Na história das
religiões, verifica-se uma busca desenfreada – e compreensível – de se
materializar Deus ou qualquer outra instância superior. É o anseio de tornar delimitado
o que não se vê, o que não se toca e o que quase não se ouve. Uma imagem de
gesso ou de papel, um testemunho dado por alguém que passara por experiência singular,
os rituais no mar, a prova de um milagre. Tudo isso é feito porque o homem é
limitado, mas também para que ele aborreça a dúvida que teima em se insinuar e
certifique-se: “É. Deus realmente existe”.
Igual a você, eu
também busco naquilo que a vida tem de mais simples a explicação que a espécie
humana não pode conceber, a criação de que o homem não está apto a ser
proprietário. As coisas que fogem a esse mundo não brotam daqui. O inacreditável,
o momento que nos torna boquiabertos, que faz a lágrima soltar-se dos olhos,
carrega em si algo sobrenatural, porque, se normal fosse, não nos faria
incrédulos. Seria trivial, e o corriqueiro não muda a ordem dos acontecimentos.
O ponto pacífico só é bom quando cessa a guerra. No mais, ele não rompe com
nada, e por tal motivo é entediante.
Se a cadência do
batimento cardíaco acelera, se os olhos esbugalham-se diante da razão furtada,
temos ali a raridade. E este blogueiro crê que Deus bota em todos, até nos
animais, um pouco de Si, para que o homem, na interação com os seus e com outros
animais, possa deleitar-se no intercâmbio de experiências, conhecimentos e
diversão. São os encontros, e não a segregação, que fazem dessa criatura
inteligente e evolutiva.
"O incrédulo São Tomé", de Caravaggio |
Mas alguns poucos
são agraciados de forma a impressionar um número massivo de pessoas, ao mesmo
tempo. E é no esporte, produto extensamente difundido pelos veículos de
comunicação de massa, que se encontram uns foras de série. Ayrton Senna (automobilismo),
Lionel Messi (futebol), Michael Jordan (basquete), Roger Federer (tênis) são
alguns dos esportistas que fizeram ou fazem do bom senso uma prerrogativa
descartável. Eles estão além daquilo que é cômodo e linear.
Isso não faz
deles melhor que você ou eu. Também não é motivo para depressão ou tentativas
de suicídio, lamentando: “Por que, meu Deus? Por que eles, e não eu?”. Os questionamentos
são egoístas, uma vez que não anseiam Deus, e sim fama e dinheiro. Os nomes em
evidência viabilizam, ao grande público, o confrontamento entre expectativa e
inesperado, assustando-nos, encantando-nos. Se fizessem isso para uma única
pessoa, não seriam quem são, mas tão bons quanto.
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