A outra derrapada
da Globo aconteceu no canal pago Sportv.
Na última sexta, dia 26, o apresentador André Rizek iniciou o programa Redação Sportv tratando de economia
internacional. Segundo marcadores
econômicos, o PIB da região britânica cresceu 1% nos meses entre julho e
setembro, período que abrigou as Olimpíadas 2012, na contramão do que vive a
Europa atualmente, afundada na crise. Tenhamos mais cautela numa análise dessa
natureza.
Quatro pontos chamam
a atenção: primeiro, o Sportv faz
isso para endossar a sua opinião favorável à realização, aqui, dos Jogos, assim
como da Copa, a despeito de toda a corrupção que envolve a realização desses
dois eventos, especialmente em relação aos processos licitatórios e construção
de locais de provas e jogos, quase que integralmente não divulgada pelas
Organizações Globo, devido ao acordo de cavalheiros que têm com o COB e CBF, em
troca da exclusividade de algumas transmissões.
Segundo, a
notícia dá descontinuidade ao noticiário esportivo, já que no dia anterior o
líder do Campeonato Brasileiro, o Fluminense, havia vencido o Coritiba por 2x1,
abrindo nove pontos de vantagem para o Atlético-MG. Normal seria que, num
programa de esportes, o principal evento esportivo do país ganhasse repercussão
ao ver o tricolor do Rio aproximar-se do título. Mas, não. A notícia de
destaque foi o crescimento econômico da Inglaterra no terceiro trimestre do
ano, ainda que o avanço tenha sido de um magro 1%.
Terceiro, é
evidente que a economia da Grã-Bretanha cresceria no intervalo entre julho e
setembro. Pessoas do mundo todo foram a Londres, e quem vai a uma Olimpíada tem
grana e vontade de gastar bastante. O consumo cresce, o dinheiro advindo de
todas as partes do planeta gira, e seria absurdo se a região que abrigou os
últimos Jogos não tivesse números positivos. Quando saírem os índices de
outubro a dezembro, muito provavelmente a Inglaterra voltará ao normal,
seguindo o ritmo de estagnação ou recessão, a exemplo do restante da Europa. O
dado difundido e elogiado no programa é quase fictício por não retratar a
conjuntura sob perspectiva mais ampla. Temos, então, uma cifra mais virtual do
que real.
Quarto ponto: o
fato da economia crescer não representa que os problemas pontuais estejam
resolvidos, como transporte público, saneamento, desemprego. Ao contrário, pode
até maquiar uma realidade menos promissora, assim como na época do milagre
brasileiro da bem extinta e pouco saudosa ditadura militar. O Brasil, por
exemplo, sempre foi um país rico, mas dizer que a sociedade o é ou foi não
condiz com o que está vigente. Para o Reino Unido, vale a mesma prerrogativa,
apesar da diferença entre país rico e
população rica ser bem menos díspar
do que cá.
A qualidade das
produções da Globo, além de alta, atingiu um patamar que nenhuma outra emissora
do país tem. Mas que o jornalismo poderia estar mais comprometido com a
informação, com a sociedade, poderia. Iria infringir seus próprios interesses e
as conveniências de seus “sócios”, mas implementaria o que lhe é cabível, a
dura e prazerosa missão de tornar público o que é relevante ao cidadão.
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