terça-feira, 18 de setembro de 2012

A MULHER E O HOMEM NUM RELACIONAMENTO: a história que os olhos contam ou escondem

De modo geral, o homem tem como característica ser mais contido que a mulher. Com uma exceção aqui e ali, o ímpeto e a delicadeza são traços marcantes femininos, ao passo que a contenção e a dureza marcam o sexo oposto. Enquanto o homem é paciente e ouve os seus iguais um de cada vez, a mulher fala sem parar, junto das demais, e para quem está de fora recai a tarefa indigesta de compreender o que estão a dizer. Sabe Deus como, elas se entendem, mesmo num aparente cenário de completo desentendimento.

Por falar incontrolavelmente, a mulher expõe às companheiras cada retalho da sua vida, mesmo porque escuta das outras passagens triunfantes ou fracassadas. É assim quando o assunto em trânsito são os relacionamentos. Numa conversa entre semelhantes, o papo feminino é aberto, sem pudores. Incensuráveis detalhes do primeiro encontro, do beijo inicial, da língua que não queria ir, mas foi. Da língua que desejava, mas recuou. E a primeira transa? Ah, a primeira transa... A mulher relata com paixão e poesia o ato afetuoso e instintivo. Se só afetuoso, chato. Se só instintivo, também. O fato é que ela comunica, na íntegra, todas as nuances. Ou para se gabar ou para imputar ao acontecimento uma idealização inexistente. Mas ela, incontida, e as outras, insaciáveis, falam e ouvem, ouvem e falam, falam, falam, falam.


O homem, não. É direto, reto e conciso. Num romance breve e descompromissado, ele abre a caixa preta da relação para jogar no ventilador cada mão ousada, cada beijo indiscreto, cada ato pecaminoso e divertido. Ali, a mulher é uma qualquer, desconhecida, alguém quase sem nome, sem vida e, justamente por isso e só por isso, o homem se diverte às suas custas, aproveita para elevar-se a uma grandeza que jamais possuiu, mas eis ali uma oportunidade para que ele minta para si e aos outros e seja visto como o homem que teve aquela mulher. Só que, da mesma forma, ela já fora, facilmente, de outros tantos. Da mesma forma, ele fora dela tão ridiculamente quanto.

Mas se a mulher com quem está não for apenas uma diversão momentânea, então ele com ela não está, mas é. E a redoma minuciosamente construída protege a mulher sua dos comentários alheios. O melindre é tamanho, que nem mesmo ele se permite mencioná-la. É sacra, está acima das palavras que tentarão, sem sucesso, defini-la, pelo simples fato de que aquela que o tem sob o seu domínio paira acima das descrições. Não há referências para caracterizá-la. Ela é o que é. A partir daí, todas as coisas que o casal confidencia são deles. Transformar o sumo belo em discurso, compartilhado com terceiros, é fazer da relação, do subjetivismo, uma pressuposição falível, desfigurada e banal. Para o homem que ama, seja o olhar ou o sexo, nada é ordinário. Essa sensação o intimida a falar, ele se cala, e nem Cristo é capaz de tirar uma revelação dessas.


A mulher, quando ama, fala. Ela torna público o seu contentamento, dividindo com as amigas os meandros da sua relação com alguém. A incontinência feminina torna terceiros cúmplices e parte do contato que tem com outro – ou outra. O homem silencia. Tem pra si, mesmo de modo inconsciente, que não revelar nada sobre ela é uma forma de cultuá-la. Nem o amigo mais fiel tem acesso ao que só o pensamento sabe. Ao contrário da mulher, ao ser impedido de enxerir na intimidade do quase-irmão, ele respeita sem esforçar-se, porque imprime, junto ao amigo, o mesmo sigilo sobre a mulher amada.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

HÁ ONZE ANOS, OSAMA

Há onze anos, nessa exata hora, o tal do Bush estava com a viola em caco, e resumia naquele momento a sua incapacidade que mais tarde completaria, pasme, oito anos de mandato. O texano era o cara errado, na hora errada – ou seria certa? Um ano antes, em uma eleição duvidosa, o republicano ganhou o direito de presidir os Estados Unidos, numa disputa com o democrata Al Gore, então vice de Clinton. Com menos de um ano de gestão, Bush estava com um Osama na mão e duas torres no chão.

O que no início se desenhava como um problema, mais adiante serviu como o trunfo de W. Bush ao segundo mandato, que conseguiu sem grandes dificuldade e indícios de fraude. O presidente usou a sensação de medo, o sentimento de impotência e de que alguma coisa poderia acontecer a qualquer momento para implementar na população americana a dependência do Estado, invertendo-se perigosamente a lógica: a política passava a ser maior que o povo. Os atentados de 11 de setembro, contraditoriamente, foram perfeitos aos anseios de Bush. Ele era, a partir dali, o herói protetor de que tanto os Estados Unidos precisavam.

Lembremos de Bin Laden. Durante a Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética disputavam o alinhamento dos demais países ao capitalismo e socialismo, respectivamente. Quando o exército soviético chegou ao Oriente Médio, o governo americano precisava criar uma força de resistência ao avanço vermelho. No Afeganistão, tente arriscar quem foi financiado e treinado pelos Estados Unidos. Sim, o barbudo mais conhecido, amado e odiado do planeta.


Naquele 11 de setembro, eu ainda na escola cursando o terceiro colegial via a mídia lamentar e o mundo, escandalizado, a acompanhar o que causara tudo aquilo. Ninguém sabia, porque o desconhecimento da história é algo tocante. As bombas soltas em Hiroshima e Nagasaki são eventos normais. As torres incendiadas, não. Guantânamo e o embargo a Cuba, normais. O World Trade Center vindo abaixo, não. O incentivo às ditaduras na América Latina, inclusive no Brasil, coisa pouca. Os atentados, uma afronta. Tudo isso é uma tolice, e deixemos de fora o chororô só pra um dos lados.

É necessário saber analisar tudo aquilo com certa frieza: os mais de três mil mortos no 11/09 eram inocentes. Os que morreram por mãos americanas, também. E não é difícil compreender, até porque um certo físico já propusera: para toda ação existe... Isso mesmo. É muita cafajestagem – e burrice – estraçalhar os outros e julgar que nada acontecerá de volta e, quando ocorre, dar chiliques. Embora Deus me reprove e o capeta vibre, confesso: não me chocou e entristeceu em demasia ver o WTC ruir tão facilmente.

Os mortos naquela manhã de setembro pagaram injustamente pela política externa americana praticada durante anos. Porque em guerras ou em disparates deste nível, os culpados normalmente se escondem, e resta à vítima inglória morrer. Por falar em morte, vítima e Estados Unidos, há exatos 39 anos, também em um 11 de setembro, era deposto, para logo em seguida morrer, Salvador Allende, presidente chileno eleito democraticamente, trocado à força pelo ditador Augusto Pinochet, pois não era visto com bons olhos adivinhe por quem?

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

ESQUEÇA O IPIRANGA, A ESPADA E O GRITO

Celebrar o quê? A nossa independência comprada? Desde quando algo conquistado sem luta tem valor comemorativo? O nosso 7 de setembro foi tão “papo pra boi dormir”, que D. João VI, rei de Portugal, deixou de ser a principal autoridade para D. Pedro I, seu filho, assumir o posto de imperador do Brasil, que, mais adiante, seria do neto, D. Pedro II. Está explicado o nosso atraso político, a morosidade com que as coisas acontecem por aqui até hoje.

Eis aí uma parte da história dos Estados Unidos que me é convincente. Os caras pelejaram pela liberdade, foram a campo lutar, porque quem ganha o direito de ser livre não o é, de fato. Quem dá a liberdade pode tirá-la ou dosar da maneira que lhe convier. Aqui foi assim, sem bagunçar a ordem vigente. Ficou mais fácil aos abastados, e a população olha o feriado de hoje com descaso absoluto, sem compreender o que é emancipar-se.


No Brasil, além de não vir a República, em 1822, a estrutura sócio-econômica, encabeçada pelos próprios portugueses e elite agrária brasileira, ficou como estava. A mudança, no Brasil, foi só de nome – saiu da condição de colônia à de império –, mas essencialmente tudo se manteve. Sem revolução, as hierarquias foram mantidas e nada se sujeitou ao rompimento.

Não é de se estranharem alguns retardamentos: a mulher em condição de desprivilegio no mercado de trabalho; o negro que, embora em grande quantidade no meio social, é escasso nas plateias de cinemas, teatros, faculdades; o tradicionalismo moralista das religiões tenta emperrar avanços úteis ao homem.

Os enraizamentos são fortes. O Brasil avança, sim, mas a demora em alavancar-se parece ser a nossa maior vocação.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

INTIMIDAÇÕES

Quando o homem é só um menino, qualquer garotinha bonita que se insinue faz dele um inseto, uma coisa qualquer, insignificante à máxima potência. O que é um pequeno macho, vestido de camiseta listrada, bermuda até o joelho, meia, tênis e cabelos rigorosamente penteados perto daquela que é, com simplicidade, a mais arrebatadora das miniaturas?

Sem premeditar a sedução, porque a criança, ao contrário de gente grande, ainda não aprendeu a ser má, ela bota o novato em posição desconfortável, tateando até o desprezo, pois a mulher é isso desde sempre: ela tem rosto, voz, jeito e autoridade para tornar o outro diminuto, fazendo com que a sua imposição seja aceita de bom grado.


Aos olhos do adulto, a criança homem não se diferencia da mocinha, de modo que até uma certa idade ninguém ainda sabe do que irá gostar. Mesmo sob o tempo em que se tem uma idéia bastante incompleta sobre os relacionamentos e os afetos, a mulher já é imponente, e cabe ao homem resignar-se nos seus próprios medos e na boa vontade da menina que ele anseia.

Mas as práticas inverteram-se. A mulher não espera, ataca. Deixou de ser o alvo para atuar como seta. Ela vai atrás do que quer, porque antes não podia ter o que queria. Se o dedo do homem a apontasse, lá ia domesticável, só pelo fato de que “o papel da mulher era aquele”, endossado pelos homens, pela igreja e pelas próprias mulheres, algumas delas ainda com saudades “daquele tempo”.


Ainda assim, na comunidade infantil a coisa pouco mudou. Embora isenta de maldade, a criança tem a franqueza que faz dela, não em poucas vezes, uma indigesta engraçada. A naturalidade com que ela debocha e acolhe, ao mesmo tempo, faz das diretrizes modernas impropérios diante do tradicionalismo mirim. Nesse caso, a menina, em sua maioria, ainda não se dá ao desfrute.

Mesmo nessa época de indefinições do papel de cada um no jogo de conquista, há homens aos montes que tremem diante de uma bela mulher. Isso significa que a mulher feia é um ser humano menos elevado que as demais? Não. Significa que ela não tem feições e porte a ponto de provocar no homem a sensação de inferioridade, de fazer a mão gelar e suar, não tornar saltitante o peito masculino, não dar às suas pernas o estremecimento e, tampouco, não fazer a voz gaguejar, deixando as palavras – todas – sem fim. Ou seja? Ela é feia. Ponto.

É de se lamentar o homem que não sucumbe ante a um “não” ou ao receio da negativa. Só o fato de querer alguém e suspeitar uma recusa é o que nos tira da zona de conforto. Quantos recuaram, em virtude do medo de serem recusados ser maior que tudo? Quantos, desses mesmos, não se arrependeram, pois podiam ter ao menos tentado? Quem abole o friozinho na barriga não vive os desenganos e os sabores da vida.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

A ESCOLHA DO MELHOR CANDIDATO (parte II)

[continuação do post anterior]

Todas essas percepções podem pesar a favor ou contra na hora da escolha. Mas nada como conhecer o passado do candidato. A história de alguém, seja da política ou de qualquer outra área, diz muito sobre as intenções e a capacidade técnica do postulante a cargo público. O histórico do candidato como político e como pessoa, enfim, a trajetória, suas realizações, seus posicionamentos enquanto munícipe dão os traços do que será como representante na esfera política. Outra análise importante a ser feita é sobre o partido e/ou coligação. Apesar dos partidos se assemelharem em várias prerrogativas, inclusive na corrupção e no vislumbre ao poder, cada um detém uma concepção diferente de gestão, o modo como conduzir a coisa pública.

Como já discutido aqui, na última publicação desta coluna, os planos de governo surgem como instrumentos que direcionam o eleitor, mas o trabalho do morador não deve se restringir a isso. É muito pouco pela importância de todo esse processo. Mesmo porque de muitas promessas mirabolantes vivem os projetos de não poucos candidatos. Fala-se o discurso grandioso, e não falta muito para o postulante tirar o terno, os óculos e voar, super-homem que é. Exemplo mentiroso do “eu vou fazer”: a função do vereador não é executar. Se ele te disser que irá fazer mundos e fundos, duvide. O trabalho dele é com as leis municipais e a fiscalização de como o prefeito gere a riqueza do município e o que é feito ou não de benfeitoria social com a verba pública.

Da parte do prefeito, qualquer promessa de construção disso e daquilo deve ser avaliada com prudência. Getulina é uma cidade pequena, de baixa atividade industrial, com comércio fraco e agropecuária menos pujante do que no passado. Com os três setores da economia esfacelados, fora a inadimplência, não precisa ser o melhor dos economistas para concluir que o montante financeiro com o qual Getulina vive é proveniente do Estado ou da Federação. Portanto, fazer qualquer coisa maior não depende só da boa vontade e do discurso dos candidatos ao Executivo.



Mais uma prática que destoa em período eleitoral é a leva de candidatos simpáticos, outrora fechados, desconhecedores do mundo e alheios ao que predomina à sua volta. Alguma coisa contra quem é assim? Não. O que não dá é alguém virar bom moço por uma condição circunstancial, sendo oportunista num momento em que ser “legal” pode lhe trazer votos. De um dia a outro, porque é candidato, cumprimenta todo mundo, dá e aceita o tapinha nas costas, o sorriso fica gratuitamente exposto, não há economia de palavras e passa a pisar em lugares à que nunca fora antes, com o qual jamais se preocupara. Mas o eleitor está atento às mudanças de comportamento repentinas.

O candidato ideal não existe. Se ele existisse, não seria ideal. Mas há critérios que o eleitor cria, podendo orientá-lo no sentido de definir o melhor para a cidade. É evidente que a tarefa do cidadão se complica, pois a política é o campo das máscaras, das “personas”. Aquele que você vê falando não é o candidato: é alguém que o próprio candidato queria ser. Perceba, caro leitor, que voltamos a falar de idealizações, fantasias. Até por isso a nossa tarefa também é dura no momento de diferenciar o super-herói do mero mortal como tu e eu. Além do blá-blá-blá sem propósito concreto, a história do candidato e a sensatez na hora de tornar-se público vão te auxiliar, se não a escolher, pelo menos a descartar uns e outros.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A ESCOLHA DO MELHOR CANDIDATO (parte I)

Antes, sempre é pertinente lembrar: o município pagará, a partir de 1º de janeiro de 2013, ao ocupante do cargo de prefeito a quantia de R$ 10 mil a cada mês; ao vice-prefeito e ao presidente da câmara, o valor será de R$ 4,5 mil mensais; e os vereadores irão ganhar, a cada 30 dias, o subsídio de R$ 3 mil. Sim, em meio a esses números todos está o seu dinheiro, financiando a política da cidade com cifras que, possivelmente, nem beiram as suas. E não surpreende mais o getulinense ver a política viver do cargo, ao invés de viver para ele. Mas não dá para afirmar que todos os ocupantes ou candidatos são assim.

Para as eleições de 7 de outubro,  há cinco candidatos a prefeito e 74 pleiteiam nove vagas na câmara de vereadores. Do quadro político atual, os nove legisladores são candidatos (dois deles anseiam a prefeitura – Jota e Toninho Maia –, enquanto os outros sete – Pina Auto Escola, Dinaldinho, Carlito, Mário Nohara, Maninho, Toninho Lima e BetoBica – tentam a vereança novamente), além do vice-prefeito Gutão que, desta vez, encabeça uma das chapas à prefeitura. Apenas Rogério, o prefeito em mandato até o fim deste ano, não é candidato a nada. Vamos, então, ao postulante dito ideal.

Retomando Aristóteles, muito do que se tem na política passa por ele. E não é descartável ao candidato e ao eleitor ler algumas de suas principais produções, como “Ética”, “Política” e “Ética a Nicômaco”. Embora o grego tenha escrito suas reflexões no século IV a.C., a genialidade do sujeito se comprova pela atemporalidade da sua obra. Aristóteles ainda é atual. Só que nem tudo o que o filósofo escreveu durante seu tempo de vida (384-322 a.C.) pode ser transposto, de forma automática, para a conjuntura atual. Àquela época, o cidadão mais velho, com maior experiência e, por isso, espírito nobre e preparado, era o indicado a assumir posto político.


Hoje em dia, o eleitor parece até evitar o candidato mais calejado, que, no inconsciente coletivo, salta como o mais corrupto, aquele que sabe enganar melhor. De acordo com o senso comum, a alternativa para isso é o jovem, inexperiente, mas com vontade de mudar, menos acomodado e, talvez, não enquadrado nas faces corrompidas do sistema político. Entretanto, lembremos: a culpa dos desvios não é da instituição. Quem escorrega nas suas próprias fragilidades é o homem. É necessário crer na política, porque impossível não haver gente capacitada e inalienável para isso.

Independente de idade, os que compõem a corrida eleitoral fazem, sem perceber, o anti-marketing. Já é tempo de botar o ouvido nas ruas para entender que a população despreza a propaganda exagerada. Falamos aqui da sujeira causada pelos papéis jogados – não por todos – que, vamos combinar, não parecem ser a melhor forma de se auto-promover, pois os “santinhos” vão ao chão e lá ficam. O outro ponto de discórdia é a propaganda sonora, os “jingles”, as paródias das músicas de maior sucesso no momento. Além de pouco criativas, são lançadas a um volume muito alto, em horários (cedo demais) e dias (sábados e domingos) impróprios e de forma insuportavelmente repetitiva. Só é preciso entender que quem faz isso dá voto a um concorrente mais contido, quieto.

[Continua no post de amanhã]