivos de uma pasta para o
outra no computador.
Um saravá às professoras e professores que fazem do ofício uma proposta de vida; aos docentes que tanto me ensinaram; aos colegas e companheiras, sem deixarmos de refletir acerca do que podemos fazer para melhorar o que aí está, peitando os retrocessos que as políticas governamentais tentam nos impor com PECs e "escola sem partido"; e aos estudantes, a outra metade da nossa existência, os que nos fazem voltar no dia seguinte com a esperança de que é possível fazer diferente e melhor.
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