segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A CÉSAR..., A DEUS...

Impressionante como política e religião se misturam cada vez mais, especialmente em período eleitoral. E não dá pra saber ao certo se o político irá corromper o religioso ou se este tornará o político alguém pior, tamanhas são as sacanagens nos dois âmbitos. Padres e pastores se candidatando não faltaram, assim como não faltou por parte de quem era candidato empenho em buscar apoio nas agremiações de maior apelo. As religiões agradecem.

Até 1889, ano em que houve o advento ao regime republicano, o Brasil tinha o catolicismo como religião oficial, ranço que ainda perdura num país que tinha tudo para ser liberal, mas é conservador como poucos. A levar-se em conta toda a opressão social e econômica sofrida ao longo dos anos, a nossa elite, afilhada dos interesses dominantes internacionais, é grata ao fato de o Brasil se enraizar nessa passividade revoltante. O fato é que a partir de 15 de novembro de 1889 esse país se tornou laico, e nada de limitar aos cidadãos, goela abaixo, esta ou aquela nomenclatura religiosa.

Algumas dúvidas surgem: não há choques entre empreender uma ideia religiosa, que busca abarcar pessoas, independente de outros posicionamentos, e ao mesmo tempo atuar na política partidária, que tem como marca ser uni ou bilateral, apenas? Os candidatos não usam suas condições de conselheiros espirituais para ganhar votos, já que arrebanham ali, em uma única seção ritualística, centenas de pessoas? O dinheiro que permeia as instituições religiosas não é taxado. Diante disso, como é usado esse capital? As “nomenclaturas da fé” que apóiam candidatos querem o quê em troca da coalizão?



Em suma, até por prudência, melhor não misturar as esferas, porque o “candidato cristão” sai em vantagem por se relacionar com uma massa que está ali, ao menos em tese, por questões espirituais, e não concretas, como é o caso da política, que além de lidar com problemas de ordem material tem como marca a troca de favores e influência e o conchavo de interesses. Convenhamos, não é – ou não deveria ser – por esse viés que a religião atua. Mantendo os templos fora da disputa, a religião volta a abranger como lhe é de dever, e não restringir. Sobre as finanças, assim como não acontece em poucos casos, a prática de reinvestir a verba doada por fiéis em veículos de comunicação é tão atabalhoada quanto tirar o dinheiro dos centros religiosos e levá-lo à política. Do contrário, é vantajoso ao extremo angariar o “capital de Deus”, limpo, sem escalas.

Não pensem as outras religiões que essa aliança questionável é privilégio só de católicos e evangélicos, enquanto os demais são inalienáveis. As duas religiões estão mais envolvidas nesse processo, pois são as que detêm o maior número de seguidores e, aos olhos da política, isso tem viabilidade hedionda. Se as demais fossem maiores, estariam igualmente ligadas à política. Nesse ramo, nada é feito sem barganhas, e as instituições menores não têm muito a oferecer.

No texto de amanhã, as diferenças entre as eleições daqui e dos Estados Unidos que, em 20 de novembro, definem o próximo presidente. O que a disputa entre Obama e Romney tem a nos ensinar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário