quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

ATÉ JUDAS ESCOLHEU UM LADO

No último dia 15, a TV Globo transmitiu a segunda edição do Festival Promessas, ocorrida em São Paulo. O evento, que teve a sua primeira aparição em dezembro do ano passado, no Rio, traz nomes de destaque da música evangélica brasileira. O que mais chamou a atenção no evento não são os músicos ou o público de 100 mil pessoas que acompanhou os shows. Soa estranho a emissora carioca promover um acontecimento ligado às religiões pentecostais.

A Globo, como se vê, é ligada ao espiritismo [posso usar o sufixo ismo ou serei processado por isso?]. Telenovelas e filmes produzidos pelo grupo exemplificam o posicionamento da emissora. Nada fora da norma os donos do veículo se alinharem a esta ou àquela religião. Por sua vez, o catolicismo é tolerado pela emissora, que reconhece a autoridade do papa, por exemplo, mas não em poucas vezes coloca a igreja como palco de ações negativas ou irônicas, também na dramaturgia. Já as nomenclaturas evangélicas não têm muita folga.

Isso acontece muito em função da rival Record ser dirigida pelo bispo Edir Macedo, maior autoridade da Igreja Universal do Reino de Deus, que, dizem as más línguas, usa dinheiro arrecadado nos cultos, capital que não sofre dedução de impostos, para injetar investimentos na TV. E “a regra é clara”: não se pode usar a arrecadação de uma instituição sem fins lucrativos – até onde sabemos, uma igreja, qualquer delas, é uma entidade que não visa lucros – num outro âmbito, cujas finalidades são comerciais.


Como a Rede Record, muito em função disso [segundo as más línguas, de novo], virou a principal adversária da Globo na briga por audiência, a emissora carioca costuma retratar o evangélico, em suas novelas, de forma cômica, idiota ou corrupta. Em Avenida Brasil, havia uma ex-atriz pornô, que abandonara o único filho e o marido no passado por causa do ofício, mas que no presente voltava arrependida, agora não mais atuante em filmes de sacanagem, e sim toda puritana, com os estereótipos da mulher evangélica – antigamente dita crente: cabelo liso longo e saião. No fim, deixou novamente o marido com quem havia se casado de novo, para se entregar ao mundo da promiscuidade. Perceba com que olhos a Globo enxerga o evangelismo...

E não é que no último dia 15 a emissora atuou na contramão do que é de praxe! Ao organizar e transmitir o festival, teve comportamento dúbio: ou a Globo não tem a menor credibilidade, por ficar saltitando de uma ideologia a outra de acordo com o que lhe é de interesse, com o objetivo de, ao mesmo tempo, atacar a concorrente, sem se prejudicar frente a um público de massa formado pelo evangélicos; ou a emissora é digna de elogios, pois não é intransigente: embora por linhas tortas, ataca a Record, mas isso não a impede de se aproximar dos evangélicos promovendo um show gospel.

É elogiável quando alguém não se prende à opinião única e sabe o momento de divergir de si mesmo, provando que o amadurecimento traz uma nova visão, mais coerente, sustentada, inequívoca, sobre a realidade. O problema é que mudar repentinamente de posicionamento pode representar insegurança e um estranho comportamento de atuar conforme as conveniências, contingências de agora. Amanhã, quem sabe?

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