quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A VELHA MANIA DE LIVRAR-SE DA CULPA

O que nos faz buscar sempre um culpado? Quase nunca é a gente, quase nunca são vários. O dedo apontado a alguém encerra o assunto, resume a história e a nossa angústia de não saber quem foi ou de supor que sabe, arrefece. Comodismo e negligência com os fatos fazem a realidade ser incompleta ou mentirosa. Mas a nossa impaciência – digo, má fé – em ter total domínio de inocentes e culpados tem resquícios lá atrás.

Quando Jesus foi aferroado na cruz, fez-se a conversão da história toda em uma pessoa. Nem o desaparecimento do corpo, o Cristo ressurreto e sua aparição não tiraram de Judas a condição de vilão exclusivo. Não se pretende aqui anular o papel de Iscariotes, torná-lo o injustiçado. Ele errou feio ao trocar Cristo por 30 moedas de prata e entregar o filho do Homem com um beijo, mas equivocado malhar só ele.


De todo conjunto que permeava a realidade da época, havia um sistema instituído que impelia qualquer tentativa de revolução, de se romper com o panorama vigente. Algo similar ao que sucede hoje? Sim, assim era e sempre será. Os que detêm o controle ideológico, político e econômico são os mesmos nas três instâncias, com raras possibilidades de quebra dessa tendência.

A linhagem de poder romana e judaica não dava brechas ao pensamento transgressor de Jesus. Trocando em miúdos, o nazareno causava desconforto às autoridades daquele período. O que falava e da forma que agia serviram como pretexto para os algozes fazerem o que fizeram. E, nesse sentido, Judas não foi mais culpado que Herodes, Caifás e Pilatos. Não nos esqueçamos também de Pedro, sobre o qual o Messias edificara a sua igreja. Simão negou o predestinado três vezes, sem contar no cochilo dos apóstolos em hora imprópria.

Seja no esporte, na rua, no trabalho, na faculdade ou dentro de casa, é quase que obrigatório alguém receber a culpa solitariamente. A necessidade de nomear um, e não a si mesmo ou a vários, tranqüiliza a consciência, tira o peso de não ser capaz de enfrentar o enigma insolúvel. Pensa aí se você nunca passou por isso, se em momento algum apontou o dedo pra se livrar da culpa ou encurtar discussões. Caso chegue à conclusão que sim, não me venha você botar a culpa em mim. Culpa sua, oras. Minha, jamais.

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