É evidente
que eu prefiro futebol. Esse esporte que veio no encalço da guerra, em
aproximadamente 2 mil a.C. na China, e que empolga os corações nossos e nos faz
agir desmedidamente, variando da loucura ao patético em questão de segundos. O mesmo
que manipula multidões, submetendo os ouvidos da massa a um rádio de pilha
calejado e os olhos do povo à TV, aparelho que traz, lado a lado, a imagem do
êxito ou do sofrimento. E quanto mais vemos e ouvimos, dobramos os joelhos ao
futebol, o mesmo que nos enraivece, entristece, aquele que faz de nós um
felizardo.
Mas se o
auge do jogador de futebol é ir à Copa e vencê-la, é possível afirmar que
nenhum atleta do mundo anseia tanto a vitória como o esportista que chega a uma
Olimpíada. A prova arrebatadora disso são as reações à derrota. O sofrimento do
perdedor olímpico é sensivelmente maior que o do jogador derrotado em uma partida
decisiva de mundial. Para o corredor, o nadador ou o judoca, fica a sensação
incurável de quatro ano inválidos. O boleiro sente, mas dentro de um mês ele
terá as mágoas curadas pelos campeonatos nacionais ou continentais. No esporte
que conduz uma bola com os pés, a vitória está banalizada. A derrota, também. O
boleiro é insensível ao hino. Tudo é muito corriqueiro.
E a
frustração da derrota é maior nas Olimpíadas porque o atleta, na maioria das
vezes, disputa só. A responsabilidade do sucesso ou do fracasso está sobre as
costas de uma pessoa, devotada a vencer o outro e a romper os limites de si
mesmo. É claro que há os esportes coletivos como o vôlei, basquete, handebol,
mas pergunte aos jogadores dessas modalidades qual o título mais desejado. Ao
contrário do jogador de bola, eles dirão que os Jogos Olímpicos são a cereja do
bolo. A medalha de ouro será importante à carreira de Neymar, especialmente
porque o ineditismo do triunfo torna a consagração mais significativa. Porém, é
certo: o atacante santista trocaria a hipotética medalha dourada pela Copa do
Mundo sem titubear.
O futebol,
por ter um número maior de jogadores e, por isso, a responsabilidade torna-se
dividida, não incumbe o seu profissional do mesmo modo que os Jogos. Cabe ao
atleta de Olimpíadas atingir o ápice da sua forma física e mental. Qualquer
vacilo na preparação ou desvio de concentração custa-lha a medalha, quatro anos
de todo o ciclo. Ao jogador é importante estar bem física e mentalmente, mas
essa não é condição sine qua non para
a vitória, posto que o coletivo pode se encarregar de suprir deformações
individuais.
No viés
disciplinar, o futebol também perde. A regra já não é clara, como teima em
pleitear o comentarista Arnaldo Cezar Coelho. Para piorar, o nível dos nossos
árbitros é de medíocre para baixo, e é cada vez mais comum o melhor não vencer
por culpa de erros dos juízes. Isso posto, o desrespeito inunda o futebol dentro
e fora de campo, tendo-se noção menor de que o jogo é só um esporte. Após o
apito final, a vida segue como de costume.
Os esportes
olímpicos têm tudo isso muito bem definido. Os eventos são tratados como show,
entretenimento, e o público usa o esporte para distração. No futebol,
procede-se o inverso: a disputa se apodera do homem e submete-o a práticas
animalescas e tribais em não poucas vezes. Em raras ocasiões vemos badernas
dentro dos limites da disputa ou nas arquibancadas, quando de uma competição
olímpica. A disciplina, inclusive extra-competição, é requisito fundamental para
que o praticante seja considerado um atleta. Do contrário, o próprio nível de
disputa ou a normatização de cada modalidade se encarrega de abolir o
esportista.
O que muito
se discute é a legitimidade do futebol como modalidade olímpica. Mesmo com
discussões para excluir a disputa entre 22 jogadores, o futebol ficou por um
simples motivo: dá dinheiro. O esporte pouco glamourizado em tempos como os
atuais converge multidões, pulsa audiência, enche estádios, traz aquilo que os
políticos do esporte mais gostam. Disputa? Equilíbrio? Emoção? Não. Lucro.
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