Eu sei que você
vai dizer que beleza é uma coisa secundária, que o importante é ter caráter,
bondade, boas intenções, vontade de fazer o outro feliz. Tudo isso procede, e
essas características subjetivas fazem da mulher alguém mais bela. Mas a
estética não é uma mera insignificância. Até porque o caráter, a bondade, a
intenção e a vontade não farão da mulher caindo pelas tabelas uma diva. Não que
ela seja um ser humano pior que Marilyn Monroe por não ter a beleza da loira norte-americana.
Ela é mais feia, só isso.
A mulher pode ter
olhos sem graça, uma boca murcha, um nariz nem tão pequeno, uma testa grande a
ponto de lhe faltar cabelo. À primeira vista, é capaz de assustar o mais prevenido
dos homens, de desferir um ataque cardíaco – o tão temido infarto – naquele macho
que se colocava ali a fazer uma caridade, um gesto de afeto. Mas, antes de
qualquer coisa, ele é um humano, e se assusta com o não-belo. A mulher não tem
culpa, pois não escolheu ser o que é. Só que atribuir ao temeroso a condição de
deselegante é demasiado injusto.
Mas a falta de
empenho por parte de Deus e da genética pode ser compensada. Tem muita mulher a
quem se olha e pensa: “Oh, Senhor! Por que foras tão mau com aquela criatura?”.
Mas um olhar mais apurado irá encontrar naquele ser uma beleza que a sua
própria carcaça tentava lhe furtar. Ao mesmo tempo em que é vítima da própria
feitura – muito provavelmente sem saber ou admitir –, cria ferramentas para
ofuscar o seu lado ingrato, viabilizando ao mundo uma outra versão de si mesma.
Apesar do
guarda-roupa mais recheado que o do homem, da vocação inalcançável de
transformar um problema simples num caso de calamidade pública que necessita
ser devidamente detalhado e conversado, das bolsas que não param de originar
objetos, as mulheres que não são bonitas ao primeiro olhar podem superar essa
limitação. O modo como são define se estão prontas a redimir a natureza pouco
generosa ou se afundam ainda mais no ostracismo social, sendo desprezadas,
apontadas, caçoadas em locais públicos, contrapondo o sonho de conseguir um
pretendente, aquele homem de palavras amáveis e gestos originais.
Mas a mulher, com
a inteligência de que só ela é provida – inclusive as feias –, possui
artimanhas que a disfarçam. Ou melhor, que tornam o seu desenho mal acabado um
mero disfarce, um engodo ao interlocutor debochado, que se deu ao trabalho de
julgar a dita cuja tão somente pela aparência. Indiscutível, ela é feia com
louvor. Mas definir assim um conceito total sobre ela pode ser prematuro, bem
como conceber um arrependimento que lhe arrebatará o bom senso mais adiante.
O cabelo é uma
arma letal. Feliz da mulher que sabe passar a mão no cabelo, competente o
suficiente a jogá-lo de lado ou para trás. Feliz da mulher que sabe olhar, sem
arregalar ou fechar demais a mira, que pisca os olhos em harmonia. Olhos
suaves, que não demonstrem medo ou tranqüilidade em excesso. Olhos que fulminam
e desprezam ao mesmo tempo, que dão importância ao homem só quando necessário e
não vendem simpatia. Abençoada a mulher que sorri quase sem barulho, mas
sempre, porque adora que a façam rir. Ao homem implora um raciocínio
inteligente para poder esticar a boca, estampar os dentes, porque a felicidade
é o bastante para tudo. Depois da alegria, a língua nos lábios a umedecê-los, a
fazer aquele que a deseja sonhar com o beijo. Bendita a mulher que não caminha.
Flutua. Que não para. Paira. Que se veste bem, sem atolar-se de panos, cores e
acessórios, sem mostrar aquilo que o homem só quer em imaginação.
Se você é feia, não fique aí choramingando pelos
cantos. Não procure um psiquiatra e peça que ele lhe receite um tarja preta. Não
opte pela overdose de medicamentos, bebidas ou compras no shopping. Não dê piti
em público, não se passe por idiota, evite ser um zero à esquerda. Não seja
egoísta a ponto de achar que os homens – ou um deles – devem ficar à sua volta
só porque você se acha o centro da órbita, mesmo não sendo tão bonita assim.
Deixe de histeria, pare de se fazer de vítima e dedique-se a fazer de você uma
mulher surpreendente, pela forma como olha, sorri, se mostra, apesar de toda feiúra
que a brindou nesta vida.
super me identifiquei! hahahahahaha
ResponderExcluiradorei!!!
bjo thiii
"(...)apesar de toda feiúra que a brindou nesta vida". Gostei do fechamento! hahaha.. E viva a Ditadura da beleza! rs
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