28 de abril de 2006. O Barão Vermelho faria – como de fato
fez – um show em Marília como evento de boas-vindas aos calouros da
Universidade de Marília dadas pelo DCE (Diretório Central de Estudantes-Unimar),
em seu projeto intitulado Baile do Bixo.
E o que eu tenho a ver com isso? O Diretório possuía um veículo de comunicação
mensal, intitulado Gregos & Troianos
(G&T), e eu, além de outros estudantes de Jornalismo, estagiava nesse
informativo.
Na tarde daquela sexta-feira, horas antes do show, a banda
havia acabado de chegar à cidade, hospedando-se no Max Plaza Hotel, na Rua
Maranhão, próximo à Galeria Atenas (perdoe-me
pelos merchans). Meu chefe, Luccas
(não digitei errado, é com dois “C’s”), intimou Vicão e eu a irmos até lá, em
busca de uma entrevista e fotos. Detalhe: Luccas, presidente do DCE, disse: “está
tudo combinado com a banda, os integrantes vão receber vocês para uma conversa”.
É óbvio que era mentira.
O fato é que fomos, e uma curta entrevista com Frejat foi
possível. As cinco perguntas que eu havia feito às pressas colheram respostas
gravadas num celular LG (outro merchan),
do próprio Vico (Vico ou Vicão é o Vinícius, camarada de estágio e amigo da
faculdade). A única foto registrada foi perdida. Dani, companheira nossa de
DCE, apagou a imagem, muito provavelmente por ter ficado puta, pois queria ela
ter estado lá (brincadeirinha, Dani).
Abaixo, um pedaço bem pequeno de um dia marcante.
Em meio à
possibilidade de não realizar esta entrevista no camarim momentos antes do show,
saímos (Vinícius e eu) às ruas da cidade ansiosos e apreensivos. Ansiosos
porque entrevistaríamos um dos grandes ícones do rock nacional. Apreensivos,
vendo que havia uma chance de não conseguirmos um depoimento sequer.
Roberto Frejat
concedia entrevista coletiva, naquele instante, no hotel em que estava
hospedado. Quando chegamos, não havia mais nada. Mas havia alguém: um dos
seguranças da banda.
Simpático e prestativo,
ouviu-nos com atenção e entendeu a nossa necessidade de disponibilizar no
informativo da entidade um depoimento da banda por meio do seu vocalista, que
tocaria mais tarde em Marília. Dez minutos depois, Frejat chegou ao saguão do
hotel, onde o segurança passou a ele a nossa intenção. O “Rei dos Blues” nos
recebeu na hora e falou, com exclusividade, ao G&T.
O início, passagens da
história, Cazuza e o novo trabalho foram assuntos que Frejat se prontificou a
responder.
Com a palavra, para
você, leitor do informativo, Roberto Frejat, vocalista do Barão Vermelho.
[G&T] Toda banda, ao se formar, decide se reunir
com algum intuito, seja ele financeiro ou ideológico. No caso de vocês, com
qual propósito o grupo Barão Vermelho se juntou?
[FREJAT] Na
verdade, o grupo começou com o Guto e o Maurício. Eles já estavam querendo
fazer uma banda de rock. Isso na época que a gente começou, em 1981, não tinha
o menor potencial comercial. A ideia era fazer uma coisa que a gente gostasse,
e eles conseguiram uma data para fazer um show de uma banda, e essa data foi o
primeiro objetivo para a banda ser formada.
[G&T] Quando participaram do Rock in Rio 85, vocês gravaram o primeiro disco ao vivo da
banda. Por esse grandioso evento ter acontecido apenas três vezes, você acha
que o festival não engrenou?
[FREJAT] Não. Na
verdade, eu acho o Rock in Rio um
grande sucesso como marca, é o festival conhecido no mundo inteiro, que é
difícil de acontecer quando um evento desse tem destaque no Brasil. Um evento
desse tamanho dificilmente é comportado anualmente: primeiro pela quantidade de
artistas que é preciso colocar; depois, se ficar anual, acaba exigindo uma
certa rotatividade de artistas, e nem todos têm disponibilidade para vir ao
Brasil. O Rock in Rio abriu a porta
para os artistas internacionais virem ao país. A partir do festival, o Brasil
ficou confiável para se fazerem shows.
[G&T] Neste novo trabalho, o Ao Vivo MTV, vocês inseriram o Cazuza em uma das
músicas [Codinome Beija-Flor]. De quem foi a ideia? Por quê?
[FREJAT] A ideia
veio do Guto e do Maurício, porque todos esses shows ao vivo da MTV têm
convidados. Nenhuma pessoa como convidada especial seria mais coerente com o
trabalho do que o Cazuza. Fazer com que ele estivesse ali com a gente seria
sensacional. O Guto sugeriu Codinome
Beija-Flor, que é uma música belíssima. A partir disso, só faltou resolver
os problemas técnicos para que acontecesse. É difícil fazer esse “encontro”,
mas a gente tem feito e fica um momento muito emocionante do espetáculo.
[G&T] Por que a música O tempo não para foi escolhida para o repertório do CD e
DVD, já que é de autoria do Cazuza e do Arnaldo Brandão, e Ideologia, música da parceria Frejat/Cazuza, não foi
gravada?
[FREJAT] A gente
achou que O tempo não para era uma
letra muito atual, uma música que cabia uma interpretação do Barão. Talvez um
discurso muito pessoal do Cazuza não funcionasse. E eu tinha em mente que Ideologia, mesmo sendo escrita por mim
também, possuía esse discurso próprio do Cazuza.
[G&T] Como vem sendo a receptividade do público
com relação a este novo trabalho de vocês, com o CD duplo e o primeiro DVD?
[FREJAT] Tudo
está correndo da melhor maneira possível, acima daquilo que esperávamos. E o
melhor de tudo isso é que a gente percebe que todas as faixas etárias
acompanham o nosso trabalho. Ainda hoje nós vemos, em todos os lugares em que
fazemos shows, pessoas mais novas do que a gente, da nossa idade e até mais
velhas assistindo e cantando as nossas músicas. Por causa disso, este trabalho
atual está sendo maravilhoso.