segunda-feira, 1 de outubro de 2012

É IRRACIONAL – PORQUE IMPOSSÍVEL – QUERER VER TUDO

Após ser ordenado por Deus a disseminar o Seu nome aos demais, Moisés questiona: “mas quando eu chegar lá, dizer que falo em nome de ti e perguntarem quem és tu, o que digo?”. Respondeu Deus: “Diga-lhes que eu sou o que sou”.

Eu imagino que Moisés tenha ficado cabreiro, porém, obediente, atendeu ao pedido divino de propagar a quem quer que fosse o nome daquele com quem ele conversara, mas jamais vira. Nunca ninguém O vira, e isso causa nos homens regozijos e questionamentos.

Se eu estivesse no lugar de Moisés talvez não falaria, mas pensaria: “Ai, caramba! Como é que Ele quer que eu chegue a um lugar e diga a todos, depois de perguntado sobre quem é Deus, que Ele é o que é?”. A solicitação do Criador é indigesta, porque desprovida de qualquer referência.

Quando não conhecemos ou vemos alguma pessoa ou coisa, invocamos a necessidade de características que nos tragam, não o objeto ou o ser em si, mas a sensação deles. O cheiro, o som, uma descrição detalhada que contenha altura, largura, peso, cor, ajudam a nos aproximar do que não podemos ver ou tocar.


As religiões trabalham muito com isso, com os símbolos. É o testemunho que alguém dá em público, o sinal da santíssima trindade, as imagens de santos, as ofertas, os livros que servem como base às mais diversas nomenclaturas e as metáforas que tentam passar um entendimento maior acerca de algo distante. Tudo isso faz com que Deus ou qualquer outra entidade superior se achegue, torne-se mais real, já que a verdade nua e crua é distante.

Na sala de aula é assim também. Se o professor não trabalhar com exemplos, vídeos, fotos, atividade prática, adeus teoria. É por isso que os acadêmicos de Jornalismo, por exemplo, enaltecem o profissional do campo de trabalho. Porque o jornalista da rua torna palpável tudo aquilo que o estudante só ouve. Quando os exemplos da experiência vêm, pronto: é o esclarecimento. Se vier a dúvida, ótimo.

Pela limitação de todos nós, buscamos sempre uma ancoragem, qualquer referência em que possamos nos escorar. A gente busca a materialização de tudo para facilitar a compreensão e encobrir o comodismo de não refletir sobre nada que não seja cartesiano. E o Iluminismo apresenta uma necessária contradição: se comprovar tudo é impossível, ambicionar isso não chega a ter certa dose de paixão?

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