Impressionante como
política e religião se misturam cada vez mais, especialmente em período
eleitoral. E não dá pra saber ao certo se o político irá corromper o religioso
ou se este tornará o político alguém pior, tamanhas são as sacanagens nos dois
âmbitos. Padres e pastores se candidatando não faltaram, assim como não faltou
por parte de quem era candidato empenho em buscar apoio nas agremiações de
maior apelo. As religiões agradecem.
Até 1889, ano em
que houve o advento ao regime republicano, o Brasil tinha o catolicismo como
religião oficial, ranço que ainda perdura num país que tinha tudo para ser
liberal, mas é conservador como poucos. A levar-se em conta toda a opressão
social e econômica sofrida ao longo dos anos, a nossa elite, afilhada dos
interesses dominantes internacionais, é grata ao fato de o Brasil se enraizar
nessa passividade revoltante. O fato é que a partir de 15 de novembro de 1889
esse país se tornou laico, e nada de limitar aos cidadãos, goela abaixo, esta
ou aquela nomenclatura religiosa.
Algumas dúvidas
surgem: não há choques entre empreender uma ideia religiosa, que busca abarcar
pessoas, independente de outros posicionamentos, e ao mesmo tempo atuar na
política partidária, que tem como marca ser uni ou bilateral, apenas? Os
candidatos não usam suas condições de conselheiros espirituais para ganhar
votos, já que arrebanham ali, em uma única seção ritualística, centenas de
pessoas? O dinheiro que permeia as instituições religiosas não é taxado. Diante
disso, como é usado esse capital? As “nomenclaturas da fé” que apóiam
candidatos querem o quê em troca da coalizão?
Em suma, até por
prudência, melhor não misturar as esferas, porque o “candidato cristão” sai em
vantagem por se relacionar com uma massa que está ali, ao menos em tese, por
questões espirituais, e não concretas, como é o caso da política, que além de
lidar com problemas de ordem material tem como marca a troca de favores e
influência e o conchavo de interesses. Convenhamos, não é – ou não deveria ser –
por esse viés que a religião atua. Mantendo os templos fora da disputa, a
religião volta a abranger como lhe é de dever, e não restringir. Sobre as
finanças, assim como não acontece em poucos casos, a prática de reinvestir a
verba doada por fiéis em veículos de comunicação é tão atabalhoada quanto tirar
o dinheiro dos centros religiosos e levá-lo à política. Do contrário, é
vantajoso ao extremo angariar o “capital de Deus”, limpo, sem escalas.
Não pensem as
outras religiões que essa aliança questionável é privilégio só de católicos e
evangélicos, enquanto os demais são inalienáveis. As duas religiões estão mais
envolvidas nesse processo, pois são as que detêm o maior número de seguidores
e, aos olhos da política, isso tem viabilidade hedionda. Se as demais fossem
maiores, estariam igualmente ligadas à política. Nesse ramo, nada é feito sem
barganhas, e as instituições menores não têm muito a oferecer.
No texto de
amanhã, as diferenças entre as eleições daqui e dos Estados Unidos que, em 20
de novembro, definem o próximo presidente. O que a disputa entre Obama e Romney
tem a nos ensinar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário