terça-feira, 20 de novembro de 2012

NÃO É O FIM DOS TEMPOS, MAS DÓI: a queda do Palmeiras

Acalme-se, nego. Isso é só futebol. Tudo isso é o futebol. O tal esporte tem dimensões de realidade, mas uma derrota ou vitória não altera a ordem dos acontecimentos. Friamente, as coisas permanecem do mesmo jeito, seja na conquista de um grande título ou na perda sofrida dele. A seleção brasileira venceu cinco Copas, e o país não melhorou depois do êxito de 70 por causa da bola, nem piorou após o fracasso de 82 por culpa de Zico e companhia.

O futebol é uma realidade paralela. É como se existissem dois mundos: o de jogadores correndo atrás de uma bola a botá-la no gol ou a evitar o tento e o mundo de agora, a normalidade que vivemos no trabalho, na rua, em casa. E o torque do futebol é tão incrível, que equiparar-se ao que de fato importa é mais rotina do que desafio.

O poder do futebol, no caso do Brasil, habita em dois fatores muito simples: ele imita as dificuldades, as desilusões e os prazeres da vida, num intervalo de 90 minutos ou até menos, além de proporcionar ao torcedor uma revanche ante a vida. O mesmo cotidiano que prega peças sem fim nas pessoas pode ser, numa visão quase que esquizofrênica de muitos, posto de joelhos quando o time vence. É como se o gol comemorado apagasse as derrotas da semana, mas tudo, sob sã consciência, segue como sempre foi. Talvez essa seja uma máxima mundial, não só nossa.


A capacidade que o futebol tem de transformar um jogo em função vital está na face de cada torcedor palmeirense (no dia 15 de outubro, há oito rodadas do fim, este blogueiro publicou uma análise sobre a situação do Palmeiras e algumas perspectivas, cujo link é http://semcensor.blogspot.com.br/2012/10/o-palmeiras-caminha-para-o-descenso-mas.html). Justamente porque o clube irá disputar a segunda divisão do futebol nacional pela segunda vez em dez anos. O empate contra o Flamengo no último domingo somado ao ponto conquistado pela Portuguesa e à vitória do Bahia foram o suficiente ao descenso do alviverde. O torcedor sangra com o fiasco do time, apesar da outra realidade – a verdadeira – continuar a mesminha da silva.

É comum à imprensa esportiva encontrar “os culpados”. Na maioria das vezes é desnecessário, já que à posição oposta há um time que quer a vitória do mesmo modo. E, num jogo, a festa e o tombo esbarram dos dois lados, mas os dois não podem ganhar. Quando há empenho de ambos os lados, o equilíbrio escolhe um em detrimento do outro. É o detalhe, aquele que faz a lágrima de alegria escorrer, a mão transpirar, o desespero de ver a chance perdida. Quando o imponderável surge, e o futebol é assombrado por ele, não há muito a fazer, a não ser abraçar o time, ainda que a derrota nos enfureça e doa.

Só que no caso específico dos palestrinos, há culpados, e não são poucos. Um deles, a diretoria, que é segregada em vários grupos, em que todos exercem influências – ruins – sobre o time. Neste âmbito pontual, não existe outra alternativa, a não ser centralizar o poder. Qualquer grupo político que assume a presidência e a direção de futebol sofre a oposição destrutiva. Nesse cenário, o Palmeiras parece ter eleito o presidente errado, completamente dissonante do momento do clube. Muito tranqüilo e manso quando a ocasião pede o inverso. Tirone foi à praia, ironia ou não, na segunda, dia seguinte a um dos momentos mais negativos da história da instituição gere. É claro que uma onda a mais, uma água de coco a mais, uma porção de camarão a menos não mudariam o destino do clube, mas ele poderia se alinhar um pouco mais aos sentimentos do torcedor.


O time é fraco. Com esse elenco, o Palmeiras terá dificuldades para ficar entre os quatro primeiros na Série B, mas deve conseguir o acesso imediato, assim como em 2003. Apesar de ser um dos representantes brasileiros na Libertadores do próximo ano, provavelmente não conseguirá formar um bom time, já que dificilmente um investidor botaria dinheiro numa organização atrelada ao fracasso. Dependendo do grupo em que cair, nem avança às oitavas-de-final do torneio continental.

E aqueles torcedores que depredaram o Pacaembu, após a derrota para o Corinthians, também tiveram parcela de responsabilidade na queda. Após aquele jogo, o Palmeiras não voltou a jogar em São Paulo, ao lado da “torcida que canta e vibra” mais do que qualquer outra. No interior, além do palmeirense não comparecer em massa, é passivo e bem menos vibrante do que o paulistano, habituado à atmosfera dos jogos. Longe da capital, nas partidas contra Coritiba e Botafogo, por exemplo, o Palmeiras levantou apenas 1 ponto (0x1 e 2x2, respectivamente). Teria feito mais em São Paulo, esboçando uma chance maior de fugir do rebaixamento.

O palmeirense acordou raivoso ontem e ficará de cabeça baixa por um bom tempo, porque o futebol é o que é por causa disso, por provocar reações extremadas. No meio do ano, veio o título da Copa do Brasil, e menos de seis meses depois, a queda. Sabe-se lá o que acontecerá daqui a alguns meses ou um ano, e essa dúvida, essa esperança, manterão o torcedor fiel ao seu time, mesmo que este cometa os mesmos erros que o levaram à situação em que está.

Um comentário:

  1. Sou suspeito em comentar, pois, como bom torcedor flamenguista e, aprendiz no esporte, torci para a queda! rs

    Como eu disse nas redes sociais, Cerca de 10 anos atrás um rubro-negro carimbou o passaporte do palmeiras para a segundona. Hoje a cena se repete! Apesar de que há outros "culpados" por aí.. rsrs.. Azar, abandono da torcida ou falta de competência do Palmeiras?

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