quarta-feira, 25 de julho de 2012

A GLOBO SE LIGA EM VOCÊ. E NAS OLIMPÍADAS?

Extraoficialmente, os Jogos Olímpicos de Londres começam hoje, com partidas, inclusive do Brasil, no futebol feminino. Amanhã, dá-se início à competição masculina, momento em que Neymar e o resto da molecada tentarão, assim como as mulheres, a inédita medalha de ouro, o único título que falta ao time cinco vezes campeão do mundo. A abertura oficial da Olimpíada é sexta, a partir das 17 horas (horário de Brasília), e depois disso serão 17 dias de muita disputa em diversas modalidades.

Para nós, brasileiros acostumados aos fracassos em Jogos Olímpicos, o dado fora dos padrões é que a Globo não transmitirá o evento. A Record pagou 60 milhões de dólares para ter a exclusividade da apresentação em TV aberta, o dobro do que a emissora carioca ofereceu ao COI (Comitê Olímpico Internacional). Resumo: à Globo ficará o direito de transmitir, no máximo, seis minutos (que poderão ser divididos em três programas informativos regulares) de imagens das competições em seus noticiários. Um resquício disso já é observado: mesmo com a proximidade dos Jogos, a emissora pouco divulgou, ainda que sem imagens, inclusive sobre os atletas e equipes do Brasil.

O dilema é grande: negligenciar as Olimpíadas e cometer um deslize jornalístico ou tratar delas e empurrar o seu público à rival? Do ponto de vista da notícia, os Jogos consistem em informações de peso referentes ao jornalismo esportivo, e com as alternativas variadas de acompanhar conteúdos, atualmente é mais difícil enganar o público. Há alguns anos, o que a Globo não transmitia não existia. Hoje, embora ainda soberana, os eventos acontecem, independente da Vênus.


Mas a Globo utilizará só com os seis minutos de imagens e olhe lá. Se o Globo Esporte dura meia hora, não espere que, além dos dois minutos destinados pela Record para a exibição de imagens, Tiago Leifert use outros cinco para falar sobre atletas que brigarão por medalhas logo mais. O limiar da Globo é indigesto, falar ou não do evento, mas a informação está acima de exclusividades ou rivalidades.

O problema é que a emissora dos Marinho costuma escorregar para um lado ou outro. Quando o Pan-americano de 2007, disputado no Rio, foi transmitido pelo canal, os narradores, repórteres e comentaristas fatigaram-se em enaltecer as conquistas brasileiras, como se o Pan fosse referência para alguma coisa. O Brasil foi a Pequim no ano seguinte, só que o sucesso não veio como em 2007. Longe disso. A Globo errou na dose para mais. Quase que certamente, agora errará para menos.

A justificativa dada pelos sacerdotes do jornalismo esportivo global é de que os 30 milhões de dólares oferecidos pela emissora eram o suficiente, e mais do que isso não traria lucro. O fato é que, na Globo, é consenso público que a rival terá prejuízos, posto que os 60 milhões não serão recuperados com cotas de patrocínios. Na Record, é ponto consumado que será possível levantar quase quatro vezes mais do que o valor desembolsado pela exclusividade dos Jogos.


O canal carioca tem algumas cartas na manga. A primeira delas é a transmissão em TV fechada, por assinatura. A Globosat pagou à Record 22 milhões de dólares pelas transmissões. O grupo lançar mão de quantia semelhante à oferecida pela exclusividade, ainda mais para transmissão em canais fechados, soa como arrependimento e um certo desespero. É fato que o número de assinantes de TV paga só cresce, mas ainda incomparável com a audiência dos canais abertos.

Para se ter uma ideia, de acordo com dados da Anatel, são 14,5 milhões de domicílios que contam com TV fechada, ou seja, aproximadamente 48 milhões de brasileiros. Se considerarmos que esse contingente prefere as transmissões dos canais por assinatura, sobraria o triplo dessa cifra cuja única opção é acompanhar as Olimpíadas pela Record. É um desnível considerável.

Os outros dois trunfos da Globo é o Campeonato Brasileiro e Avenida Brasil. Estranhamente, duas práticas se levantam: o Brasileirão-12 não será interrompido durante o evento. Se alguns jogadores irão desfalcar seus times por causa da disputa das Olimpíadas e, com isso, afeta-se o equilíbrio do torneio, o mais recomendado seria interromper a disputa, assim como acontece durante a Copa do Mundo. Os times que não cederam atletas à seleção olímpica, em tese, ficam favorecidos com a continuação do campeonato.

A outra prática é que a novela atingiu o seu ápice justamente a poucos dias do início das Olimpíadas. Se o clímax tivesse vindo antes, cairia na rotina. Se viesse muito em cima dos Jogos, não daria tempo de prender o telespectador. O auge foi colocado no tempo certo. Na atual conjuntura, não seria loucura deixar de ver uma disputa olímpica para presenciar mais uma das vinganças de Rita (ou Nina, sei lá) ante Carminha.


Voltando ao futebol, por exemplo, a Globo já tratou de substituir alguns jogos do Palmeiras por partidas do Corinthians. Tanto o palmeirense quanto o corintiano abandonariam facilmente as Olimpíadas pelos jogos dos seus times. Só que o abandono de alvinegros é em quantidade bem maior do que o alviverde. Durante as noites de quarta e tardes de domingo, a Record não terá vida fácil.

Depois de transmitir com exclusividade os Jogos Mundiais de Inverno (2010), em Vancouver, e os Jogos Pan-americanos (2011), em Guadalajara (México), a Record fecha o tripé das principais competições olímpicas com os Jogos de Londres. Caberá à emissora de Edir Macedo explorar a qualidade das transmissões com bons níveis de som, sinal e imagem, capacidade de narradores, comentaristas e repórteres e, obviamente, a divulgação do evento.

Embora a Globo se desdobre para impedir a supremacia da Record entre os dias 27 de julho e 12 de agosto – o que se apresenta como um desafio dos grandes –, é possível que se observe uma alteração na convergência da audiência a partir de agora. E a missão da Record é essa: fazer com que as Olimpíadas conduzam o público para a emissora e o mantenha fiel mesmo depois de encerrados os Jogos.

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