Se as eleições de
lá fossem rápidas como as de cá, amanhã pela manhã o 45° presidente dos Estados
Unidos seria conhecido pelo mundo. Só que como o Brasil é desenvolvido e os
EUA, atrasados, a gente vota na urna eletrônica, enquanto eles, na cédula, para
depois esta ser colocada numa máquina e contabilizar-se o voto, tal como são corrigidos
os gabaritos de uma prova de múltipla escolha dos maiores vestibulares e
concursos do país.
E eu não
esconderia a minha alegria se Obama fosse novamente escolhido. Assim como em
2008, não há alternativa melhor aos EUA e, por que não, ao Brasil, do que o
democrata, até porque seria fiasco mundial alguma frente não ser melhor que a
republicana. A cota de Bushes, Reagans e Nixons já estourou faz tempo. Pode ser
injustiça e radicalismo de minha parte, mas não consigo enxergar um presidente
do partido republicano que tenha sido minimamente razoável.
Antes de
apresentar os argumentos favoráveis ao mestiço na Casa Branca (filho de pai
queniano e mãe americana), um pouco sobre o processo eleitoral de lá. Apesar de
democrático, republicano e presidencialista, como o nosso, o sistema deles tem a
peculiaridade dos delegados e colégios eleitorais, que já deu muito pano pra
manga, inclusive com uma vitória duvidosa de George W. Bush, o filho, sobre Al
Gore, em 2000.
Se é que é
possível afirmar isso, o pleito norte-americano é direto e indireto ao mesmo
tempo. É como se a escolha fosse direta, mas o voto, não. No Brasil, temos os
candidatos a presidente, por exemplo, e vamos às urnas para escolher um deles –
ou nenhum. O nosso voto é computado diretamente ao postulante. Lá, não.
Primeiro, a eleição
lá é facultativa, ocorre durante vários dias e o momento derradeiro, hoje, está
no meio da semana, dia normal de trabalho e aula. Até ontem, 31 milhões de
eleitores já haviam votado de forma antecipada, o que permite concluir que
dificilmente existirá uma cifra próxima à de 2008. Naquele ano, 131 milhões, ou
64% do eleitorado, foram às seções eleitorais, muitos impulsionados pela empolgante
campanha de Obama, ânimo que não se repete este ano, dando uma margem para que
a abstenção conceda a vitória a Romney. Com uma população de, aproximadamente,
315 milhões de habitantes, os Estados Unidos têm por volta de 210 milhões de
eleitores.
Além de Barack e
Mitt, outros 143 candidatos concorrem à presidência dos Estados Unidos. Porém,
só os dois principais podem ser votados em todos os Estados, o que inviabiliza
a tentativa dos demais de serem eleitos. O fato é que os eleitores americanos
vão às urnas e votam no candidato preferido, assim como nós. Só que essa conta
simples não define o Chefe de Estado deles. O que conta, realmente, é a
quantidade de delegados em cada Estado, número estipulado com base no
contingente populacional de cada Estado. Vejamos como isso acontece.
No Estado do
Texas, por exemplo, há 38 delegados eleitorais. Se ao final da apuração as
urnas marcarem 60% a 40% pró Obama (no voto popular), significa que todos os 38
delegados estarão com o atual presidente. As porcentagens 60-40 do voto do povo
não se reproduzem, igualmente, no colegiado (ou seja, 60% dos 38 são Obama,
enquanto que 40% dos 38 estão com Romney. Não é assim que funciona). Se Obama
vencer por 99% a 1% ou 51% a 49%, automaticamente todos os delegados do Texas,
sem exceção, estariam com ele. E é a quantidade de delegados eleitorais, e não
de voto popular, que define quem será a autoridade maior dos EUA de 2013 a 2016.
O colégio eleitoral reúne, ao todo, 538 delegados espalhados por 50 estados,
além do distrito de Colúmbia (similar ao nosso DF), onde se encontra a capital
Washington. O candidato que reunir 270 delegados é o vencedor.
A partir disso, a gente se permite pensar: “mas
então é possível um candidato receber mais votos populares, porém não ser
eleito?”. Sim, como em 2000 (Al Gore obteve 50.999.897 votos – 266 delegados;
Bush recebeu 50.456.002 – 271 delegados). A mesma situação ocorreu em outras
três oportunidades. Por isso é que alguns Estados passam a ser estratégicos nas
campanhas presidenciais, locais em que há grande número de delegados, estabelecendo
maior representatividade, ou que têm a sua população indecisa. É uma fórmula
questionável, muito confusa a uma ocasião que pede clareza, e o orgulho
americano, de baluarte da democracia republicana, continuará fingindo que está
tudo certo e que a mudança é para os outros, menos pros EUA.
[continuação no post de amanhã]
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