Aos 23 minutos do
segundo tempo aconteceu o que o jogo desenhava: o Corinthians marcava, com o
peruano Guerrero, aquele que seria o gol do primeiro título mundial do alvinegro.
E antes que os chiliques comecem, logo mais explicarei por que considero esta o
único campeonato mundial conquistado pelo Corinthians, o que não é pouca coisa,
pois poucos o são. O Timão se impôs taticamente, como raros times brasileiros e
sul-americanos conseguiram em toda a história.
A tática, aliás,
é o ponto forte deste ótimo Corinthians. Individualmente, há pouquíssimos
destaques, bem menos do que o time do final dos anos 90, por exemplo, conjunto
este que não foi capaz de conquistar o que o atual elenco galgou. O esquadrão
de Dida, Índio, Fábio Luciano, Adilson, Kleber, Vampeta, Rincón, Ricardinho,
Marcelinho, Edílson e Luizão (ufa! Haja bom jogador!) era fantástico, do ponto
de vista das peças, conseguindo, no máximo, dois títulos brasileiros (1998-99)
e um paulista (1999). Não é pouco, mas acaba por ficar tímido perto do que o
clube faturou em 2011 (Brasileiro) e no histórico ano de 2012 (América e
Mundial).
O Corinthians de
hoje joga o que de mais moderno existe no futebol: bola no chão; troca de
passes demarcada; marcação no campo de ataque, na saída de bola do adversário;
todas as linhas (três ou quatro) aproximadas, o que inviabiliza qualquer
conforto ao time adversário, seja em que zona do campo for (o maior exemplo
dessa forma de jogo é Paulinho. O melhor volante que surgiu no futebol brasileiro
nos últimos anos rouba, com frequência, bolas no campo de ataque, excluindo a
ideia de que meio-campista defensor joga na intermediária do seu campo); posse
de bola, volume de jogo; e o mais importante: a proposta de jogo corintiana tem
incidência, atua em busca do gol, ainda que a maioria das vitórias do time este
ano tenha sido pela contagem mínima e sem um centro-avante, homem de referência
na frente (Paolo Guerrero voltou a ser essa peça, depois de Ronaldo).
Tite é capaz de
montar uma equipe quase perfeita – a mais entre todos os times brasileiros no
momento – porque é um estudioso de futebol: sabe o que é eficiente ao
Corinthians, sabe o que precisa neutralizar no adversário. Apenas isso faz de
Tite o nome principal para assumir a Seleção, mas a CBF tem vocação ao
retrocesso. Nada disso significa que o técnico vencerá tudo, mas esse
Corinthians é favorito para ganhar o que disputar, sempre rondará os troféus, e
não se assuste se a Fiel invadir o Japão em 2013 outra vez.
O Chelsea, por
sua vez, foi o inverso disso. Embora com bons nomes, não se preparou
coletivamente para o jogo decisivo, sendo um reflexo ainda mais grotesco dos
clubes europeus que disputam o Mundial. Espanhóis, italianos, alemães e
ingleses não dão a mínima para o campeonato, o que não tira o brilho da vitória
sul-americana, brasileira ou mesmo europeia, quando vem.
Nesse cenário,
não dá pra comparar o êxito corintiano aos fracassos santista, no ano passado,
e palmeirense, em 1999. Santos e Palmeiras enfrentaram times muito fortes, cujas
camisas pesam. Como registra um ditado do futebol: se você botar a camisa do
Barcelona ou do Manchester no varal, o varal entorta. A do Chelsea, não. Os Blues não têm história, são o que são
hoje graças ao milionário russo Roman Abramovich, razão pela qual este
blogueiro defendeu a ideia, desde o início de dezembro, de que o Corinthians
chegava ao Japão com boas chances de levar o título, talvez mais probabilidade do
que qualquer outro time brasileiro que se credenciou a disputar o título
mundial.
Isso à parte, o
blog considera esta a única conquista mundial do Corinthians, pelo simples fato
de que o próprio corintiano encarou este momento completamente diferente do que
foi em 2000. O torcedor viveu este Mundial de Clubes desde o apito final do
jogo contra o Boca, nos 2x0 que decretaram o primeiro e histórico título
continental. Ao vencer, o Timão negligenciou, assim como outros clubes
brasileiros em anos anteriores, o campeonato nacional. A ocasião é tão
especial, que é capaz de fazer um clube abandonar um campeonato de 38 jogos,
importante como é, para se concentrar em apenas dois.
E, por ter
apreciado o momento durante quase seis meses, levou uma multidão para o outro
lado do mundo. Falamos aqui de uma cifra entre 25 e 30 mil pessoas. Não dá para
pontuar de forma certeira quantos saíram do Brasil e quantos se deslocaram de
outras partes do mundo para Toyota e Yokohama. O fato é que foi muita gente,
incomparável com anos anteriores, justamente pela imensidão que é a torcida
corintiana. Em 2000, não houve nada parecido, ainda que o torneio tenha sido
disputado no Brasil, com três jogos no Morumbi e um no Maracanã. Nivelar o
campeonato de 2000 ao de agora é submeter o trunfo de 2012 à banalidade. Não há
nada de trivial no que ocorreu há dois dias.
Depois daquele
mal sucedido certame, a FIFA só voltou a organizar um Mundial de Clubes em
2005, e de lá pra cá a fórmula se manteve (entre 2000 e 2004, continuou a
ocorrer o jogo único entre campeão europeu e campeão da América, na chamada
Copa Intercontinental, disputada desde 1960). Sob a nova fórmula, São Paulo,
Internacional e Corinthians foram os clubes brasileiros vitoriosos, o que não
significa que o modelo seja o ideal. Ao contrário, por destinar uma vaga para
cada continente, a entidade máxima que rege o futebol coloca na mesma vala
Europa e Oceania, por exemplo. É claro que as datas são escassas, mas fazer um
torneio com campeão e vice da UEFA Champions League e da Libertadores (as
duas confederações com maior cancha no futebol) poderia dar à disputa mais
atrativos, um peso ainda maior.
A conquista do
Timão é expressiva. O clube, que sempre fora muito forte dentro do país,
alcançou abrangência mundial em 2012, porque o Corinthians era grande demais
para ter feitos apenas domésticos, e por isso era motivo de chacota de torcidas
rivais. A organização política à que o clube se propõe desde 2008, passando
pelo precioso e importante trabalho de marketing que soube explorar, mesmo
tardiamente, a força da sua torcida, reflete o que é o time atual em campo:
disciplinado, seguro e letal aos adversários, uma vez que técnico e atletas
entenderam a forma de jogar, uma proposta vencedora. O Coringão, irretocável, é
o dono do mundo.