Quando o homem é
só um menino, qualquer garotinha bonita que se insinue faz dele um inseto, uma
coisa qualquer, insignificante à máxima potência. O que é um pequeno macho,
vestido de camiseta listrada, bermuda até o joelho, meia, tênis e cabelos
rigorosamente penteados perto daquela que é, com simplicidade, a mais
arrebatadora das miniaturas?
Sem premeditar a
sedução, porque a criança, ao contrário de gente grande, ainda não aprendeu a
ser má, ela bota o novato em posição desconfortável, tateando até o desprezo,
pois a mulher é isso desde sempre: ela tem rosto, voz, jeito e autoridade para
tornar o outro diminuto, fazendo com que a sua imposição seja aceita de bom
grado.
Aos olhos do
adulto, a criança homem não se diferencia da mocinha, de modo que até uma certa
idade ninguém ainda sabe do que irá gostar. Mesmo sob o tempo em que se tem uma
idéia bastante incompleta sobre os relacionamentos e os afetos, a mulher já é
imponente, e cabe ao homem resignar-se nos seus próprios medos e na boa vontade
da menina que ele anseia.
Mas as práticas
inverteram-se. A mulher não espera, ataca. Deixou de ser o alvo para atuar como
seta. Ela vai atrás do que quer, porque antes não podia ter o que queria. Se o
dedo do homem a apontasse, lá ia domesticável, só pelo fato de que “o papel da
mulher era aquele”, endossado pelos homens, pela igreja e pelas próprias
mulheres, algumas delas ainda com saudades “daquele tempo”.
Ainda assim, na
comunidade infantil a coisa pouco mudou. Embora isenta de maldade, a criança
tem a franqueza que faz dela, não em poucas vezes, uma indigesta engraçada. A naturalidade
com que ela debocha e acolhe, ao mesmo tempo, faz das diretrizes modernas
impropérios diante do tradicionalismo mirim. Nesse caso, a menina, em sua
maioria, ainda não se dá ao desfrute.
Mesmo nessa época
de indefinições do papel de cada um no jogo de conquista, há homens aos montes
que tremem diante de uma bela mulher. Isso significa que a mulher feia é um ser
humano menos elevado que as demais? Não. Significa que ela não tem feições e porte
a ponto de provocar no homem a sensação de inferioridade, de fazer a mão gelar
e suar, não tornar saltitante o peito masculino, não dar às suas pernas o
estremecimento e, tampouco, não fazer a voz gaguejar, deixando as palavras –
todas – sem fim. Ou seja? Ela é feia. Ponto.
É de se lamentar
o homem que não sucumbe ante a um “não” ou ao receio da negativa. Só o fato de
querer alguém e suspeitar uma recusa é o que nos tira da zona de conforto. Quantos
recuaram, em virtude do medo de serem recusados ser maior que tudo? Quantos,
desses mesmos, não se arrependeram, pois podiam ter ao menos tentado? Quem abole
o friozinho na barriga não vive os desenganos e os sabores da vida.
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