Extraoficialmente,
os Jogos Olímpicos de Londres começam hoje, com partidas, inclusive do Brasil,
no futebol feminino. Amanhã, dá-se início à competição masculina, momento em
que Neymar e o resto da molecada tentarão, assim como as mulheres, a inédita
medalha de ouro, o único título que falta ao time cinco vezes campeão do mundo.
A abertura oficial da Olimpíada é sexta, a partir das 17 horas (horário de
Brasília), e depois disso serão 17 dias de muita disputa em diversas modalidades.
Para nós,
brasileiros acostumados aos fracassos em Jogos Olímpicos, o dado fora dos
padrões é que a Globo não transmitirá
o evento. A Record pagou 60 milhões
de dólares para ter a exclusividade da apresentação em TV aberta, o dobro do
que a emissora carioca ofereceu ao COI (Comitê Olímpico Internacional). Resumo:
à Globo ficará o direito de
transmitir, no máximo, seis minutos (que poderão ser divididos em três programas informativos regulares) de imagens das competições em seus
noticiários. Um resquício disso já é observado: mesmo com a proximidade dos
Jogos, a emissora pouco divulgou, ainda que sem imagens, inclusive sobre os atletas
e equipes do Brasil.
O dilema é
grande: negligenciar as Olimpíadas e cometer um deslize jornalístico ou tratar
delas e empurrar o seu público à rival? Do ponto de vista da notícia, os Jogos
consistem em informações de peso referentes ao jornalismo esportivo, e com as
alternativas variadas de acompanhar conteúdos, atualmente é mais difícil
enganar o público. Há alguns anos, o que a Globo
não transmitia não existia. Hoje, embora ainda soberana, os eventos acontecem,
independente da Vênus.
Mas a Globo utilizará só com os seis minutos
de imagens e olhe lá. Se o Globo Esporte dura meia hora, não espere que,
além dos dois minutos destinados pela Record
para a exibição de imagens, Tiago Leifert use outros cinco para falar sobre
atletas que brigarão por medalhas logo mais. O limiar da Globo é indigesto, falar ou não do evento, mas a informação está
acima de exclusividades ou rivalidades.
O problema é que
a emissora dos Marinho costuma escorregar para um lado ou outro. Quando o
Pan-americano de 2007, disputado no Rio, foi transmitido pelo canal, os
narradores, repórteres e comentaristas fatigaram-se em enaltecer as conquistas
brasileiras, como se o Pan fosse referência para alguma coisa. O Brasil foi a
Pequim no ano seguinte, só que o sucesso não veio como em 2007. Longe disso. A Globo errou na dose para mais. Quase que
certamente, agora errará para menos.
A justificativa
dada pelos sacerdotes do jornalismo esportivo global é de que os 30 milhões de
dólares oferecidos pela emissora eram o suficiente, e mais do que isso não
traria lucro. O fato é que, na Globo,
é consenso público que a rival terá prejuízos, posto que os 60 milhões não
serão recuperados com cotas de patrocínios. Na Record, é ponto consumado que será possível levantar quase quatro
vezes mais do que o valor desembolsado pela exclusividade dos Jogos.
O canal carioca
tem algumas cartas na manga. A primeira delas é a transmissão em TV fechada,
por assinatura. A Globosat pagou à Record 22 milhões de dólares pelas
transmissões. O grupo lançar mão de quantia semelhante à oferecida pela
exclusividade, ainda mais para transmissão em canais fechados, soa como
arrependimento e um certo desespero. É fato que o número de assinantes de TV
paga só cresce, mas ainda incomparável com a audiência dos canais abertos.
Para se ter uma ideia,
de acordo com dados da Anatel, são 14,5 milhões de domicílios que contam com TV
fechada, ou seja, aproximadamente 48 milhões de brasileiros. Se considerarmos
que esse contingente prefere as transmissões dos canais por assinatura,
sobraria o triplo dessa cifra cuja única opção é acompanhar as Olimpíadas pela
Record. É um desnível considerável.
Os outros dois
trunfos da Globo é o Campeonato
Brasileiro e Avenida Brasil.
Estranhamente, duas práticas se levantam: o Brasileirão-12 não será
interrompido durante o evento. Se alguns jogadores irão desfalcar seus times
por causa da disputa das Olimpíadas e, com isso, afeta-se o equilíbrio do
torneio, o mais recomendado seria interromper a disputa, assim como acontece
durante a Copa do Mundo. Os times que não cederam atletas à seleção olímpica,
em tese, ficam favorecidos com a continuação do campeonato.
A outra prática é
que a novela atingiu o seu ápice justamente a poucos dias do início das Olimpíadas.
Se o clímax tivesse vindo antes, cairia na rotina. Se viesse muito em cima dos
Jogos, não daria tempo de prender o telespectador. O auge foi colocado no tempo
certo. Na atual conjuntura, não seria loucura deixar de ver uma disputa
olímpica para presenciar mais uma das vinganças de Rita (ou Nina, sei lá) ante
Carminha.
Voltando ao
futebol, por exemplo, a Globo já
tratou de substituir alguns jogos do Palmeiras por partidas do Corinthians.
Tanto o palmeirense quanto o corintiano abandonariam facilmente as Olimpíadas
pelos jogos dos seus times. Só que o abandono de alvinegros é em quantidade bem
maior do que o alviverde. Durante as noites de quarta e tardes de domingo, a
Record não terá vida fácil.
Depois de
transmitir com exclusividade os Jogos Mundiais de Inverno (2010), em Vancouver,
e os Jogos Pan-americanos (2011), em Guadalajara (México), a Record fecha o tripé das principais
competições olímpicas com os Jogos de Londres. Caberá à emissora de Edir Macedo
explorar a qualidade das transmissões com bons níveis de som, sinal e imagem,
capacidade de narradores, comentaristas e repórteres e, obviamente, a
divulgação do evento.
Embora a Globo se desdobre para impedir a
supremacia da Record entre os dias 27
de julho e 12 de agosto – o que se apresenta como um desafio dos grandes –, é
possível que se observe uma alteração na convergência da audiência a partir de
agora. E a missão da Record é essa:
fazer com que as Olimpíadas conduzam o público para a emissora e o mantenha
fiel mesmo depois de encerrados os Jogos.
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