O
fiasco retumbante que é Jair Bolsonaro vai saltando aos olhos (dos que querem
enxergar) da pior forma possível: são 691 mil casos de Covid-19 e 36 mil vidas
perdidas, cifras bastante subnotificadas – e, desde sábado, também omitidas. Em
tempos de crise, a incompetência de quem precisa tomar decisões importantes
fica mais evidente. Porque se para resolver um problema desse tamanho é necessário
pensar, quem tem inteligência diminuta sucumbe tristemente. Até Donald Trump, para
quem o presidente brasileiro abana o rabo sem pestanejar, já denunciou.
Incapaz
de encontrar uma solução sanitária e econômica ao país, o senhor que nos
governa faz da política um palco de encenações e chacotas. De quebra, confraterniza
com manifestações antidemocráticas em surtos de exibicionismos dominicais. Como
se não bastasse tudo isso e fora o banditismo na conta das infrações e
negociatas sucessivas, o presidente decidiu atrasar a divulgação diária dos
números do coronavírus, além de omitir o acumulado de casos e mortes. Com já é
sabido: a censura é a antessala do autoritarismo. Essa gente é assim: sem um
plano de enfrentamento à pior epidemia do último século, o podre poder
acanalhado opta por torturar as estatísticas, fazendo de conta que o problema é
menor do que é. Ocultar cadáveres é método rotineiro de milicianos, com os
quais, certamente, um presidente da República não se senta à mesa.
Mas
nos grupos do zap (ou “O fantástico mundo dos bolsominions”, se você preferir),
a Covid-19 não passa de uma conspiração comunista para dominar o mundo, os
caixões estão vazios ou cheios de pedra, a cloroquina previne e cura, o
isolamento social é um complô dos governadores e da Globo para prejudicar o
“mito” e o isolamento apenas dos grupos de risco resolve a “gripezinha”. O
expediente, assim como nas eleições, segue o mesmo: fake news a rodo, agora sob
financiamento de dinheiro público, cuja finalidade, além de tornar a realidade
difusa e fracionar a sociedade, é resolver de forma simplista problemas
demasiadamente complexos. Tenha certeza: se as narrativas falaciosas que
circulam por aí já polarizou a sociedade brasileira em temas subjacentes ao
coronavírus, o novo antagonismo virá em torno dos números. O submundo dos
aplicativos de mensagem e os emporcalhados algoritmos das redes sociais empacotam
ilusões e servem, de bandeja, a narrativa que se deseja ler, que afaga os
olhos, mas que não condiz com o mundo concreto.
Ao contrário do que diz Bolsonaro, morrer de Covid-19 não é o destino de ninguém. O atual momento desnuda uma gravidade ainda mais chocante: a negligência, outrora amiga do atual governo, deu lugar à sabotagem pura e simples. Deslocar recursos do Bolsa Família para turbinar a propaganda governista, atrasar o auxílio emergencial, manter ociosos hospitais federais e não usar todo o fundo destinado ao combate à Covid-19 são sinais de que a política pública em curso agora, sem qualquer pudor, é a morte.
Oi Thiago, tudo bem? Muito bom o seu texto.
ResponderExcluirAbraços,
Cinthya Nunes
Ps. Ainda escreve no Jornal de Getulina?