quarta-feira, 7 de novembro de 2012

É CLARO QUE EU TÔ COM OBAMA [parte II]

[continuação do post de ontem]

Nesse cenário eleitoral, Obama desponta como a melhor alternativa outra vez. É verdade que a economia americana ainda patina, assim como ocorre no mundo todo, praticamente. É verdade, também, que o desemprego é alto, fator que provoca desconfiança em quase metade do eleitorado americano, sem contar os cidadãos que escolheram não votar, devido à frustração com o primeiro mandato. Ele não cumpriu muito do que prometera no discurso de 2008 recheado de mudança, esperança e o tão profanado Yes, we can. Mas, além das taxas de desemprego virem caindo, o atual presidente enfrenta até com certa paridade de forças a crise econômica que desabrochou em 2008 e que teve como epicentro, não por acaso, os Estados Unidos, ainda sob a tutela de Bush. Barack deu um azar tremendo, porque pegar um país desses, numa crise daquelas e dessas, é um pepino dos grandes. Não creio que um republicano fizesse melhor.

Quando foi necessário, usou o Estado para salvar a economia, como é praxe do mais capitalista dos seres humanos que, embora negue, sabe que em meio ao caos só a máquina governamental para salvar a livre-iniciativa daquilo que ela não é capaz de solucionar sozinha. Depois da recessão de mais de 3% em 2009 (primeiro ano de mandato), algo que não ocorria há 80 anos, o saldo no PIB veio nos dois últimos anos (3 e 1,7%, respectivamente). O desemprego, que chegou a 9,3 e 9,6%, em 2009 e 2010, recuou em 11 e 12 (9 e 8,2%). A recuperação é lenta, porque o tombo foi grande. A economia deixada hoje por Obama é melhor do que a legada por Bush há quatro anos.


Fora isso, Obama implementou reforma no sistema de saúde, ampliando a sua abrangência; afrouxou o unilateralismo da política externa característica dos republicanos, em que as relações comerciais e diplomáticas devem ser boas aos EUA, e só. A ideologia reacionária de que Deus criou os Estados Unidos para liderarem o mundo, expressa em vários filmes hollywoodianos sobre catástrofes naturais, é bradada por Romney a quem quer ouvir. Prova de que o resto do mundo é traço, segundo a ortodoxia mais que conhecida do partido de Mitt e boa parte dos sobrinhos de Tio Sam. O mesmo partido e o mesmo Romney que recriminam as minorias (negros, latinos, mulheres, homossexuais), os programas assistencialistas necessários, que olham a América Latina, a África e a Ásia de cima.

Do ponto de vista interno, Obama terá, ao menos, dois problemas: apesar da maioria no Senado, a Câmara terá, de novo, mais republicanos. Nos Estados, a oposição fez mais governadores. O outro desafio – esse mais árduo – é provar para quase metade do eleitorado, que vota com Romney, que com ele o país será melhor. Uma nação dividida e a minoria na Câmara podem pesar para que o segundo mandato, assim como o de quase todos os políticos reeleitos, não seja tão bom. Caso a vitória de Obama se confirme, pela terceira vez consecutiva os Estados Unidos reelegem um presidente (Clinton: 1993-96; 1997-2000. Bush: 2001-04; 2005-08. Obama: 2009-12; 2013-16).


No âmbito internacional, a vertente democrata de liberalizar as relações deve ser mantida, mas com ressalvas. Se não vai atacar, Obama deve continuar neutro em relação à Palestina, por exemplo, porque o americano – não todos, mas não poucos – não tolera tamanha liberdade ao povo muçulmano. É da cultura estadunidense a interferência, achando até como um direito seu intervir na soberania, liberdade, independência, autonomia de países estratégicos. Curiosamente, tudo o que os EUA preservam para si é motivação para não permitir aos outros.

Se eu fosse um norte-americano – ainda bem que não sou –, votaria em Obama. Porque eu não seria um cidadão complexado e conservador, como o é quase metade da população dos Estados Unidos. O democrata simboliza uma postura mais solidária, menos egoísta, porque os EUA não estão sozinhos no mundo, ao contrário da ideia de que os Estados Unidos são o mundo, profanada à boca miúda pelos republicanos e boa parte da população de lá. Mas eles falam essas coisas bem baixinho, a cochichar o que pensam sobre si e sobre os outros, pois sem coragem de falar em voz alta, já que não pegaria muito bem. O problema, mais do que esse, é que tem muito americano que gosta disso.

[Obama já é o presidente reeleito dos Estados Unidos para os próximos quatro anos, mesmo sem ter finalizado o processo de apuração. Até o momento, o democrata obteve quase 60 milhões de votos e 303 delegados. Mitt Romney teve pouco mais de 57 milhões de escolhas e 206 delegados. Em percentuais, Obama venceu por 50 a 48. Aproximadamente 117 milhões de eleitores foram às urnas]

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