quinta-feira, 22 de novembro de 2012

OS INDÍCIOS TÊM FORÇA: saiba se no lugar onde estuda ou trabalha há corrupção

“O ônus da prova cabe a quem acusa”. Eis aí um dos jargões jurídicos mais propagados. Pela nossa descendência antropológico-iluminista, o “ver pra crer” dita a opinião, concordante ou não. Mesmo que o inexplicável permeie a vida humana, esse bicho insatisfeito e incontido não se conforma com o acaso, e quer a comprovação do que afirmam. Mas só quando convém.

O problema é que nem sempre alguém filmará um assassinato, a conversa suspeita, a corrupção que tira dinheiro da educação, da merenda do menino pobre da escola pública, para financiar esquemas. A conveniência do acusado logo brada: “não há provas contra mim”. Na ausência das mesmas, trabalha-se com os indícios. Eles traçam o caminho para reconstruir o ato ilícito, apesar de o percurso poder denunciar falibilidade.

A ciência busca a verdade definitiva. A justiça, o jornalismo e a religião, também. Porém, reconheçamos: essas três últimas instâncias penam mais e tocam menos o fato consumado porque as ciladas e os desvios de conduta são enormes. O ponto pacífico é que a verdade derradeira finaliza qualquer discussão, mas sempre com o intuito de permitir à sociedade a evolução e o esclarecimento.


O suspeito de ato duvidoso também lança mão dessa prerrogativa, mas para se beneficiar. Na visão dele, o assunto igualmente se dará por encerrado quando surgir uma prova, algo que o apresente com a “mão na cumbuca”, com a “boca na botija”. É o “batom na cueca” exposto, de modo a arrematar qualquer discussão, mas, do mesmo modo, muitas vezes inatingível, posto que dificultoso ou inexistente.

E não é incomum o fazer-se de vítima diante da falta de comprovações, mesmo que ante indicações contundentes: depoimentos que se cruzam, saques e depósitos que coincidem com alguma ocorrência, a fala contraditória que desmente o que acabara de afirmar, a negação do evidente, do que todos sabem. Enfim, a desfaçatez que subverte a lógica e nos credencia ao posto de idiotas.

Se tomarmos como exemplo uma faculdade de Jornalismo, é simples saber se há má fé ou não. Se a estrutura do curso não contiver o mínimo de aparelhagem suficiente, de locais aptos a fazer daquele estudante um profissional minimamente competente, duvide das intenções de quem gere a instituição em seus mais altos escalões. Se a cidade não comporta um curso de ensino superior, sem sustentá-lo com demanda mínima, arregale os olhos e entorte o nariz: há algo de podre naquele reino.


Num caso como este, não é necessário ter uma foto, um vídeo, que escancare a negociata, o acordo às escondidas que fere a sensatez. Se a normalidade e o óbvio o conduzem a um posicionamento, o inverso disso é um total descabido. No caso desse curso superior, não carece de provas. A falta de material técnico e as condições físicas precárias são as provas de que tal realidade não poderia vigorar naqueles moldes. Se ali está é porque outros intuitos são cultivados, que não os da educação.

O fato da faculdade ser aberta em um local impróprio e a vocação de iniciar um procedimento sem finalizar o anterior dão à instituição – e a seus administradores, lógico – a condição de ré. Ela é culpada por pleitear uma função, e não exercê-la. Ao instituir um curso e abandoná-lo, ou seja, ao conceber um projeto prevendo todas as prerrogativas e não cumpri-las, há um impedimento, inclusive moral, de se iniciar outra atividade, sem que antes a primeira esteja totalmente finalizada. Mas, não. “Comecemos alguma coisinha aqui e, antes de contemplá-la com as condições básicas, iniciemos outra”. E a rede de interesses políticos e financeiros vai se expandindo, arremessando seus tentáculos a distâncias maiores, alocando-se em pontos estratégicos e diversos.

O exemplo hipotético, mas não irreal, demonstra que um crime pode ser apontado sem o flagrante de uma conversa direta entre interessados. Se a prova consuma a dúvida, o indício pode suprimi-la também, além de revelar as entranhas dos procedimentos irregulares que são muito bem feitos, a ponto dos maiores descabidos caminharem pela legitimidade, seja em vias subterrâneas ou na cara de quem quiser enxergar e entender.

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