quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A MINHA OPINIÃO SOBRE AS COTAS


Sou favorável. E por um motivo muito simples: alguns grupos segregados historicamente, hoje beneficiados pelas ações afirmativas na educação, sempre foram alijados dos processos educacional, cultural e intelectual, sendo estes reservados a uma pequena parcela abastada da sociedade brasileira: a nossa elite branca, descendente da nobreza portuguesa, e que sempre agiu como tal, despreocupada com o todo.

Usa-se o exemplo de Joaquim Barbosa, um negro que conseguiu vencer sem o benefício das cotas universitárias, para depreciá-las. Os contrários, manifestem-se: Além do ministro Joca, quantos outros pretos há no STF? Quantos houve até 2003? Quantos são patrões, professores, presidentes? Enfim, quantos negros, comparando-se ao contingente branco, têm posição de destaque, ganham altos salários? Em uma platéia de cinema, teatro, museu, no corpo discente de uma universidade, ainda que pública, a desproporção é enorme. Agora, o inverso: numa comunidade carente, por exemplo, por que você acha que vivem mais negros? Por que gostam?


De modo geral, dados do Censo 2010 externam um problema de ordem social, econômica e cultural: do contingente universitário, 31,1 % são brancos, enquanto que 13,4% são pardos e 12,8% são negros. Essa disparidade não denuncia um problema? Quando o assunto é o analfabetismo, a mesma coisa: a porcentagem brasileira é de 9,6% da população total. Entre os brancos, o índice é de 5,9%. Do total de pardos, 13% não sabem ler e escrever. E 14% dos pretos são analfabetos. É uma desigualdade que não é sanada com as cotas, que provém de questões mais profundas, históricas, mas que também não encontrará conforto na justificativa de que as cotas colocam estudantes menos capacitados nos bancos da universidade. Quer dizer: quem é contra a inserção de grupos marginalizados acha injusto alguém ser selecionado pela etnia, mas não se comove tanto com as diferenças gritantes que permeiam esses mesmos grupos.

Joaquim Barbosa é um entre dez. A proporção da sociedade brasileira não é de um negro para dez brancos. Essa equação é mais equilibrada. (Segundo dados do Ipea-2011, 97 milhões de brasileiros se declararam negros, enquanto 91 milhões se disseram brancos, isto é, uma proporção de, praticamente, 1 para 1). E ela não se reflete em todos os setores da sociedade porque as desigualdades sempre estiveram expostas. A escravidão forçou ao trabalho o índio e o preto, não o branco, e os estigmas desse tempo acompanharam os grupos, mesmo após o fim tardio do trabalho escravo. O branco continuou a mandar. Os demais, a obedecer. O tempo avançou, regimes mudaram de nome, leis foram instituídas, mas a estrutura excludente permaneceu. Especialmente para as gerações mais antigas, o preto carrega o ranço de ter sido escravo, sinônimo de pobreza, isso quando ainda não o é de fato aos olhos dos velhos.


Para as cotas nas universidades, a conta que se faz é que pretos e índios compõem a maior porção dos pobres, que, para inverterem o cenário de poucas chances de prosperidade, ganham um espaço maior nas universidades, ou seja, uma oportunidade mais ampla de ocupar posição no mercado de trabalho, e crescer. Esse tipo de ação afirmativa é uma forma de amenizar o equívoco que o próprio Estado brasileiro, calcado na elite branca, cometeu durante muito tempo, de marginalizar a maioria do povo, em benefício de si própria, típico egoísmo de quem tem o umbigo como centro das atenções.

Para se aprimorar ainda mais o intuito de ressarcir uma parcela considerável da nossa população, um número de vagas destinado ao pobre – seja preto, índio, amarelo, pardo ou branco – contemplaria, de forma completa, o esforço de tornar as classes menos desiguais, não só financeiramente, mas do ponto de vista dos direitos, prerrogativa elementar de todas as declarações democráticas desde a independência dos EUA, em 1776.

Mas se o Brasil estivesse preocupado com a educação, manteria a vigência desta política durante 30 anos, no máximo, tempo suficiente para reestruturar os ensinos fundamental e médio, e botar todo mundo em pé de igualdade. Se quisesse uma escola forte, nem discutiria investimentos: haveria de fazê-los massiçamente, sem ressalvas. Mas a educação é “perigosa”, e justamente por isso continuará como está: sucateada, desvalorizada, tratada com o descaso típico da política brasileira. As cotas, apesar de maquiarem esse quadro e distorcê-lo diante das carências mais prementes, são uma alternativa a curto prazo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário