Tive a
oportunidade de assistir a um trecho do debate entre o democrata Barack Obama e
o republicano Mitt Romney, candidatos à presidência dos Estados Unidos. O
pleito norte-americano acontece em 20 de novembro. Tirando o fato de que Obama
estava estranhamente desconfortável, o que favoreceu o adversário, mais incisivo,
o confronto entre ambos serviu para escancarar ao Brasil que o nível das nossas
eleições é raso. E é bem possível que a gente viva sob essa égide por mais
algum tempo. Por aquelas bandas, o político encara a eleição com maturidade e seriedade, esclarecendo ao cidadão a real dimensão do contexto atual e daquilo que precisa ser feito.
Não que a lucidez
e o tom civilizado devam ter presença integral ao longo de toda a campanha nos
EUA, mas que a exceção à regra é o escândalo, a histeria, isso parece estar
posto de modo bastante claro. Por lá, o que se viu foi uma discussão
estritamente técnica, envolvendo temas como economia e saúde. Seria tolice da
parte de Romney não apontar falhas nos quatro anos de mandato do seu oponente,
mas tudo feito de modo educado e, o principal, oferecendo alternativas –
viáveis ou não. Quem se interessar por acompanhar o debate completo da última semana
entre os presidenciáveis americanos, sem legenda e dublagem, basta acessar http://www.youtube.com/watch?v=aYKKsRxhcro.
Aqui acontece o
oposto. A despeito de algumas raridades, o candidato parte para a baixaria, às
acusações pessoais, ou lança mão das frases de efeito, os clichês que acabam
por tocar a carência e esperança do eleitorado mais órfão, mas que são
desprovidos de consistência. Não é suficiente ao postulante a cargo político
afirmar que “a população merece uma cidade melhor”, que “é hora da mudança”,
que “juntos faremos uma sociedade melhor”. Eu ficaria perplexo se algum
candidato pregasse o inverso disso. No país das maravilhas, a Alice sabe que
tudo será feito, mas a forma como as benfeitorias serão viabilizadas é que é o
cerne da discussão. Sobre as acusações, não adianta afirmar que o oponente é
cretino, se o acusador não prova por A + B que é mais capacitado que ele.
Como a imprensa é
responsável, na maior parte do tempo, por inserir na sociedade e na própria
agenda dos candidatos a tônica da disputa, recai sobre o jornalismo o papel de
exercer o seu trabalho com a frieza que pede a ocasião, sem vender uma
neutralidade inexistente ou saltitar diante de picuinhas que não trarão
benefícios ao pleito. Além de ter um lado, a imprensa brasileira é uma jovem
atuante no processo eleitoral, porque o mesmo retornou há pouco mais de 20 anos,
e isso faz dela incapaz em momentos pontuais da corrida. O nosso jornalismo, especialmente o mais robusto, ainda tropeça na vontade de fazer um bom trabalho e nos interesses escusos que perpassam
as empresas midiáticas mais graúdas.
Além de canais de
informação pouco maduros e políticos mal preparados – intencionalmente ou não –
a outra ponta dessa equação é ocupada pelo próprio eleitor brasileiro, que
ainda não possui bagagem suficiente para encarar um confronto mais maçante
entre candidatos, onde se debatam problemas e soluções para as cidades. É muito
mais agradável acompanhar troca de acusações ou uma aparição mais folclórica e humorada,
do que se concentrar, informar-se e compreender uma discussão mais cirúrgica e
propositiva. Embora o “Efeito Tiririca” tenha sido menos presente nessas eleições,
há que se ter um eleitor menos alienado.
Enquanto a
imprensa informa sobre este e aquele desvio do candidato, no passado ou no
presente, enquanto a justiça se incumbe de punir quem se enquadra em crime eleitoral,
civil ou penal, o cidadão olha para a disputa em Washington e percebe que Obama
e Romney não teriam muita chance aqui. Porque, de um modo geral, o eleitor
brasileiro entra na tendência avacalhada do nosso processo eleitoral, com
frases bonitas e troca de animosidades gratuita, e se esquece de que é
necessário aos postulantes discutir a cidade e suas carências. Ah, o votante se
esquece também de que ele próprio precisa dialogar e tomar ciência sobre o
lugar onde vive.
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