Acalme-se, nego. Isso
é só futebol. Tudo isso é o futebol. O tal esporte tem dimensões de realidade,
mas uma derrota ou vitória não altera a ordem dos acontecimentos. Friamente, as
coisas permanecem do mesmo jeito, seja na conquista de um grande título ou na
perda sofrida dele. A seleção brasileira venceu cinco Copas, e o país não
melhorou depois do êxito de 70 por causa da bola, nem piorou após o fracasso de
82 por culpa de Zico e companhia.
O futebol é uma
realidade paralela. É como se existissem dois mundos: o de jogadores correndo
atrás de uma bola a botá-la no gol ou a evitar o tento e o mundo de agora, a
normalidade que vivemos no trabalho, na rua, em casa. E o torque do futebol é tão
incrível, que equiparar-se ao que de fato importa é mais rotina do que desafio.
O poder do
futebol, no caso do Brasil, habita em dois fatores muito simples: ele imita as
dificuldades, as desilusões e os prazeres da vida, num intervalo de 90 minutos
ou até menos, além de proporcionar ao torcedor uma revanche ante a vida. O mesmo
cotidiano que prega peças sem fim nas pessoas pode ser, numa visão quase que
esquizofrênica de muitos, posto de joelhos quando o time vence. É como se o gol
comemorado apagasse as derrotas da semana, mas tudo, sob sã consciência, segue
como sempre foi. Talvez essa seja uma máxima mundial, não só nossa.
A capacidade que
o futebol tem de transformar um jogo em função vital está na face de cada
torcedor palmeirense (no dia 15 de outubro, há oito rodadas do fim, este blogueiro publicou uma análise sobre a situação do Palmeiras e algumas perspectivas, cujo link é http://semcensor.blogspot.com.br/2012/10/o-palmeiras-caminha-para-o-descenso-mas.html). Justamente porque o clube irá disputar a segunda divisão
do futebol nacional pela segunda vez em dez anos. O empate contra o Flamengo no
último domingo somado ao ponto conquistado pela Portuguesa e à vitória do Bahia
foram o suficiente ao descenso do alviverde. O torcedor sangra com o fiasco do
time, apesar da outra realidade – a verdadeira – continuar a mesminha da silva.
É comum à
imprensa esportiva encontrar “os culpados”. Na maioria das vezes é
desnecessário, já que à posição oposta há um time que quer a vitória do mesmo
modo. E, num jogo, a festa e o tombo esbarram dos dois lados, mas os dois não
podem ganhar. Quando há empenho de ambos os lados, o equilíbrio escolhe um em
detrimento do outro. É o detalhe, aquele que faz a lágrima de alegria escorrer,
a mão transpirar, o desespero de ver a chance perdida. Quando o imponderável
surge, e o futebol é assombrado por ele, não há muito a fazer, a não ser
abraçar o time, ainda que a derrota nos enfureça e doa.
Só que no caso
específico dos palestrinos, há culpados, e não são poucos. Um deles, a
diretoria, que é segregada em vários grupos, em que todos exercem influências –
ruins – sobre o time. Neste âmbito pontual, não existe outra alternativa, a não
ser centralizar o poder. Qualquer grupo político que assume a presidência e a
direção de futebol sofre a oposição destrutiva. Nesse cenário, o Palmeiras
parece ter eleito o presidente errado, completamente dissonante do momento do
clube. Muito tranqüilo e manso quando a ocasião pede o inverso. Tirone foi à
praia, ironia ou não, na segunda, dia seguinte a um dos momentos mais negativos
da história da instituição gere. É claro que uma onda a mais, uma água de coco
a mais, uma porção de camarão a menos não mudariam o destino do clube, mas ele
poderia se alinhar um pouco mais aos sentimentos do torcedor.
O time é fraco. Com
esse elenco, o Palmeiras terá dificuldades para ficar entre os quatro primeiros
na Série B, mas deve conseguir o acesso imediato, assim como em 2003. Apesar de
ser um dos representantes brasileiros na Libertadores do próximo ano, provavelmente
não conseguirá formar um bom time, já que dificilmente um investidor botaria
dinheiro numa organização atrelada ao fracasso. Dependendo do grupo em que
cair, nem avança às oitavas-de-final do torneio continental.
E aqueles
torcedores que depredaram o Pacaembu, após a derrota para o Corinthians, também
tiveram parcela de responsabilidade na queda. Após aquele jogo, o Palmeiras não
voltou a jogar em São Paulo, ao lado da “torcida que canta e vibra” mais do que
qualquer outra. No interior, além do palmeirense não comparecer em massa, é
passivo e bem menos vibrante do que o paulistano, habituado à atmosfera dos
jogos. Longe da capital, nas partidas contra Coritiba e Botafogo, por exemplo,
o Palmeiras levantou apenas 1 ponto (0x1 e 2x2, respectivamente). Teria feito
mais em São Paulo, esboçando uma chance maior de fugir do rebaixamento.
O palmeirense
acordou raivoso ontem e ficará de cabeça baixa por um bom tempo, porque o
futebol é o que é por causa disso, por provocar reações extremadas. No meio do
ano, veio o título da Copa do Brasil, e menos de seis meses depois, a queda.
Sabe-se lá o que acontecerá daqui a alguns meses ou um ano, e essa dúvida, essa
esperança, manterão o torcedor fiel ao seu time, mesmo que este cometa os
mesmos erros que o levaram à situação em que está.
Sou suspeito em comentar, pois, como bom torcedor flamenguista e, aprendiz no esporte, torci para a queda! rs
ResponderExcluirComo eu disse nas redes sociais, Cerca de 10 anos atrás um rubro-negro carimbou o passaporte do palmeiras para a segundona. Hoje a cena se repete! Apesar de que há outros "culpados" por aí.. rsrs.. Azar, abandono da torcida ou falta de competência do Palmeiras?