Sobre o clássico
paulista de domingo, o que mais chamou a atenção não foi a vitória corintiana,
de virada, em cima do São Paulo, pela 16ª rodada do Campeonato Paulista. Em um
torneio insosso, qualquer resultado não mudaria – como não mudou – em nada a
ordem das coisas, a não ser o fato de, finalmente, termos presenciado um
clássico interessante. E não falemos de arbitragem, pois os três gols foram
legítimos.
Fora isso, o jogo
mostrou o que são os dois times: o São Paulo, além de possuir um bom elenco,
busca ainda a melhor forma de jogar sem Lucas, e é um problema e tanto ainda
não ter encontrado ou encaixado o novo jeito de atuar. Ney Franco demorou a
perceber que o 4-2-3-1 só era forte com o agora jogador do PSG. Custou a ver
que Aloísio não tinha a habilidade e a técnica de Lucas, e a saída não parece
ser outra, senão jogar com Ganso ao lado do eficiente Jadson.
O Corinthians é
incrivelmente sólido: não pôs a marcação ‘lá em cima’, mas quando era atacado
em seu campo, marcava intensamente e com cobertura. É um time sincronizado,
tanto para impor seu jogo, assim como quando é agredido. As linhas são
aproximadas e a bola não se desloca uma enormidade de um pé a outro, prova de
que cada jogador se auxilia em campo. Não é à toa que venceu o que venceu em
2012 e pode – por que não? – repetir a dose este ano.
O que mais
despertou curiosidade – e pessimismo – foi o público de pouco mais de 20 mil
pessoas no Morumbi, mesmo o torcedor já tendo ideia de que os dois clubes
entrariam em campo com o que tinham de melhor. Era jogo para, no mínino 40 mil
pessoas. Não deu isso, muito em função da torcida são-paulina. Vamos a alguns
fatores que podem ser a causa do esvaziamento dos nossos estádios, não só no
último domingo, não só em São Paulo.
Os ingressos
estão absurdamente caros para a qualidade de jogadores e jogos que temos. Em
suma, é muito caro para pouca coisa. Por exemplo, no jogo entre Remo e Flamengo,
pela Copa do Brasil, o ingresso mais barato para o confronto no Estádio
Mangueirão, em Belém, vale R$ 50. Nem Flamengo e muito menos Remo valem tanto.
Há um descompasso entre o produto que temos e o produto que os dirigentes acham
que temos. É preocupante.
Disso, podemos
tirar duas conclusões: ou nossos cartolas são incompetentes, ou eles não dão a
mínima para a receita que podem obter com estádios mais cheios, considerando
como fontes válidas somente o patrocínio máster e, especialmente, a verba da TV,
que paga – e muito! – para transmitir os jogos com exclusividade (a Globo paga,
desde 2012, por ano, mais de 75 milhões de reais ao Flamengo; quase 73 mi ao
Corinthians; pouco mais de 56 milhões ao São Paulo, só para se ter uma base –
FONTE: http://f5.folha.uol.com.br/televisao/1047975-globo-paga-r-500-mi-a-times-e-flamengo-ganha-mais-veja-lista.shtml).
Além de jogos
fracos e, com isso, chatos, os clubes parecem querer que nós também nos
comportemos de acordo com o jogo. Pois no dia 28 de fevereiro, tive a prova
cabal disso. Eu estava no Morumbi naquele dia, no setor térreo, e fui obrigado
a presenciar uma cena lamentável: ao nos levantarmos, atentamente, para
acompanhar, com a emoção devida, uma cobrança de falta de Rogério Ceni, eu e
mais alguns dali fomos surpreendidos por alguns caras que, vestidos com coletes
que os identificavam como orientadores,
pediam para que a gente não ficasse em pé: “Vamos sentar, pessoal!”.
Há algum tempo,
era inacreditável imaginar que alguém diria uma frase dessas num estádio de
futebol. Hoje, nem tanto. Parece haver pouca diferença entre estádios – o
correto agora é arena, sim? – e
óperas, teatros ou salas de cinema. As manifestações de todos os tipos, que dão
mais sentido ao jogo de bola, estão em extinção. Torçamos – será que vão nos
deixar? – pelas resistências Brasil afora.
O outro fator, eu
presenciei no mesmo jogo, mas não é uma máxima. Da Avenida Paulista até o Morumbi
foram, de carro, mais de duas horas. Pelo valor que paguei (R$ 88) e pelo jogo
que vi (abaixo da média), pegar um trânsito moroso no caminho ao estádio não é
lá das coisas mais estimulantes. O cara pensa muito para ir a um jogo depois
disso.
Mas, mais do que
a demora para se chegar ao local do jogo e tudo o que envolve a peregrinação do
torcedor ao estádio, o que mais conta nessa história toda é o comodismo que
impregna o fã de futebol. É mais fácil ver o jogo da TV, do sofá, numa mesa de
bar, embora à emoção do gol in loco poucas
experiências na vida se comparam. O torcedor não vê atrativos para ver o time
de perto, a não ser em decisões (a única exceção à regra talvez seja o
corintiano), e, ao mesmo tempo, gostou da ideia de assistir às partidas em casa,
com segurança, sem transtornos, quase sem gastos.
Uma forma de
motivar o cidadão a ir ao jogo é mexendo no trânsito em dias de jogos, escoando
melhor o público num determinado horário, além de transporte coletivo decente,
não só em dia de evento esportivo. Outra maneira é destinar setores com
ingressos mais baixos, para que não se intensifique o processo de elitização
por que passa o nosso futebol. Para as classes mais carentes, o futebol é o
único entretenimento de que dispõem. Mais policiamento na rua - e não dentro do estádio - para dar ao público a sensação de que não sofrerá com a violência. E temos, ainda, o projeto do
sócio-torcedor, posto na ordem do dia pelo São Paulo, lá na década de 90, mas
que, hoje, só o rival de Itaquera sabe explorar: preferência e descontos na
compra de ingressos para associados e zero transtorno para adquirir o bilhete,
tudo via internet.
As imagens
panorâmicas dos estádios são feias e os gritos não têm a força de antes. O
velho futebol parece sucumbir ao desejo de alguns poucos que querem ganhar
dinheiro às custas da bola, mas não conseguem notar que é muito melhor fazer
tudo o que desejam, empenhando-se em propiciar arquibancadas cheias. O
torcedor, ao invés de reivindicar isso, não percebe que mesmo um jogo
interessante perde o charme sem ele lá, a empurrar, chorar ou vibrar com o time
à beira da derrota ou prestes a vencer.
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