sexta-feira, 27 de julho de 2012

POR QUE OS HOMENS NÃO CONSEGUEM FAZER DUAS COISAS AO MESMO TEMPO

A pergunta que as mulheres fazem a nós e a si próprias é: por que os homens não conseguem fazer duas coisas ao mesmo tempo? A pergunta retórica, a prova cabal da nossa incapacidade, tem na história, no início de todo esse enredo à que nomeamos de vida, uma contradição. Se Deus apropriou-se de uma das costelas de Adão para originar Eva, a primeira mulher entre todas, simbolicamente o homem está em dois lugares ao mesmo tempo, fazendo isto e aquilo a todo momento. Mas, não. O homem, de fato, não é capaz de fazer duas coisas ao mesmo tempo.

É evidente que os machos mais desenvolvidos irão bradar um caráter evoluído, afirmando não fazerem parte do grupo de inaptos, quase que proprietários de raciocínio aquém. É possível que haja homens capazes de atuar em duas frentes simultaneamente. Porém, de certo, não o farão com a mesma desenvoltura de uma mulher. O resultado final será diferente, menos eficiente, mais errado, sem beleza. O que não justifica atribuir à mulher os afazeres, e sim aprendê-los. Até para que o homem desfaça a regra e passe às realizações duplas: desempenhar uma atividade prática e contemplar as feições da mulher em descanso.

Passemos por algumas dificuldades masculinas. Falar ao telefone e navegar na internet ao mesmo tempo; dirigir e conversar; dirigir, conversar e escolher a música no rádio? Nem pensar. Temperar a carne e cuidar do feijão sobre o fogo aceso; fazer o churrasco e dar atenção ao amigo na conversa sobre a rodada do Brasileirão; fazer algo com a mão direita e usar a esquerda para outra atividade; trocar de roupa e responder à mãe. Talvez em uma única situação o homem consiga fazer duas coisas ao mesmo tempo, mas o pudor excessivo me impede de dizê-la.


O que explica a limitação do homem diante de duas ações conjuntas? Biológica, física e mentalmente deva haver algum traço concreto que inviabilize a duplicidade do homem. De cara, o único fator que explica a defasagem do homem perante a mulher é o curso da história, essa que costuma esclarecer as dúvidas de hoje, mas tão injustamente desprezada porque “o que aconteceu no passado é passado”.

Ao longo da trajetória humana, o homem sempre foi pragmático. Embora tudo convergisse ao seu entorno e dependesse quase que exclusivamente das suas ações, o macho era dono de si e recusava explicações à parceira. Embora era o membro que saía para trabalhar e permitir o sustento da família e, em casa, resguardava pela segurança física e moral de filhos e esposa, era inquestionável. O resultado a quem blindado está ante críticas é o acomodamento, a lentidão, a possibilidade restrita de dar um passo por vez.

A mulher, não. No tempo em que não trabalhava fora, deveria manter a casa limpa, preparar as refeições, zelar pelos filhos, cuidar da roupa e, uma vez ou outra, providenciar na rua o que a casa se mostrava em falta. Não incomum, a maioria dessas obrigações eram feitas conjuntamente, porque era direito do esposo encontrar tudo nos conformes quando regressasse. A própria Igreja foi responsável por preservar a mentalidade da mulher como ser inferior e, acredite, não eram poucas as mulheres que acatavam essa auto-submissão.


E o feminismo veio. As mulheres ditas subversivas foram às ruas, queimaram sutiãs em praça pública e exigiram uma melhor colocação: os mesmos direitos na política, no meio social, no afeto e no sexo. A mulher violou uma imposição de séculos, reivindicou atuar, trabalhar e cansar em demasia, mas em troca teve independência e mais autoridade em relação ao homem. Os conservadores chiaram. As conservadoras, também.

A vocação libertária faz das mulheres mais atuantes, pressuposto para que a atuação paralela seja viável. Se o homem acomoda-se com o fato de ter alguém que faz tudo, regride. Cabe a ele tirar proveito disso, aprender e evitar que ocupe, agora ele, a posição de inferioridade e dependência. À mulher, o desafio de auxiliar o companheiro e ensinar-lhe como chupar cana e assobiar simultaneamente, com aquele jeito delicado e bravo que só a mulher tem. Olha ela aí fazendo duas coisas ao mesmo tempo de novo. 

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