Pelo pouco que
sei, a crucificação não foi um “luxo” só de Jesus. Roma punia os criminosos que
mais a afrontavam dessa forma, expondo o culpado com tamanha brutalidade. E,
acredite: o nazareno representava um perigo e tanto para o poder constituído,
seja na Galileia, onde viveu seus primeiros 30 anos, seja na Judeia, a entrada
cultuada em Jerusalém, ambos territórios subordinados à lei romana.
A via crúcis era
o modelo de punição usado pelo Império para implementar nos cidadãos comuns o
medo de cometer erros. Do contrário, o destino do infrator seria o mesmo: a
morte na cruz, não sem antes ser açoitado e forçado a carregar, ao longo de um
percurso longo e montanhoso, o objeto no qual seria cravejado.
Apesar de ser uma
história diversas vezes contada e, na cabeça de muitos, totalmente consumada,
eu não vejo Pilatos como o pior dos vilões. A responsabilidade do governante
romano não chega nem perto da participação de Judas, Herodes e, especialmente,
dos Fariseus, que não em poucas vezes foram contrariados, questionados e postos
em xeque pelo Messias. Mas, como se diz, “estava escrito”. E parece que o
entendimento humano só funciona quando a coisa tem requintes de crueldade.
Essa é a
diferença de Jesus para os criminosos que, assim como ele, foram mortos
crucificados: além de não ter cometido, de fato, delito algum, aquele a quem os
cristãos têm como o Salvador quis o próprio sacrifício, para que o pecado do
mundo fosse redimido, ao passo que poderia recusar o fardo. Há indícios muito
fortes de que tudo isso proceda: além do corpo nunca ter sido encontrado,
muitos que seguiram Jesus não negaram as proezas do nazareno, mesmo após a sua
morte, e por isso foram igualmente assassinados.
A partir daí, o
problema passava a ser de Roma também. Os adeptos do Cristianismo eram cada vez
maiores, e o Império, no fim das contas, aos olhos de muitos, havia
protagonizado o sangramento do Cordeiro. Como inimigos, os seguidores da
ideologia cristã eram sumariamente perseguidos pelos romanos, que precisavam
manter uma certa coerência: se Cristo foi um criminoso, os cristãos também o
são. Quando, em 380 d.C., Roma percebe que o legado de Jesus é inalienável, o
Cristianismo se torna a religião oficial do Império, relação esta muito
próspera para os dois lados. Agora, que se persigam e punam os pagãos.
Aparentemente,
Pôncio Pilatos imputou a punição ao Rei dos Judeus a contragosto. Viu-se
obrigado a fazê-lo por questões de ordem, pois, por incrível que pareça,
haveria menos confusão crucificando o Filho do Homem do que mantê-lo vivo. O
sangue de Jesus recaiu em maior escala sobre as mãos dos sacerdotes, aqueles
velhinhos que viram seu poder – religioso e financeiro – ser ameaçado pelas
boas novas.
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