Ainda que o nosso
orgulho impeça de admitir, temos uma necessidade vaidosa de mostrar aos outros
aquilo que, em princípio, só nos interessa. Com poucas exceções que cada um de
nós conhece, é rotineira a prática de tornar público algum ato, até para que o
autor da obra se sacie com os elogios e a evidência. É quando a cabeça, dizendo
“não”, tenta enganar o ego, e perde.
O relacionamento
caminha por aí. Quantas vezes o homem ou a mulher não repercute uma declaração,
não para ver o que o(a) parceiro(a) acha, mas visando o apreço dos outros. Diminui-se
o amor, submete-o ao crivo popular e o estardalhaço é mais importante do que o
sentimento pelo(a) companheiro(a). Do contrário, o ato seria externado a dois,
pois se o mundo inteiro ou uma única pessoa sabe, indiferente.
Na religião há um
pouco – ou muito – disso. A oração, a mais contundente herança divina, já não
se basta silenciosa, já que mais importante do que conversar com Deus e
pacificar-se é mostrar para alguém ao lado que se é crente. Se a reza objetiva a
instância superior, compartilhar o momento de autorreflexão é dar à ação
segundas intenções, a tentativa de provar-se magnânimo, a negação do que o ato,
em si, propõe.
Quando se faz
caridade, parece incompleto ajudar alguém sem que um aglomerado de gente tome
ciência. Instaura-se a impressão de que a obra só existe e se consuma se for do
conhecimento de pessoas que não possuem relação alguma com o fato. Enfim, neste
caso, a benevolência não se volta à pessoa ou instituição carente. Se volta a
si mesmo.
E na hora de
pedir desculpas a alguém? Antes que a vítima de injustiça ouça o perdão, os
presentes ao redor devem se inteirar do ato nobre do, antes, infrator. Quem
errou espalha que se desculpou ou o fará, porque acima do reconhecimento da
falha está a necessidade de que outros vejam a mudança de comportamento, e vem
a aprovação pública, a turbinada no complexo de Rainha Má.
Convenhamos que
usar uma situação e as pessoas que a integram para se promover dá trabalho e
mente. Engana, porque desvia a ênfase do ato à repercussão, à ânsia de se ver
apreciado por todos. Às próprias custas, a melancia no pescoço continua a ser a
forma mais eficiente de se aparecer.
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