Após ser ordenado
por Deus a disseminar o Seu nome aos demais, Moisés questiona: “mas quando eu
chegar lá, dizer que falo em nome de ti e perguntarem quem és tu, o que digo?”.
Respondeu Deus: “Diga-lhes que eu sou o que sou”.
Eu imagino que
Moisés tenha ficado cabreiro, porém, obediente, atendeu ao pedido divino de
propagar a quem quer que fosse o nome daquele com quem ele conversara, mas
jamais vira. Nunca ninguém O vira, e isso causa nos homens regozijos e
questionamentos.
Se eu estivesse no
lugar de Moisés talvez não falaria, mas pensaria: “Ai, caramba! Como é que Ele
quer que eu chegue a um lugar e diga a todos, depois de perguntado sobre quem é
Deus, que Ele é o que é?”. A solicitação do Criador é indigesta, porque
desprovida de qualquer referência.
Quando não
conhecemos ou vemos alguma pessoa ou coisa, invocamos a necessidade de
características que nos tragam, não o objeto ou o ser em si, mas a sensação
deles. O cheiro, o som, uma descrição detalhada que contenha altura, largura,
peso, cor, ajudam a nos aproximar do que não podemos ver ou tocar.
As religiões
trabalham muito com isso, com os símbolos. É o testemunho que alguém dá em
público, o sinal da santíssima trindade, as imagens de santos, as ofertas, os livros que
servem como base às mais diversas nomenclaturas e as metáforas que tentam
passar um entendimento maior acerca de algo distante. Tudo isso faz com que
Deus ou qualquer outra entidade superior se achegue, torne-se mais real, já que
a verdade nua e crua é distante.
Na sala de aula é
assim também. Se o professor não trabalhar com exemplos, vídeos, fotos,
atividade prática, adeus teoria. É por isso que os acadêmicos de Jornalismo, por exemplo, enaltecem o profissional do campo de trabalho. Porque o jornalista da rua torna
palpável tudo aquilo que o estudante só ouve. Quando os exemplos da experiência
vêm, pronto: é o esclarecimento. Se vier a dúvida, ótimo.
Pela limitação de
todos nós, buscamos sempre uma ancoragem, qualquer referência em que possamos
nos escorar. A gente busca a materialização de tudo para facilitar a
compreensão e encobrir o comodismo de não refletir sobre nada que não seja
cartesiano. E o Iluminismo apresenta uma necessária contradição: se comprovar
tudo é impossível, ambicionar isso não chega a ter certa dose de paixão?
Nenhum comentário:
Postar um comentário