terça-feira, 6 de novembro de 2012

É CLARO QUE EU TÔ COM OBAMA [parte I]

Se as eleições de lá fossem rápidas como as de cá, amanhã pela manhã o 45° presidente dos Estados Unidos seria conhecido pelo mundo. Só que como o Brasil é desenvolvido e os EUA, atrasados, a gente vota na urna eletrônica, enquanto eles, na cédula, para depois esta ser colocada numa máquina e contabilizar-se o voto, tal como são corrigidos os gabaritos de uma prova de múltipla escolha dos maiores vestibulares e concursos do país.

E eu não esconderia a minha alegria se Obama fosse novamente escolhido. Assim como em 2008, não há alternativa melhor aos EUA e, por que não, ao Brasil, do que o democrata, até porque seria fiasco mundial alguma frente não ser melhor que a republicana. A cota de Bushes, Reagans e Nixons já estourou faz tempo. Pode ser injustiça e radicalismo de minha parte, mas não consigo enxergar um presidente do partido republicano que tenha sido minimamente razoável.

Antes de apresentar os argumentos favoráveis ao mestiço na Casa Branca (filho de pai queniano e mãe americana), um pouco sobre o processo eleitoral de lá. Apesar de democrático, republicano e presidencialista, como o nosso, o sistema deles tem a peculiaridade dos delegados e colégios eleitorais, que já deu muito pano pra manga, inclusive com uma vitória duvidosa de George W. Bush, o filho, sobre Al Gore, em 2000.


Se é que é possível afirmar isso, o pleito norte-americano é direto e indireto ao mesmo tempo. É como se a escolha fosse direta, mas o voto, não. No Brasil, temos os candidatos a presidente, por exemplo, e vamos às urnas para escolher um deles – ou nenhum. O nosso voto é computado diretamente ao postulante. Lá, não.

Primeiro, a eleição lá é facultativa, ocorre durante vários dias e o momento derradeiro, hoje, está no meio da semana, dia normal de trabalho e aula. Até ontem, 31 milhões de eleitores já haviam votado de forma antecipada, o que permite concluir que dificilmente existirá uma cifra próxima à de 2008. Naquele ano, 131 milhões, ou 64% do eleitorado, foram às seções eleitorais, muitos impulsionados pela empolgante campanha de Obama, ânimo que não se repete este ano, dando uma margem para que a abstenção conceda a vitória a Romney. Com uma população de, aproximadamente, 315 milhões de habitantes, os Estados Unidos têm por volta de 210 milhões de eleitores.

Além de Barack e Mitt, outros 143 candidatos concorrem à presidência dos Estados Unidos. Porém, só os dois principais podem ser votados em todos os Estados, o que inviabiliza a tentativa dos demais de serem eleitos. O fato é que os eleitores americanos vão às urnas e votam no candidato preferido, assim como nós. Só que essa conta simples não define o Chefe de Estado deles. O que conta, realmente, é a quantidade de delegados em cada Estado, número estipulado com base no contingente populacional de cada Estado. Vejamos como isso acontece.


No Estado do Texas, por exemplo, há 38 delegados eleitorais. Se ao final da apuração as urnas marcarem 60% a 40% pró Obama (no voto popular), significa que todos os 38 delegados estarão com o atual presidente. As porcentagens 60-40 do voto do povo não se reproduzem, igualmente, no colegiado (ou seja, 60% dos 38 são Obama, enquanto que 40% dos 38 estão com Romney. Não é assim que funciona). Se Obama vencer por 99% a 1% ou 51% a 49%, automaticamente todos os delegados do Texas, sem exceção, estariam com ele. E é a quantidade de delegados eleitorais, e não de voto popular, que define quem será a autoridade maior dos EUA de 2013 a 2016. O colégio eleitoral reúne, ao todo, 538 delegados espalhados por 50 estados, além do distrito de Colúmbia (similar ao nosso DF), onde se encontra a capital Washington. O candidato que reunir 270 delegados é o vencedor.

A partir disso, a gente se permite pensar: “mas então é possível um candidato receber mais votos populares, porém não ser eleito?”. Sim, como em 2000 (Al Gore obteve 50.999.897 votos – 266 delegados; Bush recebeu 50.456.002 – 271 delegados). A mesma situação ocorreu em outras três oportunidades. Por isso é que alguns Estados passam a ser estratégicos nas campanhas presidenciais, locais em que há grande número de delegados, estabelecendo maior representatividade, ou que têm a sua população indecisa. É uma fórmula questionável, muito confusa a uma ocasião que pede clareza, e o orgulho americano, de baluarte da democracia republicana, continuará fingindo que está tudo certo e que a mudança é para os outros, menos pros EUA.

[continuação no post de amanhã]

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