segunda-feira, 12 de novembro de 2012

VIOLÊNCIA EM SP: em meio ao tiroteio sem mocinhos, a política e suas vaidades

É como se a violência urbana, que abocanhou pontos específicos do Rio de Janeiro até pouco tempo atrás, tivesse tomado a ponte aérea. Sim, ela está em São Paulo, capital do Estado mais rico do país, cujo lema é Non ducor, duco (Não sou conduzido, conduzo). A Pauliceia está sem as rédeas da situação, sofrendo com policiais mortos em madrugadas violentas, o que para uma cidade do tamanho dela não é nada bom. O prefeito e o governador sucumbem, outra vez, ao poder paralelo. Kassab já está resignado, e sabe que Dilma é a única salvação – e olhe lá – para o cenário. Isso porque o político emergente saiu do time PSDB-DEM para jogar no PT-PMDB, pois, de acordo com as novas diretrizes do partidarismo brasileiro, político que preze a evidência, e não o fracasso, joga com Lula. Alckmin, não. Prefere manter uma pompa – e uma força – que não existe. Está encurralado, e, se não gritar, vai perder.

Primeiro, é evidente, todavia não devesse, que uma tomada de decisão mais pontual passa pelo interesse da política partidária, ainda que o bom senso mostre ao mais ingênuo que a situação é temerária, de âmbito civil. Tudo é muito simples: se Geraldo Alckmin reconhecer que a situação fugiu ao controle e, com isso, solicitar ajuda federal, como fez o Rio, é atestar-se incapaz, pondo na berlinda uma pretensão sua ou do PDSB ao cargo maior em 2014. Se ele não recorrer ou demorar mais a fazer isso, será negligente. Exatamente! Tudo é pensado de acordo com o poder. A sociedade e, neste caso, a preservação da vida são elementos secundários nesse processo político. Por isso, o tucano recusa ajuda de Brasília, o que é de uma mesquinharia tremenda, assim como será também quando Dilma, na campanha eleitoral, daqui a menos de dois anos, jogar na cara do candidato adversário que, se não fosse por ela, SP teria sangrado mais. A política é isso, meu caro.

Outra marca do ataque de criminosos contra policiais é a aceitação com que a população recebe o acontecimento. Muito em função da sociedade ser passiva, como é do feitio brasileiro desde que os portugueses botaram os pés aqui, com algumas louváveis exceções. Muito também porque boa parte das pessoas enxerga na polícia mais uma inimiga do que aliada. E tudo por um motivo bastante claro: a polícia também mata. O que ela recrimina dos ataques que sofre, é o que protagoniza. Não se fala aqui do confronto armado, em que é matar ou morrer. Fala-se aqui de execuções, e a polícia de São Paulo, sob o ensinamento de Paulo Maluf de que “bandido bom é bandido morto”, mata quando não há necessidade, ao invés de fazer o mais simples, prender. É como se a polícia agisse com rigor, sem ser preciso, e se omitisse quando a ocasião é de enfrentamento. Nessa toada, já fez muito inocente defunto.


Nem todos os policiais se enquadram nisso. Além de ganharem pouco e serem mal treinados e equipados, dedicam-se a uma profissão arriscada, colocando em xeque a sua integridade, correndo o perigo de deixarem filhos e esposa. Mas não são raridades os PM’s que se acovardam no momento em que precisam aparecer, ou que se agigantam para aplicar multas de trânsito, ou que se aliam ao próprio crime, ou que assassinam bandido ou não. Um pouco de cada falha, que se repete não na maioria da corporação, mas em grande escala, tem parcela de responsabilidade no que se vê agora em São Paulo.

A ideia de separar os principais responsáveis pela onda de ataques, colocando-os em presídios distantes e desarticulando a espinha dorsal do PCC, simboliza a falência, aí não da polícia, mas das políticas de segurança pública. Como se as facções criminosas se comunicassem pessoalmente, e não por celulares, que entram aos montes nas penitenciárias de todos os lugares. Não adianta separar, mesmo porque as operadoras de telefonia celular oferecem promoções imperdíveis envolvendo ligações entre Estados, SMS entre operadoras diferentes e acesso à internet. E quem comanda o crime de dentro das prisões sabe e acessa as facilidades de comunicação.

A solução não é fácil, mas há guerras civis por aí, inclusive na Colômbia, que são bem mais complexas que as nossas. Por enquanto, é só dar à PM melhores condições de trabalho e tirar dela a prática atrasada, de matar por matar, que nivela a corporação aos criminosos quando assim ocorre. Ao Estado, cabe financiar esse avanço, preparar leis que punam o infrator, seja ele policial ou não, e tentar conduzir a situação com mais zelo à sociedade e menos interesse político. Ao povo, cairiam bem o protesto e um voto nos projetos que priorizem um país mais moderno, não só na engenharia, mas na mentalidade.

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