segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A GLOBO BOTA AS ASAS DE FORA E ESCONDE O BOM JORNALISMO [PARTE I]

A Globo, por ser o que é, desperta no público e na própria mídia opiniões adversas, normalmente extremadas. É inegável a capacidade que a emissora tem de produzir entretenimento. A telenovela é o maior exemplo disso. Ao concentrar em seu corpo de profissionais os melhores atores, diretores e autores, faz das suas tramas parte integrante da vida dos brasileiros há algum tempo. E é impressionante como entra ano, sai ano, sem que a qualidade caia. Avenida Brasil é o argumento certeiro contra quem se opõe a isso.

Nas transmissões esportivas, acontece o mesmo. Até por deter, em diversos esportes, a exclusividade de transmissão – fato que emperra a diversidade de informação e divulgação, além de que, sem concorrência, a qualidade tende a estagnar –, o público tem acesso privilegiado a vários eventos. Com o poder aquisitivo do brasileiro em alta, os canais pagos estão a um passo, seja em casa ou nos bares. No caso do futebol, as transmissões interativas e repletas de câmeras por todos os lados fazem com o que o torcedor, lamentavelmente, não sinta tanta falta da arquibancada. A violência, os transportes precários e o horário tardio de algumas partidas também afastam o torcedor dos campos.

Mas o que a emissora carioca fez na última semana é o que se pode chamar de “deslealdade jornalística”. Em dois temas distintos, agronegócio e esporte, o maior grupo midiático do Brasil negligenciou informações, ao preferir privilegiar a notícia que lhe é conveniente, porque agrada também aos seus.


Há uma semana, dia 22, a jornalista Eliane Brum publicou no portal da revista Época, veículo pertencente às Organizações Globo, um texto incisivo sobre a situação calamitosa por que passa um grupo de índios Guarani-Caiovás, que vive em Iguatemi-MS (para conferir a matéria na íntegra, acessar http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2012/10/decretem-nossa-extincao-e-nos-enterrem-aqui.html?fb_action_ids=154451364700812&fb_action_types=og.likes&fb_source=aggregation&fb_aggregation_id=288381481237582). Ameaçado de extinção, o grupo recebeu o decreto da Justiça Federal, exigindo a saída dos índios dali, com um posicionamento de resistência, muito semelhante ao retratado no livro “Enterrem meu coração na curva do rio” (Dee Brown), que depois virou filme com o mesmo nome. E índios são expulsos, intimidados e mortos em nome do agronegócio, da monocultora, das exportações, enfim, de tudo aquilo que está encalacrado na alma desse país e que atende a interesses de pequenos, porém poderosos grupos.

Dois dias depois, o Jornal da Globo trouxe uma matéria de pouco mais de dois minutos, relatando sobre os benefícios da soja, especialmente em Mato Grosso, o maior produtor nacional. A notícia mostra que, em Sorriso, município que ocupa a primeira posição no PIB da agricultura, negociações imobiliárias e cirurgias plásticas são feitas tendo como moeda de troca o grão (confira, no link a seguir, a matéria do JG - http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2012/10/soja-vira-moeda-de-troca-no-centro-oeste-do-pais.html).


Só que o que o JG não falou é que a prosperidade agrícola do MT, impulsionada pelo comércio da soja, vem em grande parcela à base da expulsão e matança de índios, para que as tribos deixem espaço para o plantio em larga escala. Os poucos índios que restam são encurralados em reservas cada vez menores. Há o desvirtuamento da cultura indígena, esta que foi responsável pelo surgimento do Brasil enquanto cultura, povo, enquanto algo que o identifique perante o mundo.

Ainda que a Globo possa alegar que divulgou tudo isso em um de seus canais, a Época, era compromisso do Jornal da Globo também fazê-lo, não só porque o jornalismo deve passar por cima de interesses particulares, e informar, como também levar em conta que a menor audiência do JG é bem maior que o público que lê a revista. A maioria ficou com o jornalismo do bom mocismo de William Waak, e não com a informação de fato de Eliane Brum. Enfim, a emissora legaliza e comemora os números do setor primário da economia, ainda que às custas do atentado à vida humana.

[continua no post de amanhã]

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