Na minha
infância, quando eu já era uma criatura apaixonada por futebol, esperava que
algumas coisas relativas a esse esporte pudessem acontecer mais adiante. Talvez o
jogo de botão, as camisas do glorioso São Paulo que compro desde 1991, quando
ainda tinha seis anos, os títulos do clube e da seleção com os quais vibrei, as idas
aos estádios (Morumbi e Maracanã entre eles) alimentaram em mim algumas
esperanças que, hoje, se frustram.
Esqueçam o
futebol como esporte, como disputa, como representação étnico-cultural que já
fora outrora. O jogo de estádios abarrotados, acessíveis a quem quer que fosse.
É bem verdade que o torcedor era jogado nas arquibancadas, sem o menor conforto
e segurança. Mas, agora, a higiene é tanta, a sofisticação também, que o futebol que antes
abarcava, agora exclui. Em campo, ainda se vê representada a mescla de etnias
marcante no Brasil. Na platéia, a elite é cada vez mais assídua. Por isso, os
cantos são mais fracos e o protesto é sem fundamento. Hoje, o cara vaia e, em
seguida, sorri de lado. O amante do futebol de desde sempre quase não consegue
mais entrar em um estádio, pois não se acha ingresso nem por R$ 10. Para o
clube, é melhor ter a garantia de audiência em casa, negociando com a Globo os
direitos de transmissão, do que encher estádios e dar de volta a esse esporte
incrível a sua essência. Futebol é negócio, meu caro.
Quando pequeno,
pensava na possibilidade de ver a seleção disputando uma Copa em casa. Hoje, às
vésperas disso ocorrer, me pego querendo ver o time perder, de preferência pela Argentina de
Messi, com requintes de crueldade. Mesmo assim, ainda hei de sofrer mais pela
derrota de 1950 do que por esta, que, tomara, deverá vir em fase de
quartas-de-final, no máximo. É claro que o time pode engrenar em dois anos, mas
parece pouco provável que isso aconteça. Em outros tempos, como em 2002, a
situação era ainda pior a um ano do mundial. Só que o time, sensacional.
O problema de
hoje não é só a falta de treinamento adequado, mas o descompromisso do jogador,
a falta de consciência do que representa vestir a camisa amarela. Soma-se a
isso as falcatruas nos bastidores, especialmente com a construção e reforma de
estádios. É inevitável gerar não em poucos o efeito contrário no torcedor, e
este querer a desgraça, e não o êxito. É claro que uma coisa não exclui a
outra, mas o pensamento é de que, se o Brasil perder, toda essa afronta terá
vingança. Agora, falando friamente, o que começou irregular, irregular
terminará, seja com vitória ou fracasso brasileiro.
Essa é a mesma
seleção que convoca jogadores contestáveis. Mas daí a dizer que tudo acontece pelas
ligações entre técnico e empresários é exagero. Imagine! Você com essa mania de
ver maldade sempre... Mas que soa como interesse particular, e não técnico, tático
e físico, não há dúvidas, algo que sempre houve. Em pequena escala, para não
dar à vista, mas houve. Ninguém conhece o atleta, ele é convocado, está na
maior vitrine que existe e, portanto, é valorizado a níveis estratosféricos. De
um dia a outro inflaciona milhões, é vendido, e técnico e empresários lucram
com a venda. Maracutaia? Claro que não, tudo coisa da sua cabeça...
Outro indício de
que futebol é mais dinheiro do que esporte são os amistosos da seleção,
comprados recentemente por uma empresa do Qatar. Por jogo, a CBF irá receber
US$ 1 milhão para atuar onde e contra quem a ISE (International Sports Events)
quiser, e não a torcida brasileira ou, ao menos, a própria CBF. Isso só até
2022, no mundial que irá ocorrer... no Qatar. Apenas coincidência? Claro que
sim, ou você achou que a CBF negociou: “Você, Qatar, compra as partidas do
Brasil e eu, Confederação, te escolho como sede da Copa de 22”. O voto de
Teixeira, à época, foi esse, os jogos do Brasil são propriedades da ISE,
empresa do Qatar, até 2022, mas não há nada de escuso nessa história toda.
Nada!
Você está desiludido com o futebol, com a
seleção? Acredita realmente que as convocações, a Copa e todo o resto têm
manobras obscuras? Você é da opinião de que a corrupção de todos os lados está disseminada, que os ingressos estão demasiadamente caros para um espetáculo
sem tanto valor? Você se indigna porque o elitismo invadiu os estádios e
transformou as arenas em teatros, em salas de cinema? Dane-se você.
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