sábado, 7 de dezembro de 2013

1918-2013: a história se escreveu

É difícil não ser piegas ao falar de Mandela. Tentarei não ser. Ao mesmo tempo, dane-se o patrulhamento aos adjetivos demasiadamente afetuosos. Se não os descarregarmos sobre Nelson, teceremos loas a quem? Excetuando as divindades e os semi-deuses – antes que os fundamentalistas de todas as partes me acusem de blasfêmia imperdoável –, Madiba foi das criaturas mais admiráveis a pôr os pés neste mundo. O que não simboliza dizer que o líder sul-africano fosse perfeito. Não era, ainda bem, pois as perfeições podem ser entediantes e incompreensíveis.

Como se vê, os nomes eram vários: seis ao todo, sempre preservando o sobrenome Mandela. Rolihlahla, em Xhosa (tribo à que pertencia, por causa do pai, quando nasceu), significa aquele que traz problemas. Nelson foi o nome que ganhou na escola, devido à influência inglesa no país. Madiba, nome do clã pertencente ao povo Thembu do qual passou a fazer parte. Tata, em Xhosa, significa pai. Khulu, em Xhosa, tem sentido de avô, sendo também sinônimo de grande e supremo. Dalibhunga, nome que recebeu da etnia Xhosa aos 16 anos, cujo significado profético é criador da conciliação, do diálogo.


Mandela, homem de coração largo e generoso, é daqueles que não deveriam morrer. É impressionante notar que o sul-africano viveu seus 95 anos de tal forma, que se a minha vida e a sua, caro leitor, fossem somadas, ficaríamos aquém, ainda que vivêssemos praticamente um século ou mais. Nós, os medíocres, deveríamos só olhar, porque Mandela inspira. Diferente do resto, eis o homem que tinha o sorriso, o olhar e a palavra e, por isso, não era um qualquer.

É senso comum dizer que o mundo seria bem melhor se mais Mandelas aparecessem. Mas ele só foi quem foi por ser um. E a ideia da raridade é justamente essa: fazer com que a figura fique para a posteridade por ser única, a referência, e não o banal. É como se Deus tivesse botado uma porção a mais de si em Mandela para que o mundo pudesse deliciar. Mas nada disso bastaria, se o revolucionário não tivesse o talento humano de potencializar o dom.


A filosofia platônica prega que a morte é a cura. É o momento em que a alma, infinita e perfeita, desprende-se do corpo, perecível e falho. Para Platão, a viver terrenamente é inviável, pois como pode ser boa uma vida que se desenrola com base no aprisionamento? Ao que parece, Mandela desmentiu um dos gigantes do pensamento grego. Mostrou que o corpo pode complementar a alma e consumar o impossível. Um beijo, Dalibhunga.

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