sexta-feira, 16 de novembro de 2012

QUANDO OS OLHOS TITUBEAREM, É DEUS

Na história das religiões, verifica-se uma busca desenfreada – e compreensível – de se materializar Deus ou qualquer outra instância superior. É o anseio de tornar delimitado o que não se vê, o que não se toca e o que quase não se ouve. Uma imagem de gesso ou de papel, um testemunho dado por alguém que passara por experiência singular, os rituais no mar, a prova de um milagre. Tudo isso é feito porque o homem é limitado, mas também para que ele aborreça a dúvida que teima em se insinuar e certifique-se: “É. Deus realmente existe”.

Igual a você, eu também busco naquilo que a vida tem de mais simples a explicação que a espécie humana não pode conceber, a criação de que o homem não está apto a ser proprietário. As coisas que fogem a esse mundo não brotam daqui. O inacreditável, o momento que nos torna boquiabertos, que faz a lágrima soltar-se dos olhos, carrega em si algo sobrenatural, porque, se normal fosse, não nos faria incrédulos. Seria trivial, e o corriqueiro não muda a ordem dos acontecimentos. O ponto pacífico só é bom quando cessa a guerra. No mais, ele não rompe com nada, e por tal motivo é entediante.

Se a cadência do batimento cardíaco acelera, se os olhos esbugalham-se diante da razão furtada, temos ali a raridade. E este blogueiro crê que Deus bota em todos, até nos animais, um pouco de Si, para que o homem, na interação com os seus e com outros animais, possa deleitar-se no intercâmbio de experiências, conhecimentos e diversão. São os encontros, e não a segregação, que fazem dessa criatura inteligente e evolutiva.

"O incrédulo São Tomé", de Caravaggio
Mas alguns poucos são agraciados de forma a impressionar um número massivo de pessoas, ao mesmo tempo. E é no esporte, produto extensamente difundido pelos veículos de comunicação de massa, que se encontram uns foras de série. Ayrton Senna (automobilismo), Lionel Messi (futebol), Michael Jordan (basquete), Roger Federer (tênis) são alguns dos esportistas que fizeram ou fazem do bom senso uma prerrogativa descartável. Eles estão além daquilo que é cômodo e linear.

Isso não faz deles melhor que você ou eu. Também não é motivo para depressão ou tentativas de suicídio, lamentando: “Por que, meu Deus? Por que eles, e não eu?”. Os questionamentos são egoístas, uma vez que não anseiam Deus, e sim fama e dinheiro. Os nomes em evidência viabilizam, ao grande público, o confrontamento entre expectativa e inesperado, assustando-nos, encantando-nos. Se fizessem isso para uma única pessoa, não seriam quem são, mas tão bons quanto.

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