Eu ainda não vivi
o bastante pra ver torcedor, jogador, técnico ou dirigente de um time qualquer
se manifestar indignado quando o seu clube é ajudado pela arbitragem. São-paulino
que sou, nunca esbravejei palavrões ao ver o juiz apitar um pênalti inexistente
ou validar um gol irregular a meu favor. Quando tudo isso acontece nas
cercanias de Rogério Ceni, dá-lhe nariz torcido, sobrancelha franzida e humor
pra poucos.
A nossa
arbitragem é péssima, e se ela acerta com o seu time hoje, crave: amanhã ela te
deixará estarrecido. Embora a incapacidade (não má fé, na maioria dos casos)
seja generalizada, na Europa os “roubos” são incomuns e há mais precisão em
lances complicados. O problema não é moral, mas técnico, que se resolve com
treinamento e dedicação exclusiva ao ofício.
Questionar o
caráter do árbitro só quando ele nos é prejudicial não faz de nós oportunistas?
Evidente que a falha de uma marcação enganosa não se justifica, mas como o
futebol tem o indissociável talento de imitar a vida, natural que o dito cujo
traga as glórias e os fracassos do que está do lado de fora dos estádios, e
viva Nelson Rodrigues.
Eis aí mais um
traço da nossa paixão desmesurada (ops, pleonasmo): acusar o desvio do árbitro
apenas quando nos convém é errar cretinamente, mais até do que o vilão dos
gramados, e convenhamos que, depois disso, a nossa autoridade pra protestar
decai. Se o crime está configurado quando me é contra, se favorável tem o mesmo
peso. Mas, confortemo-nos: os espertos do mundo do futebol estão na faculdade,
no trabalho, em casa, na política, na vida.
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