O óbvio seria falar sobre mães. Mas como quase todos,
eu só tenho uma, e o texto ficaria limitado a falar só dela, já que seria
pressupor demais discorrer sobre o todo materno. Melhor escrever sobre as
mulheres, aquelas que são mães, que serão, que já foram, que poderiam ter sido
ou que tiveram filhos, mas nunca foram. Aquela com a qual nos relacionamos
mesmo antes de habitar este mundo, as protagonistas do mais incrível milagre.
Seja como marido, filho ou irmão, seja cunhado, sogro ou genro, haverá, há ou
houve alguma mulher que certamente não passou despercebida por você. Porque
elas jamais passam, meramente.
Comecemos pelo princípio. A mulher é
ponto de discórdia desde os primeiros dias da existência humana. E acabou nas
suas costas uma culpa que não fora só dela. O pecado recriminado por Deus e por
nós, hipócritas de sempre, teve como fundamento a fraqueza do homem e a maldade
da serpente. Enfim, dividir a culpa em três é o mais justo, e o Senhor sabe
muito bem disso. Mas como para a humanidade é sempre mais cômodo eleger um
vilão, eis que a mulher entrou para a história por ser a primeira, e até pouco
tempo atrás sofria os efeitos disso, graças à nossa falta de bom senso e à
ignorância de Estado e Igreja.
À parte essas questões institucionais
e históricas, temos a mulher em seus traços mais abstratos, com toda a
imprevisibilidade, complexidade, intensidade e o fato de serem imprescindíveis
aqui e acolá, ontem e sempre. Se assim não fosse, Chico, Tom e Vinícius teriam
dito tudo. Embora dissessem muito, pouco se tem sobre elas, posto que poesia
alguma é suficiente para contemplar a totalidade dessas criaturas amáveis,
valentes e temidas pelos homens que prezam pela sua macheza. A mulher é tudo
isso, não é só isso e, portanto, a queremos com empenho e paixão.
É evidente que esteticamente é mais
sedutora que o homem. Ao colocar lado a lado, completamente nus, o corpo de uma
mulher e de um homem, de mesma altura, peso e envergadura, adivinhe qual será o
mais belo. Sim, as curvas empolgantes e tentadoras são capazes de ferir os
corações nossos, fazer-nos perder o juízo, colocar-nos de joelhos. É fatal ao
homem e à outra mulher também, que se coça, atenta, a encontrar um defeito para
se tranquilizar de que não é só ela a imperfeita.
Mas mulher alguma é sem ressalvas,
uma vez que, se fosse, chata seria, sem graça seria, nada seria. E o fato de
possuírem desvios é o que nos atrai ainda mais, é o que as torna humanas,
semelhantes a nós, embora reverenciadas como a deusa premeditada, a alma intocável,
o espírito apaixonante. É evidente, algumas são impiedosas e machucam os mais
frágeis que confundem amor com a enganosa idéia de possessão infinita. Uma
mulher nunca é de ninguém, caro leitor, e isso nos ajuda a desejá-la ainda
mais, a buscá-la todos os dias.
Agora, o maior e mais difícil dos
mistérios humanos é entender o que pretende uma mulher. Ela não fala o que
quer, e quando fala já não quer mais. Os hormônios à flor da pele, da tão
rememorada e inesquecível TPM, fazem da mulher uma arma, que desafia e desperta
nos homens o anseio inesgotável de traduzi-la. Quando do período das três
letras – melhor não ousar pronunciar o significado –, os três, quatro ou cinco
dias parecem durar a vida toda, uma vida de agressividade da qual eu, você e ela
queremos nos livrar. A dita cuja sangra o homem, mas a fragilidade de estar
exposta ao ímpeto desmedido faz da mulher uma vítima de si mesma. É
recomendado, pois, evitar o confrontamento nesses dias, com sérios riscos de
derrota para o lado masculino. Se isso der certo – e dará –, um carinho aqui,
uma palavra amorosa ali são boas opções para resguardar o relacionamento e
fortificar a felicidade.
Por natureza, a mulher é egoísta.
Experimente contrariá-la sobre algo já concretizado na sua cabeça. Ou é do jeito
dela ou é bronca e braveza para dar e vender. Mas, pense: que mulher não fica
mais linda quando está enfurecida? Não são raras as vezes que as provocamos
para soltar delas uma sobrancelha contorcida, um olhar fulminante, os lábios
falantes, excitantes, relutantes. E quando elas conversam? Todas falam, ninguém
se ouve. O choro e o sorriso de uma mulher permeiam olhos e ouvidos. Não há
quem passe impune por tamanhas reações. Sucumbir a essas e outras
idiossincrasias faz parte de um romance e tanto.
A contrapartida disso é a palavra
reconfortante, a respiração leve, a mão que puxa nos momentos de maior
dificuldade. A mulher tem a sensibilidade de ver ao que o homem não está apto,
de sentir o que de nós passa distante, e a lucidez impera ao nos orientar sobre
a melhor escolha. Mas a sensibilidade vira fragilidade quando, ao invés de uma
mão sutil, o homem toca a face feminina com tapas e socos. Buscar
justificativas para isso é atestar-se covarde. Quem tem uma mulher ao lado,
seja você macho ou fêmea, tem maior chance de sobressair nos contextos mais
pavorosos. Se não der, fique tranquilo: ela estará com você até o final, embora
algumas exceções fujam a isso, por oportunismo, maledicência e comodismo. Nos
descartam, nos trocam, nos traem, nos fazem morrer pela primeira vez.
Não a uma, mas a todas as mulheres
dedica-se a coluna de hoje. Ao perfume e ao sorriso femininos, que enobrecem a
mulher e nos tornam mais confiantes por estarmos com elas de mãos dadas. À
sensualidade e delicadeza que tomam de assalto o corpo de um homem ou de outra
mulher. A você, mulher, que trabalha em casa, que trabalha fora, que trabalha
lá e cá ou que trabalhou muito e agora descansa, aposentada. A você que briga
com o marido, com o filho, com o namorado, com o genro, com o cunhado, com o
irmão ou com a companheira do mesmo sexo, mas que no fundo os ama
incondicionalmente. Ao beijo, à pele macia e à bondade que teimam em nos
convencer daquilo que sabemos: de que você, mulher de todos os lugares e
idades, é a herança mais humana, doce e bela que desabrochou nesta terra.
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