Talvez não exista
afirmação mais representativa da preguiça do que essa. Improvável alguém que
não tenha ouvido ou dito tal subterfúgio. A má vontade em mudar faz do ano a
ano só uma alteração numérica, mas os aniversários meus e seus têm uma
utilidade bem mais nobre. Se um ano a mais de vida não servir para amadurecer o
espírito, para desfazer erros, mudar opiniões, para fazer-nos olhar ao passado
e perguntar “esse era eu?”, há uma boa chance de tudo isso aqui não passar de
alguns presentes, muito blá-blá-blá e tapinha nas costas. Basicamente, a
velhice é isso: o agigantamento do homem frente ao mundo.
Sei lá, mas soa
egoísmo centrar no “eu” algo que não diz respeito somente ao “eu”. A maturidade
de que falávamos no primeiro parágrafo não atua sobre o que sempre olha pra si.
Este se esquece de uma pressuposição fundamental: o indivíduo é social, e
qualquer atitude mínima de sua parte, seja verbal ou física, irá afetar alguém
às redondezas. A não ser que se trancafie em um quarto, que vá morar numa ilha,
finque uma cabana no meio da Amazônia, decida viver no pico do Himalaia ou no
centro do Atacama, é necessário mentalizar que o que faço não para em mim, estendendo-se
aos que comigo compartilham o espaço.
Desde um
território mínimo, como a casa, onde se pode viver a dois, passando pelo
ambiente de trabalho, até as ruas, local em que se situa um sem número de
individualidades, o convívio será à base de encontros, do contato entre
histórias. E é injusto impor um modo de ser, da mesma forma que desagradável é
suportar o outro com o jeito dele, porque quem pensa assim não se preocupa com
o companheiro, e acaba por infringir um limite. O “eu sou assim” submete a
coletividade e pulveriza a diversidade. Além do mais, aquele que olha ao
próprio umbigo terá desconforto quando outrem desempenhar a prática que tanto
lhe convém.
A comodidade em
permanecer como está traz um ônus à sociedade, que se adéqua ao meio, mas não
vê um ou outro fazer igual. Ao mesmo tempo, torna o narcisista (termo impróprio?)
estático no tempo. Sem evoluir, ele continua a olhar o mundo de cima pra baixo
só porque “ele é assim”, e que se dane você. Ele não muda – e nem pode – em virtude
do compromisso que preserva consigo, atestando-se um completo incapaz. Viver assim
é mais fácil, sem afrouxar a vaidade, a soberba, sem entender que, em grupo, a
permeabilidade de valores e conhecimentos é recíproca. Ser mimado agora, fazer
birra por estar contrariado e recusar um posicionamento mais brando – assim é
com todo mundo – não resolve.
Bem o ser humano!
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