Esqueça
os cálculos. O futebol não se limita a uma conta ou outra, e, justamente por
isso, é o disparate mais amado e odiado no mundo. Não há lógica e coerência.
Apenas o sentimento incondicional de ver o clube do coração vencer, não sem
antes sofrer e tremer de medo frente à iminência da derrota. Mas tentemos analisar
com razão um esporte que de racional nada tem. Não fosse passional, o futebol
não seria o que é. Seria, sim, uma modalidade qualquer, como o mais chocho dos
esportes.
A
situação do Palmeiras é terrível, e não faltam palpiteiros e torcedores a jogar
a toalha, decretando o segundo rebaixamento do alviverde, dez anos depois do
insucesso do time de Levir Culpi. O Verdão parece fadado a cair, ainda que esse
mesmo futebol já tenha pregado peças em profetas de todos os lados. Nem a
imprevisibilidade bretã parece resistir a um Palmeiras tão medonho.
Primeiro,
o time é fraco. Em outros tempos, a maior parte dos titulares não serviria como
terceira opção. Thiago Heleno, Leandro Amaro, João Denoni, Márcio Araújo,
Obina, Luan, Betinho, Patrick – só pra citar os titulares de hoje – são
péssimos, e o clube teria dificuldades para retornar à primeira divisão, caso descesse,
com um time desses. Valdívia, o Mago, que mais fica fora do que joga, quando
atua é nulo, porque não fez gol, nem deu assistência neste Brasileiro-12, e
ganha fortunas. Se salvariam Bruno, Henrique, Marcos Assunção e Barcos. Talvez
Wesley e Maicon Leite, também, porém pouco atuam por motivo de contusão.
Não
nos esqueçamos de Luiz Felipe Scolari, o ex-técnico, que chegou com status de
grande campeão e gravado na mente palmeirense como vitorioso na primeira
passagem pelo clube, conquistando o êxito mais importante da história da
Sociedade Esportiva. Felipão envelheceu, não se atualizou, e percebeu que não
dá mais para pegar um time meia-boca – embora nem isso o atual Palmeiras seja –
e fazê-lo ganhar. Taticamente, o futebol se encontra em um novo estágio, nível
este que Scolari não galgou, parando no tempo com os pré-requisitos da pegada e
do incentivo psicológico. Foi conivente com a contratação e escalação de vários
desses jogadores.
Mesmo
assim, fez o Palmeiras campeão no primeiro semestre. A Copa do Brasil veio,
sobre o Coritiba, para tirar um jejum de quatro anos e dar de volta ao clube a
vaga na Copa Libertadores do próximo ano. Enganou-se quem julgou o time capaz
só pelo troféu ganho, porque em Copas, em partidas mata-matas, um time ruim
pode fazer um jogo bom, abrir confortável vantagem no primeiro confronto e
assegurar a classificação para a fase seguinte. Mesmo sem jogar bem, avança.
Nos pontos corridos, se fizer uma ou duas partidas convincentes em meio a uma
série, encalha ou afunda.
Perder
os mandos só tornou mais dramática a trajetória no campeonato. Por culpa de
alguns torcedores, o clube foi punido, tendo que jogar a mais de 150 km da
capital. No primeiro teste em Araraquara, derrota ante um concorrente direto,
no último minuto, de pênalti, com a crueldade que tem sido pouco amiga do
Porco. Sair de São Paulo, a essa altura da competição, foi mais uma pá de terra
na cova. Convenhamos, a torcida paulistana é bem mais vibrante a numerosa que a
interiorana. O povo daqui é mais quieto, sossegado e, neste caso, intercede
menos em prol do time. Na atual conjuntura, o Palmeiras necessita que a massa empurre
os jogadores para frente, à vitória.
Politicamente,
o clube está esfacelado. Não há unidade, o discurso diverge e não existe no
Palmeiras a dedicação de todos à entidade. Os grupos se viram contra a
instituição, em favor de seus interesses. Aparentemente, boa índole não faltou
a Tirone e Belluzzo, atual e último ex-presidente do clube, mas a falta de
capacidade administrativa de ambos somada ao esforço dos grupos oposicionistas
em tumultuar o ambiente comprometem o Verdão há alguns anos, desde a saída da
Parmalat. Contrata-se mal, fazem-se times pouco competitivos e o torcedor
sofre.
A
tabela do Palmeiras não é nada animadora. Nos oito jogos que restam, na ordem,
o time irá enfrentar: Bahia (F), Cruzeiro (C), Internacional (F), Botafogo (C),
Fluminense (C), Flamengo (F), Atlético Goianiense (C), Santos (F). A única
partida fácil talvez seja a penúltima, contra um Atlético já rebaixado. Além de
enfrentar times com alguma pretensão no campeonato, o elenco palmeirense não
inspira confiança. Independente dos adversários, é fato que o Palmeiras,
enquanto clube, faz um esforço grandioso para ser vexame outra vez.
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