Procuro não escrever
textos que contenham auto-testemunho, aqueles em que o autor fala de algo que
ocorreu com si mesmo. Mais válido, em se tratando de jornalismo, falar acerca
do que acontece lá fora. Enfim, qualquer situação com que a massa possa se
identificar. Eis aí um dos pontos de partida para que o texto jornalístico seja
lido ou não.
Mas, admito, em
alguns casos o depoimento próprio tem a sua valia. Lanço mão, hoje, dessa
estratégia para colocar em discussão com jornalistas, estudantes e público em
geral alguns meandros dessa atividade que expõe extremos.
Na semana
seguinte às eleições do dia 7, escrevi um artigo sobre o pleito em Getulina,
abordando os números na votação para prefeito e vereador, além de propor
análises sobre o que significavam todas as cifras. Os resultados, em qualquer
lugar, todo mundo conhece, e é válido ao profissional de imprensa oferecer
algumas reflexões pertinentes, novas, que vão além do que já está posto.
O trabalho de uma
semana inteira, com cinco páginas, recheado de pesquisa e precisão de dados,
foi publicado no domingo seguinte, dia 14, no semanário de Getulina-SP, o
Getulina Jornal. Para este blog, o artigo foi dividido em três partes postadas
em 16, 17 e 18 de outubro.
Entre um sem
número de informações, estava ali um índice curioso: um dos candidatos a
prefeito recebera, apenas, 55 votos. Uma quantidade irrisória, a considerar
que, caso fosse postulante a cargo de vereador, não conseguiria se eleger nem
com o triplo de escolhas. Entrando nas análises para compreender por que uma
quantidade tão baixa de votos, coloquei que o fato do postulante a prefeito ter
ficado fora da cidade durante algum tempo pode ter prejudicado o seu contato
com a população. Além disso, segundo alguns eleitores nas redes sociais e nas
ruas, o vice na chapa afastava os votos no candidato a prefeito. Isso desencadeou
a revolta de uma leitora (a quem interessar, essa é a parte do texto em questão http://semcensor.blogspot.com.br/2012/10/a-eleicao-2012-em-getulina-parte-ii.html).
No último
domingo, como resposta ao meu artigo, a moradora publicou no jornal uma espécie
de carta de repúdio a mim (que pode ser lida ao final deste texto). Por ser irmã
do candidato a vice-prefeito na chapa derrotada, sentiu-se ofendida por
entender que eu atribuí ao irmão o fracasso da candidatura. E teceu, ali,
palavras pouco elogiosas a meu respeito.
Apesar de não ser
agradável ler um conteúdo agressivo, direcionado, achei importante o veículo
ter publicado a carta da cidadã indignada, ainda que eu tenha notado uma total
falta de compreensão da parte dela em relação ao que eu havia escrito. Embora eu
pudesse, a partir de argumentos, opinar que o irmão dela teria sido uma das
causas do fracasso da chapa nas eleições para prefeito, não o fiz, usando
somente o que ouvi e li de parte do eleitorado getulinense, sempre alertando
que aquilo apenas indicava uma possibilidade.
Quem envereda
pelo campo da política está fadado a se deparar com desagrados de todos os
lados. Muitos dos nossos principais jornalistas que analisam política (esporte,
cultura, economia...) acabam por ser acusados disso e daquilo, mas a competência
termina por definir o apoio da sociedade, a despeito de uma ou outra ofensa
direcionada por quem se sentiu atingido pela cobertura da imprensa.
Por trabalhar com
a denúncia, a oposição, o jornalismo normalmente bate – e continuará batendo –
em alguém. Até por isso, o jornalista não poucas vezes é vítima de si e da
sociedade, que o cobra, de maneira justa, por um erro, uma negligência, uma
cobertura mal feita. É inerente à atuação levar algumas pancadas. Elas estarão
sempre por aí, nos rondando, tentando esmorecer o que o jornalismo tem de
melhor.
CARTA DA LEITORA, PUBLICADA NO GJ DE 21 DE
OUTUBRO DE 2012
*Reproduzida da forma como foi publicada, com alguns acertos de pontuação feitos por mim para que o texto se tornasse mais claro
THIAGO CURY
Tomei a liberdade
de me apresentar, eu sou Alcione Aparecida Ducci Sioni, irmã de Wagner Sioni e
de Mário Augusto Sioni. Você, por ser um “jornalistazinho”, deve saber do vice do
Ulisses a quem você se referiu; Então: ele é meu irmão querido, e não admito
que ninguém o ofenda e nem o agrida com palavras. Vai aqui a resposta que você
pediu para ouvir, é o contrário do que você disse, o vice do Ulisses tinha que
ter se candidatado com outra pessoa que mora em Getulina. Garanto para você que
ele teria mais votos do que teve com o candidato a prefeito.
E outra Thiago,
se você se identifica tanto e tem essa visão a respeito do Ulisses, quatro anos
passa (sic) rápido, candidate-se com ele, não passe vontade, não. Seja corajoso
como meu irmão foi e vamos ver se você é capaz o suficiente de aguentar o
rojão. Não é o vice que elege o prefeito, é o prefeito que elege o vice. E estes (sic) 55 votos, a maioria foi da parte do meu irmão Peko’s. Não vou dizer que meu
irmão agrada a todos, por quê (sic), nem Jesus agradou a todos, mas o pouco faz
a diferença. Agora, você nem aqui
reside, só sapeia (sic) a vida alheia e dá palpite errado, você não precisa
gostar do vice do Ulisses, não estou fazendo questão, não. Porque para mim,
você nem me cheira, nem me fede. Você existindo ou não, para mim é a mesma
coisa, não precisamos de você para nada.
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