terça-feira, 30 de outubro de 2012

A GLOBO BOTA AS ASAS DE FORA E ESCONDE O BOM JORNALISMO [PARTE II]

A outra derrapada da Globo aconteceu no canal pago Sportv. Na última sexta, dia 26, o apresentador André Rizek iniciou o programa Redação Sportv tratando de economia internacional. Segundo marcadores econômicos, o PIB da região britânica cresceu 1% nos meses entre julho e setembro, período que abrigou as Olimpíadas 2012, na contramão do que vive a Europa atualmente, afundada na crise. Tenhamos mais cautela numa análise dessa natureza.

Quatro pontos chamam a atenção: primeiro, o Sportv faz isso para endossar a sua opinião favorável à realização, aqui, dos Jogos, assim como da Copa, a despeito de toda a corrupção que envolve a realização desses dois eventos, especialmente em relação aos processos licitatórios e construção de locais de provas e jogos, quase que integralmente não divulgada pelas Organizações Globo, devido ao acordo de cavalheiros que têm com o COB e CBF, em troca da exclusividade de algumas transmissões.


Segundo, a notícia dá descontinuidade ao noticiário esportivo, já que no dia anterior o líder do Campeonato Brasileiro, o Fluminense, havia vencido o Coritiba por 2x1, abrindo nove pontos de vantagem para o Atlético-MG. Normal seria que, num programa de esportes, o principal evento esportivo do país ganhasse repercussão ao ver o tricolor do Rio aproximar-se do título. Mas, não. A notícia de destaque foi o crescimento econômico da Inglaterra no terceiro trimestre do ano, ainda que o avanço tenha sido de um magro 1%.

Terceiro, é evidente que a economia da Grã-Bretanha cresceria no intervalo entre julho e setembro. Pessoas do mundo todo foram a Londres, e quem vai a uma Olimpíada tem grana e vontade de gastar bastante. O consumo cresce, o dinheiro advindo de todas as partes do planeta gira, e seria absurdo se a região que abrigou os últimos Jogos não tivesse números positivos. Quando saírem os índices de outubro a dezembro, muito provavelmente a Inglaterra voltará ao normal, seguindo o ritmo de estagnação ou recessão, a exemplo do restante da Europa. O dado difundido e elogiado no programa é quase fictício por não retratar a conjuntura sob perspectiva mais ampla. Temos, então, uma cifra mais virtual do que real.


Quarto ponto: o fato da economia crescer não representa que os problemas pontuais estejam resolvidos, como transporte público, saneamento, desemprego. Ao contrário, pode até maquiar uma realidade menos promissora, assim como na época do milagre brasileiro da bem extinta e pouco saudosa ditadura militar. O Brasil, por exemplo, sempre foi um país rico, mas dizer que a sociedade o é ou foi não condiz com o que está vigente. Para o Reino Unido, vale a mesma prerrogativa, apesar da diferença entre país rico e população rica ser bem menos díspar do que cá.

A qualidade das produções da Globo, além de alta, atingiu um patamar que nenhuma outra emissora do país tem. Mas que o jornalismo poderia estar mais comprometido com a informação, com a sociedade, poderia. Iria infringir seus próprios interesses e as conveniências de seus “sócios”, mas implementaria o que lhe é cabível, a dura e prazerosa missão de tornar público o que é relevante ao cidadão.

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