quarta-feira, 18 de julho de 2012

“QUE É A VERDADE?”

Alguns assuntos se levantam como indigestos e diante deles temos a velha mania de criar ressalvas, na tentativa de sairmos impunes de algo que nos apresentou como falíveis, porque todos somos. Ao encobrirmos o erro, nos pretendemos plenos, e está pra nascer alguém que seja assim. Quem se acha incólume, já é carta fora do jogo.

A nossa fuga é invariavelmente no sentido de relativizar a verdade. “O que é verdade pra você pode não ser verdade pra mim” é a frase mais deflagrada no momento em que alguém destoa de outrem, quando o mais simples é apenas discordar. O que diverge são as opiniões, os pontos de vista, as crenças, algo inerente às relações humanas e, em boa parte das vezes, sadio à evolução. Ah, mas quão dura é a empreitada de crescer, da busca incontrolável pelo esclarecimento.

Diante de discursos contraditórios, a verdade está em um dos lados. Ou em nenhum. Dos dois, impossível. A verdade é absoluta e a prova disso é que vivemos no sentido de acertá-la. É a motivação que faz da lida diária o maior dos desafios. A nossa vivência espiritual e carnal, ao longo de anos, traz a experiência, elemento imprescindível para as descobertas, para ultrajar as dúvidas que nos afligem. Mas só ganha e usa a experiência quem sabe e quer.


O que ocorre com a maioria de nós, dos mais jovens aos mais vividos, é que o nosso arcabouço de vida – intelectual, moral e espiritual – pode não estar apto a descobrir a verdade, seja sobre Deus, sobre a vida, sobre a morte, seja sobre o que de mais elementar existe por aí. Mas isso não é irreversível, e ela – a verdade – está lá, inteira, completa, sem dar-se ao trabalho de se desviar do homem, posto que essa criatura já o faz com boa dose de talento.

A pergunta de Pilatos a Jesus é o questionamento de todos nós, a indagação aos outros ou a si próprio, o limiar entre o conhecimento e a ignorância. Se Sócrates – o filósofo, não o jogador – morreu sem nada saber, a nossa tarefa por essas bandas é igualmente árdua. Ainda que não encontremos a verdade aqui ou acolá, saber que ela é concreta pode ser um passo inicial.

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