quarta-feira, 24 de julho de 2013

DEUS SEJA LOUVADO! 100 mulheres que comprovam que você não veio do macaco

Qual a importância de uma lista contendo – na humilde visão desde blogueiro – as 100 mulheres mais bonitas dos filmes estrangeiros? Absolutamente, nenhuma. Confesso que o mote principal surgiu após ver três filmes, em sequência, da não pouco bela Scarlett Johansson, e perceber que depois tudo ficava mais feio. E comecei a pensar em outras que me produziam o mesmo efeito: o dom de anestesiar o corpo e botar qualquer senso de beleza no divã, tamanha a bondade que a natureza despendeu a essas criaturas e a dificuldade de julgar a perfeição.

No princípio, escolheria 50 mulheres que eu havia visto nos filmes. Porém, ao perceber que Ava Gardner, Brigitte Bardot, Brooke Shields, Megan Fox e Rita Hayworth ficariam de fora (sim, eu jamais vi qualquer filme que as tivesse como atrizes), abri a exceção de colocar as que desconhecia e as famosas que não poderiam deixar de estar, para não tornar a coisa injusta. Mesmo assim, sobrarão pessoas a me xingar, a dizer que “aquela fora da lista é mais bonita que esta”. Tomara mesmo que isso aconteça...

Além dos nomes que brotaram, aos poucos, da minha lembrança, usei o Google Imagens e o portal Adoro Cinema para complementar a pesquisa. Selecionei as mulheres com base, apenas, no rosto, sem considerar se a bunda de uma é maior que da outra, sem levar em conta o talento dessa ou daquela para atuar. Razão pela qual a incrível Meryl Streep não está na relação. E o que é mais evidente nessa coisa de beleza: talvez você olhe pra alguma escolha minha, e pense: “o que ele viu nessa criatura?”.

Não quis me arriscar a colocá-las num ranking – elas serão dispostas em ordem alfabética, contendo, além do nome, a nacionalidade, foto e filmes em que atuaram. E fiz isso por um único motivo: é impossível julgar seres tão olimpianos. De todo modo, se é pra escolher uma, daquela que ocuparia o posto de número 1, diria o nome da primeira que lembrei, ainda quando rascunhava à caneta os primeiros nomes: Marilyn Monroe.

*Os filmes com asteriscos são os que eu não vi


Agnese Nano (Itália)
  
Cinema Paradiso


Amanda Peet (EUA)

Alguém tem que ceder; De repente é amor; Syriana; 2012


Amanda Seyfried (EUA)

Mamma Mia!; O preço da traição; Querido John; Cartas para Julieta; Os Miseráveis

Angelina Jolie (EUA)

O colecionador de ossos; Amor sem fronteiras; Roubando vidas; Alexandre; O bom pastor; A troca; O turista


Anita Ekberg (Suécia)

A doce vida*


Anne Hathaway (EUA)

O segredo de Brokeback Mountain; O diabo veste Prada; O casamento de Rachel; Idas e vindas do amor; Amor & outras drogas; Alice no país das maravilhas; Os miseráveis; Batman: o cavaleiro das trevas ressurge

Audrey Hepburn (Bélgica)

A princesa e o plebeu; Bonequinha de luxo


Audrey Tautou (França)

O fabuloso destino de Amélie Poulain*; O código da Vinci; Coco antes de Channel*


Ava Gardner (EUA)

Os assassinos*; Mogambo*


Brigitte Bardot (França)

O desprezo*; Masculino, feminino*


Brooke Shields (EUA)

A lagoa azul*; Amor sem fim*; Hannah Montana*


Candice Bergen (EUA)

Gandhi; Miss Simpatia*


Capucine (França)

A pantera cor-de-rosa*


Caterina Murino (Itália)

007: Cassino Royale


Catherine Deneuve (França)

A bela da tarde*; Pele de asno; Dançando no escuro; Persépolis


Catherine Zeta-Jones (País de Gales)

A máscara do Zorro; Traffic; O Terminal


Charlize Theron (África do Sul)

Advogado do Diabo; Doce Novembro*; Branca de Neve e o Caçador


Charlotte Rampling (Inglaterra)

O porteiro da noite*; A lista: você está livre hoje?; A duquesa*


Claudia Cardinale (Itália)

Oito e meio*; Era uma vez no Oeste


Connie Nielsen (Dinamarca)

Advogado do Diabo; Gladiador


Cyd Charisse (EUA)

Cantando na chuva


Dalida (Egito)

Diga-me sobre o amor*; O desconhecido em Hong Kong*


Daryl Hannah (EUA)

Um amor pra recordar; Kill Bill 1 e 2


Debbie Reynolds (EUA)

Cantando na chuva; O Guarda-Costas


Diane Kruger (Alemanha)

Tróia; Bastardos Inglórios


Diane Lane (EUA)

Chaplin; Infidelidade; Sob o sol da Toscana; Noites de Tormenta


Elisha Cuthbert (Canadá)

Show de vizinha*; A casa de cera; Ironias do amor*


Elsa Pataky (Espanha)

Velozes e Furiosos 5 e 6*


Emma Roberts (EUA)

Idas e vindas do amor


Eva Green (França)

Cruzada; 007: Cassino Royale


Eva Longoria (EUA)

Sentinela


Eva Mendes (EUA)

Por um triz; Hitch: conselheiro amoroso*; Motoqueiro Fantasma*; Apenas uma noite


Fanny Ardant (França)

Elizabeth; Paris, te amo*


Françoise Fabian (França)

A bela da tarde*


Freida Pinto (Índia)

Quem quer ser um milionário; Você vai conhecer o homem dos seus sonhos*; Planeta dos Macacos: a origem*


Gillian Anderson (EUA)

Arquivo X: o filme*; O último Rei da Escócia


Golshifteh Farahani (Irã)

Rede de Mentiras


Grace Kelly (EUA)

Janela indiscreta; Disque M para Matar


Halle Berry (EUA)

Momento Crítico; X-Men*; 007: um novo dia para morrer*; 


Ingrid Bergman (Suécia)

Casablanca; Quando fala o coração*; Sob o signo de capricórnio*; Sonata de Outono*;


Isabella Rossellini (EUA)

Veludo Azul*; A morte lhe cai bem*; 


Isabelle Adjani (França)

A história de Adèle H.*; O inquilino*; Nosferatu*;


Jane Fonda (EUA)

Julia*; A sogra


Jennifer Connelly (EUA)

Uma mente brilhante; Hulk*; Casa de areia e névoa*; Pecados íntimos; Diamante de sangue; Traídos pelo destino; O dia em que a Terra parou*


Jennifer Lopez (EUA)

Selena*; Anaconda; Dança Comigo


Jessica Alba (EUA)

Sin City*; Quarteto Fantástico*; Awake: a vida por um fio; Idas e vindas do amor


Julia Roberts (EUA)

Uma linda mulher; Tudo por amor; Todos dizem eu te amo*; Teoria da conspiração; O casamento do meu melhor amigo; Um lugar chamado Notting Hill; Erin Brokovich*; Onze homens e um segredo; O sorriso de Mona Lisa; Closer: perto demais; Jogos do poder; Um segredo entre nós; Idas e vindas do amor; Comer, rezar, amar; Larry Crowne*; Espelho, espelho meu*


Juliette Binoche (França)

Je vous salue, Marie; A insustentável leveza do ser*; O morro dos ventos uivantes; A trilogia das cores; O paciente inglês; Chocolate; Em minha terra; Paris, te amo*; Cópia fiel*


Kate Beckinsale (Inglaterra)

Pearl Harbor; Escrito nas estrelas*; Anjos da noite*; Van Helsing; O aviador*; Click; Temos vagas;


Kate Winslet (Ingleterra)

Almas gêmeas; Titanic; A vida de David Gale; Em busca da terra do nunca*; Brilho eterno de uma mente sem lembranças; Pecados íntimos; O amor não tira férias; O leitor; Foi apenas um sonho; Deus da carnificina*


Katherine Heigl (EUA)

Ligeiramente grávidos*; Vestida pra casar; A verdade nua e crua*; Par perfeito*; Juntos pelo acaso*


Kathleen Turner (EUA)

Corpos ardentes*; Tudo por uma esmeralda; A jóia do Nilo*; A honra do poderoso Prizzi*; A guerra dos Roses*; Dois espiões e um bebê*; Marley & Eu


Katie Holmes (EUA)

Por um fio; Batman Begins;


Keira Knightley (Inglaterra)

Piratas do Caribe 1, 2* e 3*; Rei Artur; Orgulho e preconceito; Desejo e reparação; A duquesa*; Apenas uma noite; Um método perigoso*; Anna Karenina*


Kelly McGillis (EUA)

Top Gun: ases indomáveis; À primeira vista*


Kerry Washington (EUA)

Ray*; O último Rei da Escócia; Django Livre


Kim Basinger (EUA)

007: nunca mais outra vez*; Nove e meia semanas de amor*; Batman; Los Angeles: cidade proibida*; Celular: um grito de socorro; Sentinela; A morte e vida de Charlie*


Kim Novak (EUA)

Um corpo que cai; Sortilégio de amor*


Laetitia Casta (França)

Gainsbourg*; A negociação


Lauren Bacall (EUA)

Assassinato no Expresso Oriente*; Louca Obsessão; Dogville


Laura Elena Harring (EUA)

Um ato de coragem; Cidade dos sonhos; Império dos sonhos; O amor nos tempos do cólera


Laura Morante (Itália)

O quarto do filho; No limite das emoções


Lesley-Anne Down (Inglaterra)

A nova transa da Pantera Cor-de-Rosa


Liv Tyler (EUA)

Beleza Roubada; Armageddon; O senhor dos anéis 1, 2 e 3


Elizabeth Taylor (Inglaterra)

Um lugar ao sol*; Assim caminha a humanidade*; Cleópatra; Adeus às ilusões*; Quem tem medo de Virgínia Woolf*; O pecado de todos nós*


Mandy Moore (EUA)

Um amor pra recordar; Curtindo a liberdade*; Minha mãe quer que eu case*; Licença pra casar*; Enrolados*


Maria Grazia Cucinotta (Itália)

O carteiro e o poeta; 007: o mundo não é o bastante*; O Ritual*


Marilyn Monroe (EUA)

Os homens preferem as loiras; Como agarrar um milionário; O rio das almas perdidas; O pecado mora ao lado; Nunca fui santa*; Quanto mais quente, melhor*;  Adorável pecadora*


Marion Cotillard (França)

Piaf; Nine; Inimigos públicos; A origem; Meia-noite em Paris; Batman: o cavaleiro das trevas ressurge


Megan Fox (EUA)

Transformers*; Garota Infernal*


Melanie Laurent (França)

Bastardos Inglórios; Truque de Mestre*


Melissa George (Austrália)

Cidade dos sonhos; Fora de Rumo; Turistas*


Michelle Pfeiffer (EUA)

Scarface; O feitiço de Áquila; Ligações Perigosas; Batman: o retorno*; A época da inocência*; Íntimo & Pessoal*


Mila Kunis (EUA)

O livro de Eli; Cisne Negro; Amizade Colorida*; Ted; Oz, Mágico e Poderoso*


Milla Jovovich (Ucrânia)

Chaplin; Resident Evil*; Visões de um crime*; Os três mosqueteiros*; Os mercenários 3*


Minka Kelly (EUA)

O Reino; (500) dias com ela; Colega de quarto*


Monica Bellucci (Itália)

Malena*; Irreversível; No limite das emoções; Matrix 2 e 3*; Lágrimas do Sol; A Paixão de Cristo


Naomi Watts (Inglaterra)

Cidade dos sonhos; O chamado; King Kong; O despertar de uma paixão; Império dos sonhos; Senhores do crime; J. Edgar*; A casa dos sonhos


Nastassja Kinski (Alemanha)

Tess: uma lição de vida*; Paris, Texas*; tão longe, tão perto; Império dos sonhos


Natalie Portman (EUA)

Todos dizem eu te amo*; Em qualquer outro lugar*; Onde mora o coração*; V de Vingança; Paris, te amo*; Um beijo roubado; A outra; As coisas impossíveis do amor; Thor*; Sexo sem compromisso; Cisne Negro


Nicole Kidman (EUA)

Dias de Trovão; Batman Eternamente*; O Pacificador; De olhos bem fechados; Moulin Rouge; As horas; O quarto do pânico; Dogville; Reencarnação; A pele; Autrália; Nine; Reféns*


Paula Patton (EUA)

Hitch: conselheiro amoroso*; Déjà Vu; Preciosa; Missão Impossível: protocolo fantasma*


Paulette Goddard (EUA)

Tempos Modernos; O Grande Ditador; Vendaval de Paixões*


Penelope Cruz (Espanha)

Carne trêmula; Tudo sobre minha mãe; Terra de paixões; Vanilla Sky; Profissão de risco*; Bandidas*; Volver; Vicky Cristina Barcelona; Fatal*; Nine; Abraços partidos; Piratas do Caribe 4*; Para Roma com amor*


Rachel McAdams (Canadá)

Meninas Malvadas; Diário de uma paixão; Te amarei pra sempre*; Sherlock Holmes 1 e 2; Intrigas de Estado; Uma manhã gloriosa*; Meia-noite em Paris


Rachel Weisz (Inglaterra)

Beleza Roubada; A múmia; Círculo de Fogo*; O Júri; O Jardineiro Fiel*; Constantine; Fonte da Vida; Eragon*; A casa dos sonhos; O legado Bourne*; Oz, Mágico e Poderoso*


Romy Schneider (Áustria)

O Sol por testemunha*; O processo*


Rosario Dawson (EUA)

Homens de Preto 2*; O preço de uma verdade; Alexandre; Sin City 1 e 2*; À prova de morte*; Sete Vidas


Rose Byrne (Austrália)

Tróia; Presságio*


Salma Hayek (México)

A balada do pistoleiro*; O Corcunda de Notre Dame: o filme*; Amor em chamas*; Traffic; Frida; Era uma vez no México*; Bandidas*; Pergunte ao pó*


Sandra Bullock (EUA)

O Demolidor; Velocidade Máxima 1 e 2; Enquanto você dormia*; A Rede; Quando o amor acontece*; Da magia à sedução*; Miss Simpatia*; Amor à segunda vista*; Crash: no limite*; A casa do lago; Um sonho possível; A proposta; Tão forte, tão perto*


Scarlett Johansson (EUA)

Moça com brinco de pérola*; Falsária*; A ilha; Match Point; Scoop: o grande furo*; O grande truque; A Dália Negra*; Vicky Cristina Barcelona; The Spirit: o filme*; A outra; Compramos um Zoológico*; Hitchcock*


Sharon Stone (EUA)

As minas do Rei Salomão*; Instinto Selvagem; Invasão de Privacidade; Rápida e Mortal; O Especialista; Cassino*; Diabolique*; Garganta do Diabo


Sofia Vergara (Colômbia)

Noite de Ano Novo*


Sophia Loren (Itália)

Quo Vadis*; El Cid*; Arabesque*; A condessa de Hong Kong*; Os girassóis da Rússia*; Um dia muito especial*; Prêt-à-Porter*; Nine


Sophie Marceau (França)

Coração Valente; Sonho de uma noite de verão*; 007: o mundo não é o bastante*;


Stéphane Audran (França)

O discreto charme da burguesia; A festa de Babette*


Ursula Andress (Suiça)

007: contra o satânico Dr. No*; 007: Cassino Royale (primeira versão)*; Fúria de Titãs (primeira versão)*


Vivien Leigh (Índia)

E o vento levou*; Uma rua chamada pecado


Winona Ryder (EUA)

Edward: Mãos de Tesoura; Drácula de Bram Stoker*; A Época da Inocência*; A Casa dos Espíritos; As Bruxas de Salem; Alien: A Ressurreição*; Celebridades*; Outono em Nova York*; Cisne Negro

quarta-feira, 10 de julho de 2013

NEM FAZ TANTO TEMPO ASSIM, MAS TUDO PARECE TÃO ANTIGO

Quando eu tinha 5 anos, tudo era diferente. O que me permite usar a expressão “no meu tempo...”, qualquer coisa que denote uma certa velhice de quem fala.

No meu tempo, os telefones públicos, os quais denominávamos orelhões, eram de duas cores: um vermelho, para se fazer uma ligação local; outro azul, que usávamos para falar com quem morava fora, só interurbano. Nada de cartões, como hoje. Era tudo na base da ficha. Se não botasse a dita cuja na hora certa, o contato caía e a ligação deveria ser refeita.

No meu tempo, não se jogava vídeo-game pelo computador ou usando disco. Naquela época, nem computador havia – ao menos para a classe média emergente. Os jogos de que desfrutávamos estavam nos cartuchos (ou fitas) do Atari. O meu não era Atari. Era Dactar. Mas as fitas de um cabiam no outro, e era uma festa maluca jogar Enduro ou River Raid. Depois vieram os aparelhos mais modernos: Master Sistem, Mega Drive e Super Nintendo.

No meu tempo, quando tocava a vinheta do “Plantão” da Globo, era aumento do combustível na certa. Sempre “a partir da meia-noite”. Lá íamos meu pai e eu ao posto, já noite, pra pegar a “gasosa” ainda mais barata. No mercado, os rapazes com as “maquininhas de preço” nas mãos, várias vezes no mesmo dia, denunciavam que a inflação era galopante, e o Brasil não se insinuava como hoje.


No meu tempo, a gente não entrava em aeroporto e shopping. No lugar onde só rico pisava, a classe média passava longe. Quando entrava, era só pra conhecer. Congonhas, pra mim, era apenas atração turística. Quem andava ali era magnata, o mesmo que portava os primeiros celulares, os tijorolas. Os que andavam pelas ruas falando aos celulares eram vistos com reverência, porque “só gente rica usa telefone móvel”.

No meu tempo, não tinha injeção eletrônica nos automóveis. Tinha o “afogador”, um comando do carro junto ao painel que eu puxava logo depois de dar a partida. Afinal, antes do meu pai sair, era necessário botar o veículo pra funcionar alguns minutos: era recomendado pôr a bagaça em movimento só depois de ficar um tempo ligado. Ah, é claro: antes de dar a partida, nunca deixava de pisar umas quatro ou cinco vezes no acelerador, justamente para que o combustível fosse injetado do tanque ao motor. Do contrário, não pegava. Quando isso ocorria, no meu tempo, a gente soltava na “banguela” pra pegar no tranco.

No meu tempo, não se ouvia música “baixada”. Era no vinil (LP), depois na fita cassete (K7. Por gentileza, não pense bobagem), até que veio o CD. A primeira fita de que me lembro adquirir foi Thriller, de MJ. Assim como o vinil, tinha o lado A e lado B (o único LP que tive foi da Xuxa. Sim, isso é motivo de muita vergonha, algo que gostaria de extirpar da minha infância). Só com o CD que se parou com aquele negócio de vira aqui, vira ali. O meu primeiro disco compacto? Mamonas Assassinas, a banda que gravou um único disco, mas que foi febre no país inteiro.


No meu tempo, a gente não assistia Avatar, Harry Potter, “Saga” Crepúsculo e Senhor dos Anéis. Naquela época, era Rambo, Comando para matar, Rocky e Top Gun. Blu-Ray, DVD? Nada! Era fita, amigo. Daquelas que quando o filme chegava ao fim, a gente tinha que rebobinar. Era a pré-história, algo de que não nos dávamos conta, e que hoje causa uma deliciosa nostalgia.

No meu tempo, eu ia pra rua jogar bola. Na terra, na grama, no cimento, sempre descalço. Também andava de bicicleta e nadava. A tecnologia não me corrompia, assim como corrompe a moçada de hoje. Talvez porque naquela época esses equipamentos que encantam, facilitam e sedentarizam (seria esse um neologismo?) não podiam ser comprados tão facilmente. Mas creio que eu não trocaria meus carrinhos de fricção por nada.

No meu tempo, homem que era homem fazia a declaração do imposto de renda no papel. Preenchia o formulário todo – primeiro a lápis, depois à caneta – e entregava numa agência bancária. Havia qualquer coisa romântica em todo aquele primitivismo. Hoje é tudo muito sofisticado.

No meu tempo, os desenhos eram outros. Não sei os que passam agora, mas dificilmente Scooby Doo, Popeye, Caverna do Dragão, Thundercats, Cavalheiros dos Zodíacos, Heman, atraem as crianças de hoje. Elas já nascem evoluídas, praticamente falando, esnobando a ideia de papai-noel, sem crer na magia dos desenhos. Mas quem disse que desenho é só pra criança?

  
No meu tempo, diziam que a rapariga saía do ensino médio pra fazer magistério. Ah, como as moças daquela época sonhavam em ser professoras. Era quase que uma vocação inata. Hoje, arrisque perguntar prum jovem do terceiro colegial se ele pretende prestar vestibular pra virar professor. Não haverá uma mão erguida. Haverá, sim, quem ria da pergunta impertinente, posto que ser professor é cultuar o ridículo, é ganhar pouco, é não ser reconhecido, é apanhar da polícia quando reivindica o básico.


No meu tempo se fazia tanta coisa. O meu tempo não foi há tanto tempo assim. Mas parece que sim. Me sinto tão velho...

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A DEMOCRACIA, IMPRESCINDÍVEL, TEM DAS DELA TAMBÉM

Me impressiona o quão bela e contraditória é a democracia.

Em sua ideia mais primitiva, despontada em Atenas, os cidadãos iam às Ágoras (uma espécie de praça pública) para discutirem questões pertinentes ao local onde viviam. Diga-se: o poder ali começava a emanar do povo, pero no mucho. Mulheres, escravos e estrangeiros eram impedidos de participar das “assembleias”. Até então, o soberano era o enviado de Deus para governar o povo, e quem se atreveria a questionar um ‘predestinado’?

Em sua ideia mais atual, em que o regime permite tanto a liberdade quanto o descabido. Ainda assim, diga-se de novo, vale a pena poder escolher, discordar, ser livre. Mas chama atenção como a democracia é infimamente participativa e menos representativa do que se supõe, o que prova a falta de comprometimento do brasileiro na hora do voto. Sim, os políticos são cretinos, a maioria deles deveria ir ao inferno, mas você e eu temos culpa de sobra em todo esse processo. Estaríamos nós isentos da danação eterna? Sei não...


E a relação entre representantes e representados é menos tumultuada do que poderia e deveria. Reprovamos o congresso, discutimos raramente com alguém um projeto votado, uma lei pertinente relegada, mas ainda é pouco. Se a democracia é o poder da maioria, por que a mesma parcela se diz insatisfeita com tanta frequência?

O descontentamento é tamanho – embora pouco efetivo – a ponto até de ferir a própria democracia. Imaginemos que alguém levante a hipótese de acabar com o parlamento em Brasília. As justificativas não seriam poucas: “não cumprem seus papeis de políticos”, “ganham muito e desfrutam de mordomias diversas”, “o dinheiro todo gasto com congressistas será revertido na construção e aperfeiçoamento de escolas, em segurança, casas populares, saúde pública e saneamento básico”.

Temos, então, uma causa tremendamente popular, que daria inúmeras manifestações em prol da... derrocada da democracia – ou ao menos de parte dela. Os parlamentares, ruins ou não, falam em nome de quem os botou lá, e pode ser uma voz a ponderar uma medida autoritária, fruto de qualquer um que governasse sozinho. Porque a natureza humana, quando se vê sem a possibilidade do contraponto, tende a se esbaldar no poder. E gosta, como nenhum outro bicho, de se impor solitariamente.

sábado, 6 de abril de 2013

É PRUDENTE NÃO PERDER O FOCO

Me preocupa quando as discussões perdem o foco. Joga-se fora uma boa chance de se discutir, verdadeiramente, um problema, e as soluções e o entendimento de tudo ficam mais distantes. É aí que o senso comum parece dominar as ações, e o discurso igual vira uma peça de dominó caindo sobre outra, sem parar. O mesmo é dito, repetido, e a nossa acomodação tem o hábito de aceitar o que já está posto por um grande número de pessoas.

Quando se fala em estupro, é o que acontece. A conversa sobre o assunto sempre descamba para o aborto, ao invés de se voltar ao estuprador. A atuação é em cima do efeito, quando deveria ser, primeiro, sobre a causa. O problema do estupro não é se a vítima deve ter ou não o direito a retirar o feto, indesejado e concebido da forma violenta que foi. A preocupação capital nessa questão é criar mecanismos para que uma outra mulher não venha a sofrer isso e o culpado de ação tão desprezível seja punido.

Cena do ótimo Irreversível, filme de Gaspar Noé

Não tenho uma opinião definitiva sobre em que situação o aborto deva ou não ser legalizado, mas o fato é que, perante um caso de estupro, interromper a gestação não resolve nem metade dos problemas da mulher atacada. Em grande parte, os transtornos são de ordem psicológica. Hoje, eu cravo que se deve lançar mão de sacrificar a vida em gestação apenas em casos de riscos à mãe. Anencefalia, talvez.

Pela lógica, voltando ao estupro, já que aquele descendente surgiu de forma tão abominável – por intermédio de ato sexual não consentido –, que se providencie uma pílula do dia seguinte à vítima, em até três dias posteriores ao ato. Não deixa de ser um aborto, mas uma medida bem menos agressiva ao feto e, principalmente, à mulher.

No caso da última semana, ocorrido no Rio, o problema da gravidez, secundário nessa questão, se resolve rápido, evitando a hipótese do aborto. Essa deve ser a última medida, ao invés da primeira. Isso tudo sem pensar no viés religioso, mas sim no humano, no que concebemos como menos acintoso. Preocupar-se mais com a interrupção da gravidez do que com o estupro em si é, mesmo que indiretamente, ser conivente com o ato. O aborto não exclui o que a mulher sofreu.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

ARQUIBANCADAS VAZIAS: eu temo pelo futebol brasileiro

Sobre o clássico paulista de domingo, o que mais chamou a atenção não foi a vitória corintiana, de virada, em cima do São Paulo, pela 16ª rodada do Campeonato Paulista. Em um torneio insosso, qualquer resultado não mudaria – como não mudou – em nada a ordem das coisas, a não ser o fato de, finalmente, termos presenciado um clássico interessante. E não falemos de arbitragem, pois os três gols foram legítimos.

Fora isso, o jogo mostrou o que são os dois times: o São Paulo, além de possuir um bom elenco, busca ainda a melhor forma de jogar sem Lucas, e é um problema e tanto ainda não ter encontrado ou encaixado o novo jeito de atuar. Ney Franco demorou a perceber que o 4-2-3-1 só era forte com o agora jogador do PSG. Custou a ver que Aloísio não tinha a habilidade e a técnica de Lucas, e a saída não parece ser outra, senão jogar com Ganso ao lado do eficiente Jadson.

O Corinthians é incrivelmente sólido: não pôs a marcação ‘lá em cima’, mas quando era atacado em seu campo, marcava intensamente e com cobertura. É um time sincronizado, tanto para impor seu jogo, assim como quando é agredido. As linhas são aproximadas e a bola não se desloca uma enormidade de um pé a outro, prova de que cada jogador se auxilia em campo. Não é à toa que venceu o que venceu em 2012 e pode – por que não? – repetir a dose este ano.

O que mais despertou curiosidade – e pessimismo – foi o público de pouco mais de 20 mil pessoas no Morumbi, mesmo o torcedor já tendo ideia de que os dois clubes entrariam em campo com o que tinham de melhor. Era jogo para, no mínino 40 mil pessoas. Não deu isso, muito em função da torcida são-paulina. Vamos a alguns fatores que podem ser a causa do esvaziamento dos nossos estádios, não só no último domingo, não só em São Paulo.


Os ingressos estão absurdamente caros para a qualidade de jogadores e jogos que temos. Em suma, é muito caro para pouca coisa. Por exemplo, no jogo entre Remo e Flamengo, pela Copa do Brasil, o ingresso mais barato para o confronto no Estádio Mangueirão, em Belém, vale R$ 50. Nem Flamengo e muito menos Remo valem tanto. Há um descompasso entre o produto que temos e o produto que os dirigentes acham que temos. É preocupante.

Disso, podemos tirar duas conclusões: ou nossos cartolas são incompetentes, ou eles não dão a mínima para a receita que podem obter com estádios mais cheios, considerando como fontes válidas somente o patrocínio máster e, especialmente, a verba da TV, que paga – e muito! – para transmitir os jogos com exclusividade (a Globo paga, desde 2012, por ano, mais de 75 milhões de reais ao Flamengo; quase 73 mi ao Corinthians; pouco mais de 56 milhões ao São Paulo, só para se ter uma base – FONTE: http://f5.folha.uol.com.br/televisao/1047975-globo-paga-r-500-mi-a-times-e-flamengo-ganha-mais-veja-lista.shtml).

Além de jogos fracos e, com isso, chatos, os clubes parecem querer que nós também nos comportemos de acordo com o jogo. Pois no dia 28 de fevereiro, tive a prova cabal disso. Eu estava no Morumbi naquele dia, no setor térreo, e fui obrigado a presenciar uma cena lamentável: ao nos levantarmos, atentamente, para acompanhar, com a emoção devida, uma cobrança de falta de Rogério Ceni, eu e mais alguns dali fomos surpreendidos por alguns caras que, vestidos com coletes que os identificavam como orientadores, pediam para que a gente não ficasse em pé: “Vamos sentar, pessoal!”.

Há algum tempo, era inacreditável imaginar que alguém diria uma frase dessas num estádio de futebol. Hoje, nem tanto. Parece haver pouca diferença entre estádios – o correto agora é arena, sim? – e óperas, teatros ou salas de cinema. As manifestações de todos os tipos, que dão mais sentido ao jogo de bola, estão em extinção. Torçamos – será que vão nos deixar? – pelas resistências Brasil afora.


O outro fator, eu presenciei no mesmo jogo, mas não é uma máxima. Da Avenida Paulista até o Morumbi foram, de carro, mais de duas horas. Pelo valor que paguei (R$ 88) e pelo jogo que vi (abaixo da média), pegar um trânsito moroso no caminho ao estádio não é lá das coisas mais estimulantes. O cara pensa muito para ir a um jogo depois disso.

Mas, mais do que a demora para se chegar ao local do jogo e tudo o que envolve a peregrinação do torcedor ao estádio, o que mais conta nessa história toda é o comodismo que impregna o fã de futebol. É mais fácil ver o jogo da TV, do sofá, numa mesa de bar, embora à emoção do gol in loco poucas experiências na vida se comparam. O torcedor não vê atrativos para ver o time de perto, a não ser em decisões (a única exceção à regra talvez seja o corintiano), e, ao mesmo tempo, gostou da ideia de assistir às partidas em casa, com segurança, sem transtornos, quase sem gastos.

Uma forma de motivar o cidadão a ir ao jogo é mexendo no trânsito em dias de jogos, escoando melhor o público num determinado horário, além de transporte coletivo decente, não só em dia de evento esportivo. Outra maneira é destinar setores com ingressos mais baixos, para que não se intensifique o processo de elitização por que passa o nosso futebol. Para as classes mais carentes, o futebol é o único entretenimento de que dispõem. Mais policiamento na rua - e não dentro do estádio - para dar ao público a sensação de que não sofrerá com a violência. E temos, ainda, o projeto do sócio-torcedor, posto na ordem do dia pelo São Paulo, lá na década de 90, mas que, hoje, só o rival de Itaquera sabe explorar: preferência e descontos na compra de ingressos para associados e zero transtorno para adquirir o bilhete, tudo via internet.

As imagens panorâmicas dos estádios são feias e os gritos não têm a força de antes. O velho futebol parece sucumbir ao desejo de alguns poucos que querem ganhar dinheiro às custas da bola, mas não conseguem notar que é muito melhor fazer tudo o que desejam, empenhando-se em propiciar arquibancadas cheias. O torcedor, ao invés de reivindicar isso, não percebe que mesmo um jogo interessante perde o charme sem ele lá, a empurrar, chorar ou vibrar com o time à beira da derrota ou prestes a vencer.

sábado, 30 de março de 2013

OS FELICIANOS E AS JOELMAS NÃO SÃO AS ÚNICAS CAUSAS DA NOSSA DESGRAÇA

O post mais curto do sem_censor é sobre o pastor (pastor?) Marco Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, um sujeito que já demonstrou não ter a menor ciência do que são os direitos humanos e, muito menos, do que significa o termo minorias. É também sobre o depoimento da cantora (cantora?) Joelma, da Banda Calypso, que hoje comparou o homossexual a um drogado. Enfim, o breve texto de hoje é sobre essas e outras coisas que, no fundo, se convergem.

Eu sou favorável ao amor e à felicidade, seja à base de uma união homo ou hetero, e que se danem as interpretações levianas que os religiosos extraem da Bíblia. Mas não há cláusula em lei ou regimento algum (ainda bem!) que proíba um ou outro de não ser contrário à homossexualidade e ao relacionamento gay. E exigir que todos aceitem tais condições seria demasiado conservadorismo, o que contraporia a nossa tendência libertária, especialmente dos mais jovens, de aceitar as diferenças.


Em suma, o problema não é um cara aqui, uma mulher ali serem contrários à relação homoafetiva. O problema é tratar o indivíduo ou o casal gay com intolerância, agressão, desconhecimento e, por consequência, com preconceito, julgando o outro como um imoral, um doente, mas sem olhar para as próprias cretinices que comete em casa, nas ruas ou no trabalho. Ou seja, é um hipócrita.

As Joelmas – da música e da vida – só existem por intermédio de nós, assim como os Felicianos – da política e da vida. Embora favorável aos gays e às demais minorias, você é culpado pelas opiniões lamentáveis dos dois. E eu também.

sexta-feira, 29 de março de 2013

ERA A PROFECIA. ERA ROMA, O IMPERIO QUE PUNIA OS TRANSGRESSORES NA CRUZ

Pelo pouco que sei, a crucificação não foi um “luxo” só de Jesus. Roma punia os criminosos que mais a afrontavam dessa forma, expondo o culpado com tamanha brutalidade. E, acredite: o nazareno representava um perigo e tanto para o poder constituído, seja na Galileia, onde viveu seus primeiros 30 anos, seja na Judeia, a entrada cultuada em Jerusalém, ambos territórios subordinados à lei romana.

A via crúcis era o modelo de punição usado pelo Império para implementar nos cidadãos comuns o medo de cometer erros. Do contrário, o destino do infrator seria o mesmo: a morte na cruz, não sem antes ser açoitado e forçado a carregar, ao longo de um percurso longo e montanhoso, o objeto no qual seria cravejado.

Apesar de ser uma história diversas vezes contada e, na cabeça de muitos, totalmente consumada, eu não vejo Pilatos como o pior dos vilões. A responsabilidade do governante romano não chega nem perto da participação de Judas, Herodes e, especialmente, dos Fariseus, que não em poucas vezes foram contrariados, questionados e postos em xeque pelo Messias. Mas, como se diz, “estava escrito”. E parece que o entendimento humano só funciona quando a coisa tem requintes de crueldade.


Essa é a diferença de Jesus para os criminosos que, assim como ele, foram mortos crucificados: além de não ter cometido, de fato, delito algum, aquele a quem os cristãos têm como o Salvador quis o próprio sacrifício, para que o pecado do mundo fosse redimido, ao passo que poderia recusar o fardo. Há indícios muito fortes de que tudo isso proceda: além do corpo nunca ter sido encontrado, muitos que seguiram Jesus não negaram as proezas do nazareno, mesmo após a sua morte, e por isso foram igualmente assassinados.

A partir daí, o problema passava a ser de Roma também. Os adeptos do Cristianismo eram cada vez maiores, e o Império, no fim das contas, aos olhos de muitos, havia protagonizado o sangramento do Cordeiro. Como inimigos, os seguidores da ideologia cristã eram sumariamente perseguidos pelos romanos, que precisavam manter uma certa coerência: se Cristo foi um criminoso, os cristãos também o são. Quando, em 380 d.C., Roma percebe que o legado de Jesus é inalienável, o Cristianismo se torna a religião oficial do Império, relação esta muito próspera para os dois lados. Agora, que se persigam e punam os pagãos.

Aparentemente, Pôncio Pilatos imputou a punição ao Rei dos Judeus a contragosto. Viu-se obrigado a fazê-lo por questões de ordem, pois, por incrível que pareça, haveria menos confusão crucificando o Filho do Homem do que mantê-lo vivo. O sangue de Jesus recaiu em maior escala sobre as mãos dos sacerdotes, aqueles velhinhos que viram seu poder – religioso e financeiro – ser ameaçado pelas boas novas.

quinta-feira, 28 de março de 2013

“SEM SABER QUE ERA SUBTRAÍDA EM TENEBROSAS TRANSAÇÕES”

Não se engane com o fato do Brasil ter feito parte, até bem pouco tempo – com justiça –, do grupo das nações subdesenvolvidas. Talvez ainda seja, mas agora sob a alcunha de emergente. Mas esse país que você e eu tanto amamos é rico, e sempre foi. E, justamente por isso, ficara marcado, desde Cabral e Caminha, por um contra-senso: apesar de pródiga em riquezas de todos os tipos, acabou por ser uma terra boa só para poucos.

É a desigualdade social, a má distribuição de renda, que a gente ouve desde que nasce. Ouve e vê, sem precisar de muito esforço. É bem verdade que o controverso governo petista, no Planalto desde 2003, foi responsável direto por amenizar tais diferenças que sempre foram abismais. Hoje, o pobre tem carro, faz compras em shoppings, viaja de avião, tem casa própria. Enfim, tem direitos que, antes, só se reservavam a uma elite composta por bem poucos. Mas a miséria ainda está aí, porque é como uma entranha que não se desprende.

O Brasil foi constantemente vítima dos homens que o apoderaram, no sentido daqueles que ocuparam os cargos políticos, com soberania para definir os rumos que esse país tomaria. E eles preferiram a conduta de fazer com que esta terra trabalhasse pra poucos, ao invés de todos trabalharem em função do país e, com isso, permitir a prosperidade a muitos.

Só que não dá para incumbir os portugueses de toda a culpa. Porque desde que o meio brasileiro, meio lusitano Dom Pedro I assumiu a frente, procedeu-se de igual modo. E os brasileirinhos a seguir deram andamento à mesma política implementada aqui em 1500: continuaram a subtrair a pátria, sob a tutela de uma população pouco atuante e muito condescendente com as corrupções e desmandos.


O que acontece em tempos de Copa e Olimpíadas a ocorrer no Brasil é exatamente isso, muito bem simbolizado pelo Estádio Engenhão, interditado por falta de segurança, após seis anos de sua inauguração. As ferrugens da estrutura que comporta a cobertura do Estádio Olímpico do Rio não é apenas o ensejo de uma obra mal acabada. É, mais ainda, uma denúncia acachapante de como quadrilhas, cada uma a seu tempo, tomam o Brasil de assalto.

O legado, de que tanto falam os ‘organizadores’ dos eventos, é posto de maneira leviana. Ao povo ficará pouca coisa. A alguns empresários e políticos ficarão os superfaturamentos, as obras mal feitas com dinheiro público, que se tornam obsoletas brevemente. Fora o que não descobrimos, uma vez que tudo é feito sorrateiramente e, lá na frente, prescreve. O que pode caracterizar esse momento – e o que depois vier – é o nosso comportamento diante de tudo: nós podemos olhar a tudo, passivos, como é de hábito, ou a gente pode berrar e dizer “não”.  

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

DA LIBERDADE

Os meandros do poder são estratificados, razão pela qual a dinâmica é complexa, mas não impossível de se entender. Uma velha conhecida nossa, a burocracia, torna o processo político uma rotina cansativa, aproximando-nos do que se sucede aqui e ali. O caminho com níveis intermináveis faz as decisões serem mais morosas, e na maior parte das vezes é o povo, em sua porção mais pobre, que arca com os atrasos dos resultados que deveriam ser mais prementes.

E é essa burocracia que dá viabilidade à corrupção, porque demorado é chegar ao centro do ato, ao mandante, ao maior dos contraventores. As paredes são tantas, que a justiça alcança até certo ponto, e o ator principal da infração, a peça central do jogo político, sai imune quase sempre. A própria formatação do sistema molda uma redoma no alto escalão, e os mistérios só são desvendados na sua totalidade se o procedimento vier de cima para baixo.

O caso do ex-presidente Lula é o exemplo mais claro disso. Luiz Inácio desempenhou gestão produtiva, a mais bem sucedida da era pós-ditadura: embora não tenha melhorado a qualidade sensivelmente, expandiu o ensino superior, abrindo possibilidades para mais pessoas cursarem a faculdade e se estabelecerem no mercado de trabalho. Enfim, de modo geral, o petista elevou o nível sócio-econômico do brasileiro, botou mais gente com condições dignas de vida. Quando eu tinha 9 ou 10 anos e participava das excursões da escola para São Paulo, um local sempre visitado era o aeroporto, tamanho o ineditismo daquele lugar para a maioria de nós, não só pela baixa idade, mas porque simbolizava um luxo para pouquíssimos. Lula democratizou o que só uma restrita elite consumia.


Mas o dito cujo, muito provavelmente, não só sabia do mensalão, como foi articulador central. Por um único motivo: nada acontece no PT sem passar por Lula. O ex-estadista é quase um partido à parte, com força superior à sigla que ajudou a criar. Mas a denúncia proposta pelo Procurador Geral da República só conseguiu chegar a José Dirceu, então principal ministro do primeiro governo de Lula, ainda assim sem provas concretas da participação do companheiro no crime. O antigo governante é fruto e elemento da burocracia, aquela que impossibilita ou tarda o contato com o mundo real, fazendo das peças humanas quase que objetos virtuais.

E é justamente por isso que o governante precisa estar atento. A política é composta por níveis, que distanciam muitas vezes o representante de tudo, seja da corrupção, em que só os testas de ferro são pegos, seja das realidades que deve cumprir no local em que governa. E essa condição de intocável, de blindado, pode fazê-lo refém dos prazeres do cargo. O homem é vulnerável ao que a vaidade pede e a carne não resiste.

Mesmo sem pensar que o povo pode tirá-lo de lá ao fim do mandato, ou até antes, ao sentir-se na condição de ocupante perene da posição à qual foi alçado, mete os pés pelas mãos. Rotineiramente, passa a crer na sua esquizofrenia, no devaneio de achar-se proprietário daquilo que, em suma, é momentâneo e nem dele é. E, para agarrar-se à própria ilusão, começa a protagonizar desatinos, atitudes que contrariam as prerrogativas da liberdade, porque se desespera ao imaginar-se sem a coroa.


E o político, seja ele quem for, de onde for, há de saber que é natural este ou aquele discordar de algo e que isso é parte desse jogo que dura quatro anos. Afinal, se todos são a favor, que mérito há no trabalho? Por que impedir uma voz dissonante de falar, se o apontamento indesejado pode conduzir melhoras adiante? Não há motivos para abominar uma opinião discordante, pois cercear isso é contrapor o próprio viés democrático que o elegeu, é fazer com que os demais enxerguem no governante uma característica rechaçada. Bem aventurado o representante que tem o entendimento dessas saliências, e as aceita.

A política, ou tudo aquilo que nos conduz ao poder, à evidência, pode atiçar no homem as suas vocações mais ocultas. Quanto mais o detentor de cargo político fugir das paredes que o separam da sociedade e aproximar-se dela, dando à mesma a possibilidade de refutar o que julga incorreto, aumentam as chances de ser agraciado pela maioria, o requisito que dará ao político, de modo natural, a aprovação ansiada. Sem intimidar o direito às manifestações, sem tomar decisões extremadas, sem mostrar para a mesma maioria que a escolha feita nas urnas foi errada.