segunda-feira, 8 de junho de 2020

“DEUS ACIMA DE TUDO, BRASIL ACIMA DE TODOS” ENCARNA A SUA CARICATURA MAIS GROTESCA

O fiasco retumbante que é Jair Bolsonaro vai saltando aos olhos (dos que querem enxergar) da pior forma possível: são 691 mil casos de Covid-19 e 36 mil vidas perdidas, cifras bastante subnotificadas – e, desde sábado, também omitidas. Em tempos de crise, a incompetência de quem precisa tomar decisões importantes fica mais evidente. Porque se para resolver um problema desse tamanho é necessário pensar, quem tem inteligência diminuta sucumbe tristemente. Até Donald Trump, para quem o presidente brasileiro abana o rabo sem pestanejar, já denunciou.

Incapaz de encontrar uma solução sanitária e econômica ao país, o senhor que nos governa faz da política um palco de encenações e chacotas. De quebra, confraterniza com manifestações antidemocráticas em surtos de exibicionismos dominicais. Como se não bastasse tudo isso e fora o banditismo na conta das infrações e negociatas sucessivas, o presidente decidiu atrasar a divulgação diária dos números do coronavírus, além de omitir o acumulado de casos e mortes. Com já é sabido: a censura é a antessala do autoritarismo. Essa gente é assim: sem um plano de enfrentamento à pior epidemia do último século, o podre poder acanalhado opta por torturar as estatísticas, fazendo de conta que o problema é menor do que é. Ocultar cadáveres é método rotineiro de milicianos, com os quais, certamente, um presidente da República não se senta à mesa.

Mas nos grupos do zap (ou “O fantástico mundo dos bolsominions”, se você preferir), a Covid-19 não passa de uma conspiração comunista para dominar o mundo, os caixões estão vazios ou cheios de pedra, a cloroquina previne e cura, o isolamento social é um complô dos governadores e da Globo para prejudicar o “mito” e o isolamento apenas dos grupos de risco resolve a “gripezinha”. O expediente, assim como nas eleições, segue o mesmo: fake news a rodo, agora sob financiamento de dinheiro público, cuja finalidade, além de tornar a realidade difusa e fracionar a sociedade, é resolver de forma simplista problemas demasiadamente complexos. Tenha certeza: se as narrativas falaciosas que circulam por aí já polarizou a sociedade brasileira em temas subjacentes ao coronavírus, o novo antagonismo virá em torno dos números. O submundo dos aplicativos de mensagem e os emporcalhados algoritmos das redes sociais empacotam ilusões e servem, de bandeja, a narrativa que se deseja ler, que afaga os olhos, mas que não condiz com o mundo concreto.

Ao contrário do que diz Bolsonaro, morrer de Covid-19 não é o destino de ninguém. O atual momento desnuda uma gravidade ainda mais chocante: a negligência, outrora amiga do atual governo, deu lugar à sabotagem pura e simples. Deslocar recursos do Bolsa Família para turbinar a propaganda governista, atrasar o auxílio emergencial, manter ociosos hospitais federais e não usar todo o fundo destinado ao combate à Covid-19 são sinais de que a política pública em curso agora, sem qualquer pudor, é a morte.